João Doria Jr. (PSDB) é eleito prefeito de São Paulo no 1º turno
Do UOL, em São Paulo
João Doria Júnior (PSDB), um novato em eleições, foi eleito no primeiro turno prefeito de São Paulo, maior cidade do país, neste domingo (2). Com isso, pela segunda vez, o PSDB comandará a Prefeitura paulistana, dez anos após José Serra abandonar o cargo, antes da metade do mandato, para disputar a eleição para governador.
O tucano é o primeiro a vencer a corrida paulistana sem disputar o segundo turno desde a redemocratização. Com 100% das urnas apuradas, Doria obteve 53,3% dos votos válidos contra 16,7% do atual prefeito, Fernando Haddad (PT). Celso Russomanno (PRB) ficou em terceiro com 13,6%, seguido por Marta Suplicy (PMDB), 10,1%, e Luiza Erundina (PSOL), 3,2%.
Empresário e apresentador de programa de TV, Doria estreou em uma eleição contando com o apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB), e acabou tendo uma ascensão surpreendente nas pesquisas de intenção de voto a partir de setembro.
Em seu discurso de vitória, na sede municipal do PSDB em São Paulo, Doria fez questão de homenagear lideranças históricas tucanas, como os ex-governadores do Estado André Franco Montoro e Mario Covas, e de lançar a candidatura de Alckmin à Presidência da República, em 2018.
Mais cedo, poucos minutos antes da confirmação da vitória, Doria disse que tinha recebido um telefonema de Haddad para parabeniza-lo e declarou que vai fazer uma gestão para todos os paulistanos e não direcionada apenas àqueles que nele votaram.
"Queria agradecer aos que me delegaram, e também àqueles que não me delegaram. Vou governar para todos.
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"São Paulo não é dos paulistas, é de todos os brasileiros." Ele se comprometeu a "trabalhar muito" para devolver um papel de protagonismo à cidade: "Não estou fazendo crítica a ninguém. Vamos recolocar São Paulo no lugar que ela merece."
Doria prometeu ainda uma atitude "republicana" na sua relação com a Câmara Municipal.
"Sempre acreditei, com muita humildade. Nunca desrespeitei os candidatos. Minha vida toda foi construída assim. Comecei do zero a campanha, comecei com 3 pontos [nas pesquisas]. É agora muita responsabilidade, e quero agradecer aos que me delegaram esse voto de confiança.
Na véspera da votação do 1º turno, as últimas pesquisas Ibope e Datafolha de intenções de voto para prefeitura de São Paulo mostravam que Doria disparava na liderança e que a segunda vaga no 2º turno poderia ser disputada por três candidatos: Haddad, Russomanno e Marta. No Datafolha, Doria tinha 44% das intenções de votos válidos; no Ibope, aparecia com 35%. Os votos válidos excluem os brancos e nulos, além dos entrevistados que não souberam ou não responderam.
A eleição do tucano logo no primeiro turno marca a derrota do Partido dos Trabalhadores, que, até então, estivera presente em todas as eleições com disputa em segundo turno realizadas na cidade.
O deputado federal Celso Russomanno repetiu a trajetória da eleição de 2012: depois de liderar as pesquisas de intenção de voto durante parte da corrida eleitoral, passou a cair e não conseguiu levar a disputa para o segundo turno.
A senadora e ex-prefeita Marta Suplicy não conseguiu reeditar os bons desempenhos das eleições de 2000, 2004 e 2008, quando era filiada ao PT e conseguiu passar para o segundo turno.
A deputada federal Luiza Erundina (PSOL), outra ex-prefeita da cidade, também não teve sucesso.
Trajetória de Doria
João Agripino da Costa Doria Júnior tem 58 anos, é paulistano, casado com a artista plástica Bia Doria e tem três filhos.
A coligação de Doria, chamada de "Acelera SP", é a maior da eleição paulistana, com 13 partidos. Além dos tucanos, a aliança conta com PPS, PV, PSB, DEM, PMB, PHS, PP, PSL, PT do B, PRP, PTC e PTN. Com isso, Doria teve o maior tempo de propaganda no rádio e na TV no primeiro turno e conseguiu uma arrancada na campanha. De acordo com o Datafolha, ele tinha somente 5% das intenções de voto no fim de agosto.
