Freixo recebe apoio de partidos, mas Crivella conquista políticos de peso
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
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Wilton Junior/Estadão Conteúdo
A partir da esq., Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) no debate da Band
Por um lado, Marcelo Crivella (PRB) lidera as pesquisas de intenção de voto desde o começo da campanha eleitoral, mas chega ao segundo turno da disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro sem atrair para sua campanha, ao menos formalmente, alguns dos principais partidos envolvidos no pleito. Por outro, o candidato conta com o apoio de lideranças políticas de peso no Rio.
Alguns destes nomes são de partidos que se declararam neutros no segundo turno ou que ainda não manifestaram uma posição formal. E há quem apoie Crivella mesmo integrando um partido que, oficialmente, declarou apoio a Marcelo Freixo (PSOL).
No primeiro turno, as coligações partidárias são importantes para definir o tempo que cada candidato terá na TV. Crivella, com três partidos coligados, teve um minuto e 11 segundos. Freixo, que contou com o apoio do PCB, teve 11 segundos. No segundo turno, os candidatos têm tempos iguais na TV, independentemente das coligações.
Assim, o apoio de candidatos derrotados no primeiro turno pode ser determinante para a migração dos votos. Por esse aspecto, Crivella largou na frente. Flávio Bolsonaro (PSC), que teve 424.307 votos e acabou na quarta colocação, declarou que votará no senador.
O PSC não anunciou, no entanto, uma posição partidária. E Bolsonaro diz que abrir o voto não é o mesmo que apoiar o candidato do PRB. "Não vamos entrar na campanha de ninguém, panfletar, aparecer em programa eleitoral", explicou.
O terceiro colocado, Pedro Paulo (PMDB), disse, em pronunciamento logo após o resultado, que o PMDB poderia vir a não apoiar nenhuma candidatura no segundo turno. "Devo me posicionar, obviamente, ouvindo os partidos que fizeram parte da minha aliança, mas vejo com extrema incompatibilidade as duas candidaturas que foram para o segundo turno. Ficou claro que defendem o diferente do que fizemos por essa cidade nesta administração", afirmou.
Jandira Feghali (PCdoB), já no domingo de votação, anunciou seu apoio a Marcelo Freixo, assim como o candidato da Rede, Alessandro Molon.
No PSDB, que lançou Carlos Osorio à prefeitura, a posição oficial é de neutralidade. Por sua vez, o deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ), presidente da Executiva Estadual da legenda, já manifestou que está com Crivella.
"A decisão [pela neutralidade] preserva a unidade do partido. O importante é que a infinita maioria da militância vai apoiar e fazer campanha pelo Crivella, pois há um mal maior a vencer, que é o PSOL", disse Leite.
O PSD, de Indio da Costa, até agora não anunciou sua posição para o segundo turno. O candidato, porém, já formalizou seu apoio a Crivella, com a condição de que o ex-governador Anthony Garotinho (PR) não participe da campanha e de um possível governo, caso o senador seja eleito.
Ainda há o caso do PSB, que tinha Hugo Leal como vice na chapa de Indio da Costa e cuja Executiva Nacional decidiu apoiar Freixo. No entanto, o nome mais forte do partido no Rio, o senador Romário, faz campanha para Crivella desde o primeiro turno.
Vereadores
O PSOL fez chapa com o PCB no primeiro turno e teve dois vereadores entre os cinco mais votados: Tarcísio Motta e Marielle Franco. No segundo turno, tem o endosso formal de PT, PCdoB, PSB, PSTU, Rede, PV e PPL -- sem, no entanto, conquistar declarações pessoais de quadros de quase todos os partidos citados. A exceção é a Rede, com o senador Randolfe Rodrigues (AP) e o vereador carioca Jefferson Moura, que se reuniram com Freixo para declarar seu apoio ao candidato.
Já no DEM, que fez parte da coligação de Pedro Paulo, os militantes "têm total liberdade para decidir", disse o vereador reeleito Cesar Maia, presidente da Executiva Municipal do partido.
"O fato de o DEM não ter tido candidato próprio a prefeito no primeiro turno, e ter se concentrado nos vereadores, explica nossa posição", afirmou o ex-prefeito. Ao UOL, Cesar Maia, que foi o terceiro vereador mais votado do Rio, já havia dito que pretende se posicionar a favor de um dos candidatos apenas na reta final do segundo turno.
No PMDB, o presidente do partido no Estado, Jorge Picciani, também defendeu que a legenda deveria ficar neutra. Entretanto, o presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe, declarou apoio a Crivella nesta terça (11). A vereadora Rosa Fernandes --a quarta mais votada nesta eleição e reeleita para o sétimo mandato-- fez o mesmo no domingo (9).
Segundo a assessoria de imprensa de Crivella, os apoios conquistados no segundo turno vieram "naturalmente", com o PSD e o PSDB sendo os únicos partidos formalmente procurados pelo candidato do PRB. Ele conversou com Gilberto Kassab --presidente do PSD e ministro de Ciência e Tecnologia e Comunicações do governo Michel Temer (PMDB)-- e Otavio Leite.
"Vale mais o apoio do Romário que o do PSB"
De acordo com o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, o apoio das lideranças é mais importante que o dos partidos.
"Vale mais o apoio do Romário que o do PSB", afirmou. "O que é importante são as lideranças. Principalmente para o Freixo, seria importante ter apoios como a Rosa Fernandes e o Romário. O Crivella já fala para o voto popular." O PSOL, partido de Freixo, teve dois vereadores entre os cinco mais votados neste ano: Tarcísio Motta e Marielle Franco.
A decisão de alguns partidos de não se posicionar no segundo turno do Rio pode ter a ver com a "situação delicada" da prefeitura após os grandes eventos na cidade, disse o professor.
"O ciclo positivo de Copa e Olimpíadas se esgotou. O cálculo de apoiar agora significa apoiar depois [da eleição]. Talvez para alguns seja melhor ficar de fora, se preservando de um problema que possa surgir adiante."
Para o cientista político, o fato de Freixo ter conseguido o apoio de partidos no segundo turno se deve basicamente a uma questão de afinidade ideológica.
"Estes cálculos são feitos muito em função da eleição de 2018. Acho difícil que o Freixo ou o Crivella tenham algo para mostrar em dois anos", disse Ismael. "A situação dos dois é de ter que negociar muito na Câmara e, do ponto de vista de gestão, vai ser difícil fazer algo de impacto."