Evento com Bolsonaro na BA tem detector de metais e camisa de Ustra à venda
Gustavo MaiaDo UOL, em Salvador
Um evento da pré-campanha do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) à Presidência da República realizado em Salvador teve esquema segurança reforçado, com dezenas de policiais voluntários e uso do detector de metais na entrada do auditório onde o presidenciável palestrou para centenas de apoiadores, na noite desta quinta-feira (24).
De acordo com o presidente do diretório do PSL em Salvador, Antonio Olívio, um dos organizadores do evento, 65 policiais militares, civis, federais e rodoviários simpatizantes de Bolsonaro se disponibilizaram para fazer a segurança durante a folga. Segundo os policiais, não houve nenhum tipo de pagamento.
Os seguranças atuaram desde a chegada do presidenciável no aeroporto de Salvador, onde ele foi recebido por centenas de apoiadores, no fim da manhã.
Um deles contou ao UOL, sob condição de não ter a identidade revelada para evitar eventuais represálias da corporação, que foi orientado a "evitar todo e qualquer tipo de constrangimento" a Bolsonaro. Outro policial militar disse não ter autorização para dar entrevistas.
"Eu estava de folga e quando cheguei lá vi colegas da PM atuando na segurança. Até tinha compromisso à noite, mas resolvi me voluntariar, pela causa Bolsonaro", relatou um PM.
Os seguranças eram os únicos de pé durante a palestra, e se posicionaram em diversos pontos do auditório, estavam vestidos com camisas verde e amarela, com a foto de Bolsonaro na frente e a palavra "Brasil" atrás.
A reportagem do UOL apurou que a equipe do deputado estava preocupada com sua segurança ou com a possibilidade de algum infiltrado na recepção ou no evento feri-lo ou atirar-lhe um ovo. De acordo com as últimas pesquisas eleitorais, Bolsonaro tem em torno de 50% de rejeição.
Merchandising militar
Também na entrada do hotel em que ocorreu o evento, um simpatizante do pré-candidato lucrou com a venda de camisas do presidenciável e "de direita", entre elas duas em homenagem ao coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi de São Paulo, um dos principais centros de tortura e repressão durante a ditadura militar.
Acusado de ter comandado torturas a presos políticos, Ustra morreu em 2015, aos 83 anos, e no ano seguinte foi citado por Bolsonaro durante seu voto favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), na Câmara. Na ocasião, o deputado federal disse ter votado "pela memória" de Ustra, "o pavor" da petista.
Uma das camisas vendidas no evento usou a marca de sabão em pó "Brilhante" para sugerir o nome do militar. "Carlos Brilhante Ustra – devolve o brilho da liberdade", diz a estampa da peça. A outra traz uma foto do coronel com a frase "Ustra vive".
Desempregado, Pedro Paracas, 30, mora em Fortaleza e conta que há quase três anos viaja para eventos em que Bolsonaro participa para vender as camisas. Cada peça custa entre R$ 30 e R$ 40. O rendimento, diz o comerciante, é suficiente para pagar as passagens aéreas e sustentá-lo.
Ele contou que, depois da votação do impeachment, "o nome do Ustra começou a surgir mais e o pessoal começou a pedir camisa dele". Depois de pesquisar, decidiu fazer "um trocadilho com o sabão conhecido".
Sobre as acusações de tortura, ele disse que "parece que foi arquivado o processo dele". Em 2008, Ustra se tornou o primeiro militar a ser declarado pela Justiça como torturador do regime.
Segundo Paracas, as camisas do coronel estão vendendo tanto quanto as de Bolsonaro. A reportagem do UOL procurou, mas não achou quem tivesse comprado algum exemplar da camisa.
"Eu vim ajudar o pessoal a se vestir, porque em muitos locais não têm como fazer camisa", disse o vendedor, acrescentando que ajuda a pré-campanha do presidenciável "divulgando o nome dele". "Muitos brincam comigo dizendo que o Bolsonaro já está movimentando a economia", declarou.
Entrevistado pela reportagem depois de ser visto rindo ao ver a camisa de Ustra, um participante da palestra pediu minutos depois que sua fala não fosse divulgada.
Bolsonaro fala
Antes de dar a palestra, Bolsonaro foi saudado a repetidos gritos de "mito" por apoiadores, que quase lotaram o espaço com capacidade para 1.000 pessoas.
O mestre de cerimônias o anunciou como "aquele que vai tirar o Brasil da lama e moralizar o nosso país" e "que enfrenta corruptos".
"Muito obrigado pela recepção. Em se tratando de político, isso não tem preço", agradeceu Bolsonaro. Durante a fala, ele tratou sobre seus planos para o país, deu parabéns aos caminhoneiros pela greve iniciada no início da semana, e criticou o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, também pré-candidato à Presidência.
Após o fim da palestra, que durou aproximadamente 40 minutos, Bolsonaro ficou durante quase uma hora no local e posou para fotos com centenas de apoiadores, que se aglomeraram para fazer selfies com o deputado.