4 de 10 vereadores denunciados por corrupção são reeleitos em Florianópolis
Aline Torres
Colaboração para o UOL, em Florianópolis
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Divulgação
Da esquerda para direita: os vereadores reeleitos Dinho Rosa, Dalmo Meneses, Marcelo da Intendência e Roberto Katumi
Em 2014, a Polícia Federal revelou um amplo esquema de corrupção que envolvia metade dos vereadores da Câmara de Florianópolis. Em setembro deste ano, dez vereadores --todos candidatos a um novo mandato-- foram denunciados pelo Ministério Público. Destes, quatro foram reeleitos neste domingo (2).
Os reeleitos foram:
- Marcelo da Intendência (PP) - 3.162 votos
- Roberto Katumi (PSD) - 2.988 votos
- Dalmo Meneses (PSD) - 2.670 votos
- Dinho da Rosa (PMDB) - 2.400 votos.
Juntos somaram 3,8% dos votos válidos. Ao todo, há 23 cadeiras na Câmara.
Meneses é o vereador mais antigo da casa, é funcionário público aposentado da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento e foi eleito pela sexta vez. De acordo com seu gabinete, ele anunciou que não tem interesse em falar com a reportagem sobre a Operação Ave de Rapina.
Rosa, o Dinho, foi eleito pela terceira vez. Também é funcionário público aposentado. Ele declarou que foi prejudicado pela denúncia.
"Certamente perdi votos. Mas as pessoas que me conhecem me deram uma chance para provar minha inocência. Sou uma pessoa humilde. Ando no meio do pobre. Dediquei minha vida inteira a coisa pública. E tive muito êxito. Sou reconhecido nas comunidades. Essa operação não me diz respeito. E será provado na Justiça que tenho a consciência tranquila", disse Dinho.
Katumi tem um visão é diferente. Para ele a nova eleição não tem relação com seus quatro anos anteriores de governo.
"Vou responder a essa denúncia ridícula e provar minha inocência. Mas, essa relação não tem nada a ver. Não faz sentido. O que foi feito lá atrás será analisado e julgado, quem me elegeu agora foi para 2017", afirmou Katumi.
Intendência fez uma avaliação semelhante. "O resultado na eleição foi totalmente independente do processo. Nem sei se o juiz vai aceitar a denúncia", disse.
Rejeitados nas urnas
Entre os outros seis vereadores denunciados que não foram reeleitos, o que teve uma queda mais brusca no ranking eleitoral foi Marcos Aurélio Espíndola, o Badeko (PHS). Em 2012, ele ficou em 5° lugar com 3.483 votos. Nesta eleição, caiu para 50ª posição, com menos da metade dos votos anteriores.
Badeko foi denunciado por corrupção passiva e organização criminosa. Segundo o Ministério Público ele é o articulador do esquema. O parlamentar foi preso em novembro de 2014 e ficou dez meses afastado da função.
No madruga deste domingo (2), a Polícia Federal informou que seus cabos eleitoras estavam comprando votos em troca de abastecimento em um posto de gasolina. A Justiça Eleitoral ainda não definiu se abrirá um inquérito sobre o caso. O parlamentar não retornou as ligações da reportagem.
Entenda a Operação Ave de Rapina
A Operação Ave de Rapina, da Polícia Federal, aconteceu entre novembro de 2013 e julho de 2015 e investigou a existência de grupos criminosos que cometeram fraudes em órgãos municipais. O prejuízo aos cofres públicos foi estimado em R$ 30 milhões.
A investigação se desdobrou em quatro eixos --o primeiro apurou crimes no Projeto de Lei Cidade Limpa. As denúncias encaminhadas à Justiça são especificamente sobre esse caso.
O objetivo da lei era conservar a paisagem da cidade retirando outdoors e outros tipos de mídia externa, vistas como poluidoras. Mas, a operação indicou que o projeto foi desfigurado para que os vereadores recebessem verbas dos empresários da mídia.
O Cidade Limpa não saiu do papel. Dezessete empresários foram denunciados por subornarem os parlamentares, evitando a aprovação da lei. As propinas giram em torno de R$ 500 mil.