O petista, o anti e o arrependido: pontos de vista sobre o PT no ABC
Aiuri Rebello
Do UOL, em São Paulo
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Arte/UOL
Como o berço histórico do PT é em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, a reportagem do UOL foi até a região para ouvir o militante do PT Juno Rodrigues Silva, também conhecido como Gijo; o ex-petista Maurício Soares e o anti-petista "de nascença" Júnior Moreira. Os três oferecem pontos de vista diferentes sobre a legenda, veja a seguir:
O petista
Aos 72 anos, o dono de restaurante Juno Rodrigues Silva, mais conhecido em São Bernardo do Campo como Gijo, é um petista convicto. Todas as semanas, afirma o comerciante, envia para a casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um de seus pratos favoritos e especialidade do restaurante, a chuleta grelhada.
"Estive com ele na semana passada. Está cansado, mas otimista", afirma, cerca de três semanas antes do primeiro turno da eleição municipal. Ex-metalúrgico, Gijo diz que recebe políticos de todos os matizes ideológicos e afiliações partidárias em seu restaurante, mas faz questão de mostrar que seu voto e coração são do Partido dos Trabalhadores --ao qual é filiado desde a década de 1980.
Há diversas fotos com políticos e lideranças sindicais espalhadas pelo restaurante. Até hoje, Gijo considera-se um militante de esquerda e faz campanha a pé de porta em porta pelas ruas da cidade. Veja trechos da conversa com o comerciante:
Sou amigo do Lula e petista há mais de 40 anos. Mesmo recentemente, com essa onda anti-petista e de ódio ao PT, nunca tive problemas com isso. Recebo simpatizantes e político de qualquer partido no meu restaurante e são todos muito bem-vindos.
Ultimamente ouço muita reclamação sobre a Dilma, o Lula e o PT. Está todo mundo muito decepcionado. Pedem para eu tirar as fotos da parede… Acho que houve erros enormes, desonestidade no caso da Petrobras, mas não adianta demonizar o partido que nem anda acontecendo, porque tenho convicção de que os outros são piores.
O PT fez muita coisa pelo país. Ainda tem uma militância muito forte, mas que está adormecida com tudo o que aconteceu. Assim que os militantes despertarem, ninguém segura o partido.
O antipetista
O líder do MBL (Movimento Brasil Livre) em São Bernardo do Campo e candidato pelo PSDB a vereador Júnior Moreira, 38, define-se como um antipetista de nascença. Ele conta que cresceu vendo o desemprego e fechamento de empresas causados pelas greves promovidas pelo então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com o que lhe explicava na época seu pai.
Ele é assessor há 14 anos do candidato tucano à prefeitura da cidade nestas eleições, Orlando Morando. É militante "fervoroso" contra o PT e costuma se dedicar a fazer denúncias de supostas irregularidades promovidas pelos rivais —cerca de dois meses atrás, ele protocolou na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicação) uma denúncia contra uma rádio-pirata petista que estaria transmitindo programação de campanha de candidatos do PT e difamando rivais na cidade. Ainda não obteve resposta da agência reguladora.
Veja trechos da conversa com o candidato a vereador:
Graças a Deus nunca fui petista e nem ninguém da minha família.
Não acho que os trabalhadores devam ter raiva dos empresários. São eles que investem, criam empregos e renda. Sem empresário não tem trabalho. O PT sempre foi forte em São Bernardo do Campo e cresceu muito depois do Lula ser presidente, mas nunca passou de cerca de 30% de eleitores fiéis. Este ano vamos derrubar eles, estão com uma rejeição enorme.
O petista arrependido
Um dos fundadores do partido, Maurício Soares, hoje com 77 anos, foi eleito prefeito da cidade pelo PT e governou até 92. Em 1997, já no PSDB, foi prefeito novamente. Antes do fim do mandato, trocou a sigla pelo PPS e reelegeu-se para o período 2001-2004. Cerca de dois anos depois brigou e entrou para o PSB.
No fim do segundo ano de mandato, em 2002, licenciou-se por problemas de saúde e não voltou. Em 2008, voltou ao PT e fez parte do governo do Luiz Marinho até este ano, quando rompeu novamente com o PT e entrou no PHS. Desde que saiu da sigla e deixou o cargo, é um dos mais ferozes críticos ao petismo no ABC atualmente.
Soares diz que não gostou do "autoritarismo" da direção petista, e ficou insatisfeito por ter sido preterido na coordenação da campanha municipal deste ano. Atualmente, faz campanha para o candidato do PSDB, Orlando Morando, de quem chegou a anunciar na pré-campanha que seria vice, cargo que acabou ficando com Marcelo Lima (SD). Veja trechos da entrevista com o ex-prefeito:
Voltei ao PT e tentei até o final do ano passado. Insisti muito na depuração e que acabasse o processo de corrupção endêmica. Não aguentei mais enxugar gelo, sai e decidi apoiar o Orlando [Morando].
Acho que todo brasileiro está decepcionado com o PT, principalmente quem acreditava que eles iriam mudar o país, como eu. Fui a favor do impeachment, a Dilma estava acabando com o Brasil, e era necessário que ela saísse de lá. Agora, trabalho para tirarmos essa praga que é o PT de São Bernardo do Campo para sempre e voltarmos a ter esperança de uma vida melhor.
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