Mais da metade dos candidatos a prefeito em cidade da Grande SP é "doutor"

Brunno Carvalho*

Do UOL, em São Paulo

  • Apu Gomes/Folhapress

Sete dos 13 candidatos à Prefeitura de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, trazem em comum a alcunha de "doutor(a)". Entre médicos e advogados, mais da metade dos postulantes ao cargo optou por usar o título em seu nome que aparecerá na urna eletrônica.

O "fenômeno" dos doutores em Itaquaquecetuba teve início apenas no atual pleito. Nas eleições anteriores, os números não eram tão chamativos na cidade com 223.323 eleitores. Em 2012, dois dos cinco candidatos usam a alcunha. O número foi menor em 2008 (um em seis) e nulo em 2004, quando a corrida pela prefeitura contou com cinco postulantes.

Para o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP), é provável que vários desses candidatos tenham algum tipo de trabalho social que os tornam conhecidos na cidade como 'doutor'. "Adotar qualquer outro nome não faria sentido. O que faz sentido é usar o nome que o torna conhecido dos demais. Usar essa alcunha é fazer as pessoas lembrarem quem eles são".

O uso constante das alcunhas de "doutor", "pastor", "major", entre outras - vistas não apenas na urna eleitoral, mas no dia a dia - é o que Couto considera o principal ponto a ser discutido.

"Isso existe no dia a dia pelo fato de que vivemos em uma sociedade desigual, em que indivíduos usam essa alcunha quase como uma distinção. E isso acaba sendo levado para a eleição também"

O que dizem os doutores

Em contato com o UOL, a campanha do candidato Dr. Mamoru Nakashima (PSDB), atual prefeito, justificou o uso da alcunha pelo fato de o médico ginecologista ser conhecido na cidade. "A decisão de aderir ao atributo tem relação com a sua profissão e na forma como é reconhecido pelas pessoas".
 
O Dr. Adervaldo do Cursinho (PSOL) também usou a mesma justificativa. "Não é que a gente faça questão do título. Como atuo na cidade como advogado há dez anos, as pessoas me conhecem como doutor. Por isso a gente acabou usando mais como uma forma de ser lembrado, de ser referência. Se a gente sai simplesmente com o nome 'Adervaldo', provavelmente podem não lembrar", disse.
 
A assessoria do partido de Dra. Rosangela Coelho (PMB) pediu as perguntas por e-mail, mas as respostas não chegaram até a publicação desta notícia. A reportagem já havia entrado em contato com a secretária da candidata, mas também não obteve resposta.
 
Os outros quatro candidatos e os respectivos diretórios partidários de Dra. Adriana da Costa (PSB), Dr. Ronaldo (PRB), Dr. Gilson (PPL) e Dr. Roque (PSD) não atenderam às ligações do UOL, feitas repetidas vezes desde o começo da tarde de sexta-feira (30).
 
Os candidatos da cidade em 2016 que não usam doutor no nome de urna são: Silvani (PP), Wilson Garcia (PV), Cloves Lisboa (PMN), Delegado Eduardo Boigues (PTdoB), Ney Variedades (PRP) e Ti Filho do Armando da Farmácia (PR).

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* Colaboraram Márcio Padrão e Nathan Lopes

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