Em sua primeira eleição, o empresário procurou dizer que não é político, mas que já ocupou cargos no Poder Executivo. Foi secretário de Turismo da Prefeitura de São Paulo na gestão Mario Covas (1983-1986), que na época era filiado ao PMDB, e presidente da Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) de 1986 a 1988, no governo José Sarney (PMDB).
Eu não sou um político. Respeito os políticos, mas sou um administrador, um gestor"
João Doria Jr.
Doria filiou-se ao PSDB em 2001. Seu candidato a vice é o deputado federal Bruno Covas (PSDB), neto do ex-governador Mario Covas.
Na TV, já comandou o reality show "O Aprendiz" e vinha apresentando o programa "Face a Face" na Band News TV. É disparado o candidato a prefeito de São Paulo com maior patrimônio declarado à Justiça Eleitoral. Seus bens declarados à Justiça Eleitoral somam R$ 180 milhões.
O empresário foi o maior doador da própria campanha, com um repasse pessoal de R$ 2,9 milhões, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ele teve também o maior deficit na contabilidade de campanha: R$ 6,9 milhões, sendo que declara ter arrecadado R$ 6,3 milhões em doações.
Promessas e problemas do tucano
Doria promete estender o horário de funcionamento dos postos de saúde para a noite e a madrugada e transformar as subprefeituras regionais em prefeituras dotadas de orçamentos próprios e com prefeitos indicados por ele. Também propõe elevar a velocidade máxima permitida nas marginais e ceder à iniciativa privada a administração do estádio do Pacaembu, do autódromo de Interlagos, do Anhembi e de cemitérios.
A vitória nas prévias do PSDB para conquistar o direito de ser candidato provocou um racha no partido. O resultado foi contestado pelo vereador Andrea Matarazzo, que acabou migrando para o PSD e foi candidato a vice na chapa de Marta Suplicy (PMDB).
Na ocasião, Matarazzo acusou Alckmin de usar a máquina do Estado para beneficiar Doria. "Não tem espaço para mim no partido que coaduna com a compra de votos, com abuso de poder econômico e com o tipo de manobras que fizeram", declarou o vereador.
O apoio de Alckmin a Doria virou alvo do Ministério Público, que pediu à Justiça Eleitoral a cassação da candidatura do empresário e punição ao governador por abuso de poder político.
A gestão Alckmin foi anunciante das revistas publicadas pela editora de Doria, que defende a candidatura do governador a presidente em 2018. Figuras importantes do PSDB, como o ministro José Serra, não demonstram apreço pela candidatura de Doria. O ex-governador Alberto Goldman, vice-presidente nacional da legenda, usou, inclusive, seu blog para fazer duras críticas ao candidato. Afirmou, por exemplo, que as empresas do candidato fazem "atividade lícita que se chama de lobby".
Durante a campanha, o candidato voltou a enfrentar problemas dentro do partido. O presidente do Tucanafro, Eloi Estrela, líder da militância negra tucana na cidade, criticou a proposta de Doria de extinguir a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial. Insatisfeitos com a candidatura do empresário, grupos de filiados lançaram um movimento de apoio à chapa de Marta e Matarazzo.
Doria enfrentou mais um problema judicial nas últimas semanas. A Justiça determinou que ele devolvesse à Prefeitura de Campos do Jordão, no interior de São Paulo, uma área pública da qual havia se apropriado. Segundo a defesa do candidato, a área foi ocupada há 20 anos, após um acordo com a prefeitura em troca de um gerador de energia. Durante a campanha, Doria afirmou que a área seria devolvida.
Cidade
São Paulo tem uma população de 12 milhões, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Também de acordo com o instituto, o PIB (Produto Interno Bruto) da cidade era de R$ 571 bilhões em 2013, o valor mais alto do país.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da capital paulista é de 0,805, o que a deixa na 28ª colocação entre os 5.565 municípios do país avaliados. O IDH é composto por indicadores de renda, longevidade e educação. São Paulo destaca-se mais no índice de renda, no qual aparece em 15º lugar na classificação nacional.
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