Análise: Crivella extrapola Universal e atrai conservadores de mais igrejas
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
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Paula Bianchi/UOL
Marcelo Crivella comemora vitória em Madureira, zona norte da cidade
Novo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) foi eleito porque conseguiu aliar ao voto dos evangélicos um conservadorismo que atravessa diferentes igrejas, segundo estudiosos sobre religião e política ouvidos pelo UOL. Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, ele conquistou apoios além dos evangélicos, que representam 23% da população da cidade, segundo dados do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Há uma onda de conservadorismo no país que aglutina diferentes grupos religiosos", diz Maria das Dores Campos Machado, coordenadora do Núcleo de Religião, Gênero, Ação Social e Política da Escola de Serviço Social da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Segundo Maria, Crivella conseguiu, de forma inédita, fazer com que o voto evangélico fosse prioritariamente para ele. Além disso, conquistou parte do voto católico.
"Crivella teve desta vez, por exemplo, apoio de Silas Malafaia [pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo]. Na última eleição Malafaia sugeriu que não votassem nele [em Crivella]. Ele conseguiu ampliar suas alianças dentro do próprio campo evangélico e conseguiu também fazer algumas pontes no meio católico mais conservador", diz a professora.
Edilson Pereira, professor do programa de pós-graduação em ciências sociais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), também cita o apoio de Malafaia como importante para a vitória, assim como o conservadorismo que ultrapassa as diversas denominações religiosas.
"No final das contas, vários agentes religiosos são representantes de um conservadorismo que não se restringe a igrejas específicas", afirma. "A questão é que talvez as categorias que a gente tenha para entender o que é o evangélico já não estejam mais dando conta."
Confluência de fatores
Para Pereira, Crivella adotou uma bem-sucedida estratégia política de ocultar ou exibir sua filiação religiosa de acordo com o momento.
"É uma dinâmica que, de acordo com o interesse e o momento específico, a pertença religiosa, evangélica ou não, é considerada como valiosa ou como um problema", explica. "Uma parte disso sem dúvida tem a ver com o público-alvo, com a ideia de que você consiga, independente de qual a religião de uma pessoa específica, de um candidato, passar a ideia de que as crenças dele não vão afetar o trabalho dele na administração pública."
Além das questões relativas à religião e ao conservadorismo, a professora Maria das Dores Campos Machado cita uma "confluência de fatores" que também empurraram Crivella para a vitória nas urnas. Ela cita a derrocada do PMDB do Rio, que governa um Estado em crise financeira e não conseguiu avançar ao segundo turno com Pedro Paulo; a divisão da centro-direita na cidade, que tinha as candidaturas de Pedro Paulo, Carlos Osorio (PSDB) e Indio da Costa (PSD); uma elite econômica "que temia muito o Freixo e a esquerda"; e os altos índices de abstenção e votos brancos e nulos.
Todos estes fatores ajudam a explicar a eleição de Crivella em uma cidade marcada por festas nada conservadoras como o Carnaval, o Réveillon e a Parada Gay --o prefeito eleito disse que o município continuará bancando as "festas profanas".
"Essa cidade não é só Carnaval, essa cidade também tem conservadores, ela é outras coisas também. Nesse balanço, o lado que está pesando é o lado mais conservador. E não é só no Rio, essa onda conservadora é no Brasil todo", diz Maria das Dores.
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