Bolsonaro volta a cidade natal pela 1ª vez e é recebido por prefeito tucano

Gustavo Maia
Do UOL, em Glicério (SP)*

A visita era planejada desde o início do ano. Candidato à Presidência da República, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) voltaria a sua cidade natal pela primeira vez desde que saiu com a família de Glicério (SP), há 63 anos, ainda recém-nascido.

O plano se concretizou nesta quinta-feira (23) em meio a uma série de atos de campanha pelo interior paulista e deixou o presidenciável "emocionado", como ele mesmo relatou. Registrado pelos pais em Campinas (SP), Bolsonaro foi recebido com festa por centenas de conterrâneos no município de apenas 4.800 moradores, a quase 450 km da capital paulista.

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No retorno ao lugar onde nasceu, o presidenciável teve como anfitrião o prefeito Ildo Gaúcho. O político é do PSDB, partido criticado constantemente por Bolsonaro e presidido pelo ex-governador Geraldo Alckmin, seu adversário na disputa pelo Planalto e pelos votos no estado. Na eleição de 2014, o tucano venceu em 644 das 645 cidades paulistas e foi reeleito ainda no primeiro turno.

As siglas diferentes não impediram Bolsonaro de ser levado com pompa até o gabinete de Gaúcho na sede da prefeitura, cercado de apoiadores, vereadores da cidade e prefeitos de outros municípios da região --nenhum deles do PSL, partido do candidato.

"Humildade" e possível irregularidade eleitoral

O prédio municipal foi tomado pelo clima de campanha do presidenciável, que posou para fotos com dezenas de pessoas e recebeu do prefeito uma bandeira de Glicério. A visita pode ter levado o candidato a cometer uma irregularidade eleitoral.

A lei proíbe agentes públicos de "ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos municípios, ressalvada a realização de convenção partidária."

Especialistas em direito eleitoral ouvidos pela reportagem disseram que a legislação eleitoral proíbe a realização de propaganda dentro de prédios públicos.

Mas a vedação atingiria apenas atos claros de campanha, como pedidos de voto, distribuição de panfletos e realização de discursos dentro dos imóveis do poder público. Não haveria ilegalidade, por exemplo, em o candidato fazer uma visita a correligionários políticos ou em participar de reuniões dentro de prédios públicos.

Gustavo Maia/UOL
Bolsonaro recebe bandeira de Glicério (SP), sua cidade-natal, na sede da prefeitura

Na chegada à cidade, Bolsonaro ouviu de Ildo Gaúcho uma mensagem de boas vindas e apoio. "O senhor é bem-vindo a sua terra. Glicério vai fazer história nesse país e todos nós aqui estamos orgulhosos de receber a sua pessoa. O senhor não teve a vergonha de dizer que nasceu em Glicério, isso é muito importante", declarou o prefeito.

Segundo o tucano, o homem público não pode perder as suas raízes por mais alto o cargo que ele ocupe, e a ida de Bolsonaro ao município é um reconhecimento da humildade. "Temos que recebê-lo de mãos... de braços abertos", disse, convidando-o publicamente para "um cafezinho no gabinete".

Crítica ao PSDB, mas sem generalizar

Em entrevista ao UOL, Gaúcho disse que tinha a obrigação de fazer as honras da casa. "Sou prefeito daqui e ele é nascido aqui. Acho que qualquer prefeito faria isso. O mínimo que um prefeito decente que pense numa nação com futuro melhor pode fazer por um presidenciável é receber bem", declarou.

Também ex-militar do Exército, como Bolsonaro, ele disse ter grande admiração pelo deputado federal, "independente do partido". Ele se negou, no entanto, a revelar se votaria no candidato do PSL ou em Alckmin. No gabinete, o prefeito se referiu ao convidado como "nosso presidente".

Ao lado do prefeito, Bolsonaro chegou a criticar "tudo de ruim desses últimos governos do PT e do PSDB", mas logo disse que não queria culpar ou generalizar todos que estão nesses partidos. "É a cúpula", apontou.

"Deve ter prefeito do PSDB aqui. Nada contra. Eu já votei no PSDB no passado, por falta de opção também. O voto a gente pode errar, não tem problema. E não é porque um colega nosso erra que os demais são responsáveis. Se esses prefeitos estão aqui, é porque acreditam que deve ter uma gente diferente dessa cúpula do PT e do PSDB", discursou o presidenciável.

Segundo a assessoria de imprensa da administração municipal de Glicério, participaram do evento prefeitos de outras seis cidades: Braúna, governada pelo PTB, Brejo Alegre (PV), Coroados (DEM), Avanhandava (PSD), Turiúba (MDB) e Alto Alegre (PV).

Marcelo Ferraz/UOL
Bolsonaro segura chave simbólica da cidade de Araçatuba (SP) como se fosse arma

Chave da cidade vira "arma"

Pela manhã, o presidenciável e sua comitiva saíram de Presidente Prudente (SP), primeira parada do roteiro pelo interior paulista, e foram até Araçatuba (SP), onde percorreram ruas do município em carreata.

Do alto de um carro de som, Bolsonaro recebeu uma "chave da cidade" confeccionada por um apoiador e não hesitou em segurá-la como se portasse uma arma. A iniciativa levou o público ao êxtase.

Durante caminhada no meio da aglomeração, o candidato carregou bebês e segurou no colo uma criança vestida com a farda da Polícia Militar de São Paulo. Em conversa flagrada pela reportagem do jornal "O Estado de São Paulo", ele perguntou ao garoto se ele sabia atirar.

No início da tarde, antes de ir a Glicério, ele passou pela Associação de Cabos e Soldados da PM e foi recebido ao som do hino nacional.

No meio de seu discurso, Bolsonaro comentou que nasceu em uma cidade próxima há 63 anos e os presentes entenderam que era seu aniversário. O candidato teve que ouvir o grupo cantar parabéns até o fim, apesar de ter nascido no dia 21 de março.

* Colaborou Felipe Amorim, do UOL, em Brasília