Não é bem assim: Crivella e Freixo se atacam, mas derrapam em debate
Ana Freitas, Bernardo Moura, Alfredo Mergulhão e Tai Nalon
Do Aos Fatos, no Rio
O segundo debate entre os candidatos que disputam o segundo turno no Rio foi marcado por troca de acusações. Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) chegaram, em alguns momentos, a citar dados e fatos equivocados. De um lado, Crivella fez críticas ao programa de governo do adversário; de outro, Freixo errou sobre os valores dos pedágios pelo mundo. Veja o que checamos:
Marcelo Crivella
O seu programa de governo fala em rever o valor dos imóveis para aumentar IPTU e, assim, poder criar mais secretarias, subsecretarias e empresas
Ao contrário do que afirma o candidato, o programa de governo de Freixo não propõe aumento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) dos imóveis para custear novas secretarias, subsecretarias e empresas da prefeitura.
A única menção ao imposto no documento registrado no TSE está entre as propostas de segurança alimentar e propõe "revisar o Plano Diretor do Rio de Janeiro para incluir as áreas agrícolas e rurais da cidade e isentá-las do pagamento de IPTU".
Marcelo Freixo
Nós não vamos aumentar o IPTU. O que a gente escreve ali [no programa de governo], e o que claramente a gente diz, é que nós vamos fazer uma revisão [do IPTU] para criar mais justiça
Apesar de ter um capítulo inteiro dedicado à moradia, o programa de governo de Marcelo Freixo não propõe a revisão do IPTU, como ele afirmou no debate.
A única menção ao imposto no documento registrado no TSE é em uma proposta de segurança alimentar com a intenção de isentar de IPTU propriedades agrícolas da cidade que produzem alimentos.
Após a publicação deste texto, a campanha de Freixo confirmou a "Aos Fatos" que foram efetuadas mudanças em seu programa. Segundo sua assessoria de imprensa, trechos que propunham "atualizar a Planta Genérica de Valores e os fatores de correção" de imóveis, "rever o fator de correção de idade para o cálculo do valor venal" e "atualizar os critérios de enquadramento das Unidades Autônomas Populares (UAPs)" foram retirados do projeto protocolado no TSE. A alegação é que estavam gerando mal entendido.
Marcelo Crivella
Os black blocs, sob o seu comando, têm as mãos sujas de sangue. Já mataram um trabalhador covardemente pelas costas
Em fevereiro de 2014, o cinegrafista Santiago Andrade, da Band, morreu após ser atingido por um rojão durante uma manifestação na Central do Brasil, no Rio.
Imagens gravadas mostram Fábio Raposo Barbosa e Caio Silva de Souza, que participavam do protesto, acendendo o rojão que matou o cinegrafista. Eles ainda não foram julgados.
Na época, o advogado de Raposo disse que o seu o seu cliente teria conexões com Freixo. Porém, o mesmo advogado voltou atrás e pediu desculpas por "ter sido levado pela emoção".
Em 2014, foi revelado que um assessor de Freixo, que é advogado, integrava uma ONG de direitos humanos que prestava assistência para pessoas presas durante protestos. Não há, porém, indícios de que Freixo comandou black blocs durante qualquer ato.
Marcelo Freixo
Seu sócio que chutou a imagem da padroeira
Freixo se referiu ao bispo Sérgio Von Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, que, em 1995, chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida na TV.
Segundo reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" publicada em 1999, ele era sócio do candidato na empresa Unimetro Empreendimentos, usada pela Universal para administrar imóveis. Questionada, a assessoria de Freixo disse ter usado essa matéria como fonte da acusação.
No entanto, Aos Fatos apurou, com dados da Junta Comercial de São Paulo, que os nomes de Crivella e Von Helde não constam do histórico do quadro societário. A empresa é cadastrada na capital paulista desde 1994.
Mariana Godoy dá bronca em plateia durante debate no Rio
Marcelo Crivella
No programa de governo do Freixo não tem uma frase sobre a Guarda Municipal
O documento registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pela coligação de Freixo traz propostas como desmilitarização da Guarda, controle externo da corporação, programa de assistência social para os guardas, reestruturação do treinamento, plano de cargos e salários e proibição do uso de armamento letal.
Marcelo Freixo
A Transolímpica tem hoje o pedágio mais caro do planeta
O pedágio da Transolímpica custa R$ 5,80. Em Londres, por exemplo, o custo do pedágio urbano é de 11,5 libras (R$ 45,08).
Estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2012 informa que o custo médio internacional dos pedágios era de R$ 8,80.
O estudo, no entanto, considera apenas pedágios em rodovias --e não urbanos, como é o caso da Transolímpica.
Marcelo Crivella
No governo do Eduardo Paes se tirou R$ 1 bilhão da Saúde
Crivella subestima a redução de recursos para a Saúde ao dizer que foram retirados R$ 1 bilhão da área durante o segundo governo Paes.
De acordo com os dados disponíveis no Rio Transparente, plataforma com os gastos da cidade, a soma das diferenças entre o Orçamento inicial e o efetivamente pago --com restos a pagar-- à Secretaria Municipal de Saúde, entre 2012 e 2016, é de R$ 1,4 bilhão.