PTN quer virar Podemos brasileiro e surfar na queda da esquerda

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

  • Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

    A deputada Renata Abreu, presidente do PTN, que virará Podemos em dezembro

    A deputada Renata Abreu, presidente do PTN, que virará Podemos em dezembro

Há dois anos, um movimento popular surgido em ocupações e formado por militantes de esquerda balançou a política da Espanha. Com pautas consideradas progressistas, como o direito ao aborto e a manutenção do caráter público da educação, o Podemos ganhou popularidade em grandes cidades e junto ao eleitorado jovem, a ponto de eleger a prefeita de Madri.

No Brasil, o pequeno PTN (Partido Trabalhista Nacional) adotará o nome Podemos para aproveitar a fama do "primo" europeu. O partido se venderá como um movimento afeito à democracia direta e criará um aplicativo de celular e um site para o eleitor opinar nas votações no Congresso.

A mudança se concretizará no começo de dezembro. Mas as bandeiras do Podemos brasileiro, que já nasce com 13 deputados federais, devem ser bem diferentes das levantadas pelos espanhóis. Os dois grupos não têm nenhuma ligação formal.

Conforme dois deputados relataram ao UOL, a maior parte da bancada se identifica com bandeiras tradicionalmente de direita, como a defesa da família tradicional (formada por homem e mulher) e do Estado mínimo.

"Hoje temos que estar alinhados com a demanda da população", afirmou Alexandre Baldy, deputado federal do PTN de Goiás. "Na eleição agora, vimos que a maioria da população rejeitou a esquerda. Temos que fazer um trabalho atendendo a demanda da população e, portanto, não podemos lançar um novo partido trabalhando dentro daquilo que o povo rechaçou nas urnas."

Posicionado na centro-esquerda, o deputado Bacelar (PTN-BA) se vê como minoria dentro do futuro Podemos. "Há um sentimento majoritário conservador no partido, tanto econômico quanto de costumes, mas o que nos une é a percepção de que há uma crise acentuada no sistema partidário e a necessidade de democracia direta, de deixar as bandeiras partidárias de lado."

A convenção partidária marcada para dezembro pretende fazer os discursos se unificarem dentro da sigla.

Ronaldo Silva/ Futura Press/ Estadão Conteúdo
Eleito prefeito de Osasco, Rogério Lins (PTN) dá entrevista
'Yes we can'

O projeto de reformulação vem sendo gestado há dois anos e é capitaneado pela presidente do partido, a deputada paulista Renata Abreu. Em um discurso recente, ela insistiu que a nova ideologia do Podemos não será nem de direita, nem de esquerda, "mas olhando sempre para a frente". Ela afirma que sua inspiração original foi o slogan da campanha de Barack Obama à Casa Branca em 2008.

"São vários movimentos internacionais, o primeiro deles talvez o 'Yes we can', que tratam dessa vontade que as pessoas têm de participar da democracia", disse ela. "O eleitor está cansado de dar um cheque em branco para o político. Nós estamos propondo um modelo de participação direta. Talvez seja nesse ponto que mais nos aproximamos do Podemos espanhol. O resto é diferente."

No modelo de democracia proposto pelo Podemos brasileiro, sobra pouco espaço para posições firmes, ideológicas. Tudo será decidido (ou pretende ser) conforme a vontade e a participação dos eleitores e militantes. Os críticos diriam, porém, que o partido evita se posicionar sobre questões polêmicas para não se comprometer.

"O mundo é dinâmico", diz a presidente do futuro Podemos, "e nem sempre uma bandeira que você defendeu em um primeiro momento passa a ser factível em um segundo. Nós temos que nos permitir mudar as nossas posições".

A legenda não gosta de se posicionar oficialmente sobre temas controversos, como a legalização das drogas ou o direito ao aborto, a cota para mulheres na política ou o projeto Escola sem Partido. Em 2010, o PTN esteve coligado à chapa de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. Em 2014, saiu ao lado de Aécio Neves (PSDB).

Fundado nos anos 30, o partido chegou a eleger Jânio Quadros presidente da República. Foi refundado após a redemocratização e há alguns anos viveu uma disputa interna na qual duas famílias brigaram pelo seu controle.

A família Esch, do Rio, chegou a acusar José de Abreu, pai da atual presidente, de embolsar ilegalmente verba do fundo partidário. Em 2012, Jorge Sanfins Esch, então presidente estadual da sigla, foi suspeito de ter vendido o apoio do partido à reeleição de Eduardo Paes, no Rio.

Em São Paulo, nas eleições de 2016, o partido conseguiu fazer três prefeitos: Rogério Lins, em Osasco, Professor Juliano, em Dracena, e Igor Soares, em Itapevi. "Somos o partido que mais cresce no Brasil", disse Renata Abreu.

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