Na TV, Freixo aposta em biografia; Crivella quer explorar "visões opostas"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • Montagem UOL

    Crivella (à esq.) e Freixo (à dir.): um deles será o próximo prefeito do Rio

    Crivella (à esq.) e Freixo (à dir.): um deles será o próximo prefeito do Rio

A propaganda eleitoral dos candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro voltará a ser exibida na TV nesta segunda-feira (10) às 13h e às 20h30. A duração de cada programa é de 20 minutos, tempo dividido igualmente entre Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL).

As duas chapas revelaram ao UOL estratégias distintas para o segundo turno. Mais conhecido do público, Crivella deve explorar as "visões opostas" entre os concorrentes, e Freixo aproveitará o espaço nas emissoras de TV para investir, sobretudo, em sua apresentação pessoal.

A data de início do horário político foi definida pelo TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) na última quinta-feira (6). Crivella e Freixo concordavam que o tempo de propaganda eleitoral deveria ser reduzido para cinco minutos em cada bloco, totalizando dez minutos por dia para cada pleiteante, mas a proposta sequer foi apresentada ao juiz Marcelo Rubioli, responsável pela fiscalização. Isso porque o magistrado já havia se posicionado publicamente contra a mudança.

O plano de mídia do TRE-RJ também prevê a veiculação do horário político nas emissoras de rádio, nos mesmos moldes em relação à televisão, e mais 70 minutos de inserções diárias no rádio e na TV, sendo 35 para cada um.

Freixo aposta em biografia

Freixo aproveitará o retorno do horário eleitoral na TV para se "apresentar" aos cidadãos, em especial o da zona oeste, região onde ele teve poucos votos. Segundo o candidato, toda a parte de biografia já foi gravada, e o material será reforçado com a repetição, já nesta primeira semana, do jingle de campanha.

Há boa expectativa por parte da equipe de Freixo em relação ao efeito do jingle, gravado por Chico Buarque, Caetano Veloso e outros artistas.

Ernesto Carriço/Estadão Conteúdo
Chico Buarque (à esq.) participou da campanha de Freixo já no primeiro turno

"A gente está gravando todos os dias, não é fácil sair de 11 segundos para dez minutos. A ideia é que eu possa ser apresentado. A gente parte do princípio que muita gente não nos conhece. E é verdade, sobretudo nos lugares onde a gente não teve uma boa votação. É desconhecimento. Então eu preciso ser apresentado, dizer quem eu sou, o que a gente pensa, quem apoia e com quem a gente vai governar. Tem uma biografia e um pouco mais de apresentação para que as pessoas nos conheçam."

Freixo afirmou considerar que o espaço na TV pode "mudar completamente" o cenário eleitoral apresentado pela primeira pesquisa do segundo turno, feita pelo Datafolha e divulgada na quinta (6). De acordo com a amostra, Crivella tem 44% das intenções de voto, 17 pontos percentuais a mais do que o adversário do PSOL, que registrou 27%.

O estudo aponta ainda que 18% dos entrevistados declararam que vão votar em branco ou nulo. Outros 10% afirmaram não saber em quem votar. Considerando apenas as intenções de votos válidos, que excluem brancos e nulos, Crivella tem 62% contra 38% de Freixo.

"Crivella já é bastante conhecido, participou de muitas campanhas e já tinha um tempo razoável de televisão. Ao contrário da gente. As próximas pesquisas certamente vão apontar um resultado mais equilibrado."

Freixo afirmou que, passada a fase de apresentação, a ideia é começar a gravar programas temáticos, que explorem assuntos como saúde, educação e cultura, e permitam que ele divulgue os detalhes de seu programa de governo.

O candidato a prefeito disse descartar a possibilidade de usar o espaço na TV para "desmentir boatos". Segundo ele, a opção estratégica em face dos ataques recebidos por meio das redes sociais e de outras plataformas foi o lançamento de um site temático.

Na última quinta, dia da estreia da página, houve cerca de 50 mil acessos, afirmou Freixo. "Desmentir boatos, não. Nada melhor do que apresentar."

Ao me apresentar, as pessoas vão entender ali que essas coisas não fazem o menor sentido.

Marcelo Freixo

Crivella, que também foi alvo de boatos espalhados na internet, usa uma estratégia semelhante. No site oficial do candidato, há um link para uma seção denominada "boatos", onde são listadas "verdades e mentiras". Na última sexta (7), o UOL publicou uma reportagem que mostra o que é verdade e o que é boato na "batalha virtual" do segundo turno.

"Visões opostas"

Marcello Faulhaber, coordenador de pesquisa e estratégia da candidatura de Marcelo Crivella, afirmou ao UOL que o segundo turno terá uma campanha mais "propositiva", centrada na divulgação de propostas e ações sugeridas para temas mais relevantes como saúde, educação e segurança pública.

Na primeira fase do pleito, segundo ele, o concorrente do PRB concentrou forças em desmistificar o que ele considera ser uma "imagem deturpada" do candidato --que é bispo licenciado da Igreja Universal. Em diversos momentos da campanha eleitoral, seus adversários bateram nessa tecla.

Pablo Jacob / Ag. O Globo
No primeiro turno, o foco foi desvincular a imagem de Crivella da Igreja Universal

"Quem tem rejeição ao Crivella não sabe do passado dele. Acha que ele é simplesmente um representante da Igreja Universal. Vamos continuar falando dos atributos e da trajetória de vida dele, o que é importante, mas também vamos falar dos problemas da cidade e sobre os diagnósticos que a gente propõe para cada um desses problemas", explicou.

Faulhaber declarou ainda que Crivella e Freixo se respeitam "mutuamente" e que "há uma admiração mútua em relação à trajetória de cada um". No entanto, a estratégia do candidato também vai abordar as "visões opostas" entre eles, além da diferença quanto a "questões comportamentais".

"Os dois têm visões diametralmente opostas e isso vai ser exposto na dinâmica da campanha. As questões comportamentais também são importantes, sim. Mas ainda mais importante do que isso é a visão em relação ao papel da prefeitura", disse.

Na avaliação de Crivella e sua equipe, o programa de governo de Freixo coloca a prefeitura "como se fosse um fim em si mesmo" e seria dotado de um raciocínio "estatizante", o que poderia criar problemas em relação a parcerias com a iniciativa privada.

"O senador entende que o setor privado é importantíssimo para a cidade, pois são as empresas que efetivamente geram os empregos", disse Faulhaber. "O contrário da política ruim não é a 'não política', e sim a política boa. O Freixo costuma dizer que 'quem quer governar para todos não governa para ninguém'. Mas nós pensamos diferente e acreditamos que é possível, sim, governar para todos, incluindo todas as matizes ideológicas e religiosas."

Faulhaber também pontuou duas questões que marcariam, na avaliação dele, diferenças importantes entre o pensamento de Crivella e o de Freixo: a segurança pública e a relação com a Câmara de Vereadores.

Acreditamos que a segurança pública é uma pauta muito importante e vamos mudar o papel da guarda municipal.

Marcello Faulhaber, coordenador de pesquisa e estratégia da candidatura de Crivella

"Não queremos que a guarda continue como nos últimos oito anos, limitando-se a multar pessoas e carros, além de combater o comércio informal. A guarda vai aturar na questão da segurança e da ordem pública. No programa de governo do Freixo, a gente não vê ele falando esse tipo de coisa", comentou.

Saiba como foi o debate entre Marcelo Freixo e Marcelo Crivella

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