Crivella escolhe bairro dominado por milícia para último ato de campanha

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

  • Julio Cesar Guimaraes/UOL

No último dia de campanha do segundo turno para a Prefeitura do Rio de Janeiro, o senador Marcelo Crivella (PRB) saiu em carreata pelas zonas oeste e norte da cidade, na manhã deste sábado (29). Escolhido para ser o ponto de partida do ato, o bairro de Rio das Pedras, na região oeste do município, é um dos principais redutos e o berço das milícias cariocas, que o candidato diz pretender combater integrando a Guarda Municipal à Polícia Militar, do Governo do Estado.

Acompanhado de aliados e apoiadores em dezenas de carros, Crivella disse antes de iniciar a carreata que o itinerário é simbólico. "Foi aqui que eu fiz várias caminhadas, tenho até, vamos dizer assim, uma história no Rio das Pedras, nas outras campanhas e nessa também. Então eu acho que é simbólico. No último dia, vamos começar no Rio das Pedras e terminar em Santa Cruz [na zona oeste], cruzando toda a cidade", afirmou, deixando de lado a zona sul e o centro da cidade.

Questionado sobre como pretende agir, caso seja eleito, no combate aos grupos paramilitares que atuam no local, o candidato afirmou que daria "todo o apoio" e faria parcerias com a PM. "A Guarda Municipal pode ser uma grande auxiliar se participar da comunidade de informação e prevenção", declarou.

"É uma pena que a corrupção política e a falta de autoridade dos líderes do Rio de Janeiro tenham dado espaço para que policiais desmotivados –e graças a Deus são minoria—se prestem ao papel vergonhoso e desonroso de pegar arrego com traficante ou de explorar pobre com essa coisa de milícia", comentou o senador.

"Isso é uma tragédia, mas eu tenho certeza que o Rio vai superar essa decadência e vai marchar nos seus processos civilizatórios de desenvolvimento econômico, social e cultural. Nós vamos superar essa fase, Deus é grande", acrescentou Crivella.

Julio Cesar Guimaraes/UOL

Polêmica sobre apoio da milícia

Nesse segundo turno, o candidato do PRB se viu no centro de uma polêmica com o adversário, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). A ex-vereadora Carminha Jerominho, filha e sobrinha de dois políticos presos por envolvimento com a milícia, declarou em vídeo publicado na internet que sua família apoia Crivella na disputa municipal e desafiou Freixo a visitar o bairro de Campo Grande, na zona oeste, que o grupo dos seus parentes dominava.

Ao ser informado, pela imprensa, da existência do vídeo e do apoio de Carminha, Crivella disse que "precisava" do voto da ex-vereadora. "Todo apoio, todo voto é importante. Sem voto ninguém ganha a eleição [...] Não quer dizer que vamos fazer aliança. A gente faz o máximo para ganhar, mas não faz qualquer coisa. Eu preciso do voto da Carminha. Eu preciso do voto de todos", declarou, recebendo críticas de Freixo, que o acusou de ser conivente com os grupos paramilitares.

Por ter presidido, em 2008, a CPI das Milícias da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio), o candidato do PSOL recebeu diversas ameaças de milicianos e tem dificuldade para andar na região visitada nesse sábado por Crivella. Marcelo Freixo, em seu último dia de campanha, decidiu ir para a zona norte do Rio e visitar a tradicional feira de Honório Gurgel, reduto de Eduardo Paes (PMDB) 

Líder nos levantamentos de intenção de voto, Crivella disse ainda que as expectativas para os últimos momentos da campanha são boas. "Hoje tem duas pesquisas saindo, Datafolha e Ibope, e acredito que o debate ontem [realizado pela TV Globo] tenha sido dentro do esperado. Não acredito em grandes mudanças. Tanto eu como a militância esperamos um bom resultado amanhã", declarou.

'Verticalizar é preciso'

Em Rio das Pedras, o candidato defendeu a necessidade da construção de edifícios no local, afirmando que o bairro "tem um problema sério de infraestrutura, com muitas casas" e estrutura de esgoto, abastecimento de água, iluminação e lazer "muito ruim".

"Nós precisamos verticalizar o Rio das Pedras, sobretudo nas áreas mais pobres. É preciso abrir algumas clareiras, construir edifícios e acomodar as pessoas. Isso depende muito das políticas de uso do solo da Prefeitura, não só aqui como também no Complexo [de favelas] da Maré [zona norte] e em outras comunidades", argumentou. "O importante é a gente estar aberto a concessões e parcerias público-privadas [PPPs]. Já foi feito em outros países e pode ser feito aqui também."

Apoio e reclamação

Ao longo do trajeto, a carreata foi recebida por entusiasmados apoiadores com bandeiras, mas provocou transtornos no trânsito por onde passou. Em alguns pontos, alguns dos veículos do comboio invadiram a contramão.

"Ainda vem atrapalhar", reclamou uma senhora, no bairro da Gardênia Azul, zona oeste. "Só vem aqui em época de eleição", disse outro morador da área. 

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