Capitão Wagner propõe armar guarda e diz que medida não aumenta letalidade
Renato Sousa
Colaboração para o UOL, em Fortaleza
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Reprodução/Facebook
O deputado estadual Capitão Wagner Sousa (PR), que disputa o 2º turno em Fortaleza
Candidato à Prefeitura de Fortaleza, Capitão Wagner (PR) tem entre suas principais propostas de governo armar a Guarda Civil Municipal.
Em entrevista ao UOL, ele diz que o uso de armas de fogo não necessariamente levará a uma disparada de mortes durante as ações dos agentes.
"Em vários municípios do país, o guarda está treinado, armado e equipado e a gente não tem nenhuma estatística que comprove o aumento expressivo em relação à letalidade", declara o deputado estadual, que tenta evitar a reeleição do atual prefeito, Roberto Claudio (PDT), líder das pesquisas, com 51% das intenções de voto segundo a pesquisa Ibope mais recente, divulgada na sexta-feira (14). Wagner tem 38%. No primeiro turno, Claudio teve 40,81% dos votos válidos, enquanto Wagner ficou com 31,15%.
Claudio afirma que também encomendou estudo sobre o tema. Em 2012, seu vice na chapa, o deputado federal Moroni Torgan (DEM), já havia defendido pauta semelhante. Em entrevista ao UOL, o atual prefeito disse que "é ilegal achar que a Guarda Civil Municipal possa substituir a Polícia Militar".
Outros candidatos, entretanto, criticaram a ideia. A deputada federal Luizianne Lins (PT) --que ficou em terceiro lugar neste ano-- declarou que a preocupava que se criasse uma disputa entre a Guarda Municipal e a PM "para ver quem é que dá mais baculejo [gíria para abordagem policial violenta]".
Já o deputado estadual Heitor Férrer (PSB) afirmou, em debate, que a proposta tratava apenas da consequência. "Quando a violência acontece, todas as outras políticas públicas falharam."
A iniciativa, contudo, conta com respaldo da população. Pesquisa feita pelo Datafolha e divulgada pelo jornal "O Povo" aponta que mais de 70% dos entrevistados se disseram favoráveis ao armamento dos guardas municipais, demanda antiga da categoria.
Wagner destaca, porém, que o uso da arma de fogo não será a única forma de atuação dos profissionais. "Em determinadas ocasiões, o uso da arma de choque pode ser suficiente", afirma.
Greve
O deputado é a principal liderança classista da Polícia Militar cearense. Do final de 2011 até o começo de 2012, liderou a greve da categoria, que contou com forte adesão tanto de policiais quanto de bombeiros, forçando o então governador Cid Gomes (PDT) a decretar estado de emergência e convocar tropas federais.
Desde então, Wagner passou de suplente de deputada estadual a vereador mais votado de Fortaleza e deputado estadual mais votado da história do Ceará. Também se tornou alvo de ataques constantes do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que o acusa de "miliciano" e "fascista".
Wagner diz que "já decidiu não debater com esse cidadão, que não tem qualquer tipo de proposta para Fortaleza".
Nova imagem
O candidato do PR mudou de estratégia na TV diante da vantagem do prefeito nas pesquisas e intensificou as críticas ao atual mandatário da capital, acusando o prefeito de não ter cumprido promessas de campanha.
"Acho que o pessoal já percebeu [no programa de TV] que estamos apresentando falhas da gestão atual, bem como as soluções", afirma.
Também tenta "suavizar" sua imagem, apresentando-se menos como policial e mais como especialista em segurança pública e professor --ele dá aulas de legislação em cursos preparatórios para o concurso da PM.
Diz que tem origem humilde, tendo sido criado em um bairro onde "político só aparece em época de eleição" e, como demonstra a greve da polícia, não tem medo de "desafiar poderosos". Apesar de contar com o apoio de nomes como os senadores Eunício Oliveira (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB), diz não ter padrinhos políticos.
A estratégia deu alguns frutos. Levantamento do Datafolha o aponta como aquele que os eleitores consideram que mais vai fazer pelos mais pobres. Por outro lado foi classificado como o candidato mais autoritário.
Apesar de Wagner já ter pedido votos para deputado petista em 2012, a aproximação com Tasso e Eunício --que votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff-- fez com que o PT decidisse pela neutralidade no segundo turno, sem apoiar nenhum candidato e liberando seus militantes para votar como quisessem.
Capital violenta
Fortaleza é, pelos dados do Mapa de Violência --produzido pelo Ministério da Justiça--, a capital com a maior taxa de homicídios por armas de fogo do país.
Os números referentes a 2014, os últimos disponíveis, apontam a cidade com uma taxa de 81,5 mortes para cada 100 mil habitantes. Isso representou mais que o dobro da taxa brasileira e um crescimento de mais de 340% em relação a 2004, quando a cidade ocupava a 19ª posição.
Entretanto, em 2015, segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, houve queda de 17% no número absoluto de assassinatos.
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