Cansado de votar? Descubra as vantagens e desvantagens do 2º turno
Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília
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Rogério Capela/AAN/AE
Eleitores de 57 cidades irão às urnas neste domingo para o segundo turno das eleições
Neste domingo (30), eleitores de 57 municípios terão de ir às urnas para decidir, no segundo turno, quem irá comandar suas cidades pelos próximos quatro anos. Se você faz parte do grupo que se pergunta "por que tenho que ir votar duas vezes para o mesmo cargo?", o UOL conversou com quatro cientistas políticos para descobrir quais as vantagens e as desvantagens das eleições em duas etapas.
O segundo turno em eleições municipais foi instituído pela Constituição de 1988 e começou a ser realizado em 1992. Pela legislação, apenas os municípios com mais de 200 mil eleitores estão aptos a terem segundo turno. Para que haja segundo turno, é preciso que nenhum dos candidatos a prefeito tenha atingido mais de 50% dos votos válidos no primeiro turno. Caso isso ocorra, os dois candidatos com maior número de votos disputam o pleito no segundo turno.
Para saber quais as vantagens e desvantagens de um segundo turno, foram ouvidos os cientistas políticos David Fleischer (UnB), Otávio Amorim (FGV), Carlos Melo (UFMG) e André Borges (UnB). Veja o que eles disseram:
VANTAGENS
Maior legitimidade ao vencedor
"O segundo turno dá mais legitimidade ao candidato que vencer as eleições porque ele vai precisar da maioria absoluta dos votos. Isso evita, em tese, questionamentos sobre o quão legítimo é o vencedor da disputa", diz David Fleischer.
Carlos Melo concorda com Fleischer. Ele cita a eleição de Juscelino Kubitschek, em 1955, quando ainda não havia segundo turno. Naquela época, o candidato que tivesse mais votos no primeiro (e único turno), era eleito.
"O Kubitschek venceu com 36% dos votos e foi muito questionado por isso. De uma certa forma, o segundo turno evita esse tipo de questionamento porque o vencedor recebeu o apoio da maioria absoluta do eleitorado", afirmou Melo.
Antecipa alianças
Para Otávio Amorim, uma outra vantagem do segundo turno é que ele "força" os partidos que participam das eleições a anteciparem suas negociações políticas. "O segundo turno obriga os partidos que não continuaram na disputa a antecipar as alianças que serão necessárias à governabilidade. Ganha-se tempo", afirmou.
Filtro para "radicalismos"
Amorim diz também que as eleições em dois turnos dificultam a eleição de candidatos considerados muito radicais pelo eleitorado. "Quando temos um segundo turno, dificilmente um candidato mais extremado acaba sendo eleito. Via de regra, com dois turnos, o candidato vitorioso é que mais se aproxima do centro, do eleitor mediano", afirma Amorim.
A opinião de Amorim é compartilhada por André Borges. "Como é impossível vencer sem o apoio da maioria, o segundo turno força os candidatos a irem mais ao centro e a moderarem suas propostas e discursos para irem ao encontro da maioria", diz o cientista político.
DESVANTAGENS
Incentiva a fragmentação partidária
Para André Borges, da UnB, as eleições em dois turnos favorecem a fragmentação partidária a partir de um comportamento "oportunista" por parte das legendas. "Em alguns casos, partidos sem condições de vencer a disputa lançam candidatos apenas para forçar um segundo turno. Quando o segundo turno é definido, esse partido sem grandes chances no primeiro turno passa a negociar o seu apoio em troca de posições em um eventual governo", explica.
A fragmentação partidária também foi apontada por Otávio Amorim. "Com a eleição em dois turnos, todo partido vai ter incentivo para, mesmo sabendo que vai perder, lançar um candidato para negociar sua participação em um governo", afirma o cientista político.
Custo alto
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) avalia que o primeiro turno das eleições neste ano custou aproximadamente R$ 650 milhões. Ainda não há estimativas consolidadas sobre o quanto o segundo turno de 2016 vai custar. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, a dificuldade em estimar esse valor se dá porque alguns dos gastos realizados no primeiro turno não terão de ser repetidos para o segundo.
Mesmo assim, os cientistas políticos David Fleischer e André Borges avaliam que uma das desvantagens da eleição em dois turnos é o custo financeiro para os cofres públicos.
"Temos um custo adicional para a realização do segundo turno que não pode ser desprezado, sobretudo em um país grande como o Brasil", afirmou Fleischer.
"A realização de um segundo turno implica mais gastos, sem dúvida, mas, ainda assim, eu considero que é um custo que vale a pena", afirmou Borges.
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