Vereadores acionam Justiça contra divulgação de escuta telefônica da Máfia do Asfalto em SC
Guilherme Balza e Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo e em Blumenau (SC)
20/05/2013 12h00
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Três vereadores de Blumenau (139 km de Florianópolis), condenados em primeira instância por crimes eleitorais e investigados por suposta participação na Máfia do Asfalto em Santa Catarina, apresentaram ação na Justiça para que o UOL tire do ar o áudio de uma escuta telefônica feita pelo Ministério Público do Estado no âmbito da Operação Tapete Negro.São eles Robinsom Soares, o Robinho, Fábio Fiedler e Almir Vieira, todos do PSD. Até o momento não houve decisão judicial sobre o pedido. Por esta razão, o UOL manteve o áudio no ar.
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Robinho e Fiedler foram eleitos e, apesar de cassados em primeira instância, permanecem na Câmara até que o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Santa Catarina julgue os recursos apresentados por eles.
O áudio que motivou a ação mostra uma conversa entre o ex-secretário de Obras do município Alexandre Brollo, que durante a eleição de 2012 coordenou a campanha de Fiedler. De acordo com as investigações, Brollo utilizou a estrutura da pasta e as prerrogativas de seu cargo para beneficiar o candidato (clique aqui para ver a reportagem com o áudio).
No diálogo, interceptado em 26 de julho de 2012, Brollo conversa com um interlocutor não identificado que faz uma reclamação a respeito de uma declaração de Fiedler, que à época questionou a aprovação, na Câmara Municipal, de R$ 1,4 milhão para a compra de vacinas para a gripe A.
Na ocasião, o vereador disse que não haveria logística para distribuir as vacinas. Em resposta ao interlocutor, Brollo disse que "o povo tem que se foder."
Crimes eleitorais
As investigações apontam que Fiedler conseguiu se reeleger em Blumenau, com a segunda maior votação (5.542 votos), negociando desde obras de asfaltamento até par de óculos para crianças.
De acordo com a Promotoria, Robinho teria se aproveitado do cargo que ocupava, de diretor de Iluminação da Sesur (Secretaria Municipal de Serviços Urbanos), para fazer favores a eleitores, como ligações elétricas, tickets de gasolina, empregos públicos, vantagens a empresas e até doação de asfalto, em troca de votos.
O esquema
Segundo o MP, o megaesquema de corrupção foi instalado em Blumenau com o objetivo de desviar dinheiro público e foi responsável por um prejuízo de pelo menos R$ 100 milhões aos cofres públicos.
Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça mostram indícios de práticas criminosas como fraudes em licitações, contratação de funcionários fantasmas, desvio de recursos e equipamentos do poder municipal e uso de cargo público para o favorecimento de particulares. Os diálogos constam em investigação do MP que gerou um documento de mais de 3.500 páginas ao qual o UOL teve acesso.
Outro lado
Procurado pela reportagem, o vereador afirma que os fatos que integram as acusações contra ele ocorreram antes do período eleitoral. Ele nega que Brollo tenha trabalhado em sua campanha ainda quando era secretário e que as visitas que fez com o ex-secretário, nas quais Brollo utilizou veículo oficial, não eram eventos de campanha.
Sobre a compra dos óculos para os gêmeos em troca de voto, Fiedler disse que a questão já foi "esclarecida em juízo" e que o fato ocorreu antes do período eleitoral. Segundo o vereador, os óculos não foram comprados por ele e sim por Luiz Henrique Fumagalli, seu assessor de campanha e funcionário da Secretaria Municipal de Obras.
Fiedler negou ter indicado o asfaltamento de ruas e outras obras em troca de votos. "O vereador tem que levar ao Executivo municipal os anseios da sociedade, e nós apresentamos as propostas na Câmara de Vereadores. Essa é a função legítima do mandato do vereador: exigir a troca desse asfaltamento." O vereador negou ter cometido qualquer crime e disse ainda que prestou todos os esclarecimentos à Justiça.
A reportagem conversou por telefone com Robinho. Ele pediu que as questões referentes às investigações do Ministério Público fossem encaminhadas por e-mail. A reportagem enviou as perguntas, mas não obteve resposta.
Depois da publicação da reportagem sobre Brollo, o ex-secretário procurou o UOL e afirmou ser inocente.