Josias de Souza

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Opinião

Estrelado por Lula, ato do 1º de maio foi um fiasco de público

Se o alto-comando do bolsonarismo fosse escalado para oganizar o ato estrelado por Lula no Dia do Trabalhador, não faria melhor. Foi um fiasco de público.

O vexame foi meticulosamente planejado pelas centrais sindicais companheiras, em parceria com o Planalto. Antecipando-se à ironia dos rivais, Lula apressou-se em terceirizar responsabilidades.

Puxou para a boca do palco o ministro petista Márcio Macedo, chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Passou-lhe uma carraspana:

"Ele é responsável pelo movimento social brasileiro", disse Lula. "Não pense que vai ficar assim. Ontem eu conversei com ele sobre esse ato. Eu disse: 'Oh, Márcio, o ato está mal convocado. Nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar'."

A tropa bolsonarita correu às redes sociais. "Um boneco do Bolsonaro coloca mais gente na rua", anotou, por exemplo, o deputado Nikolas Ferreira, numa alusão às multidões que prestigiaram Bolsonaro na Avenida Paulista, em fevereiro, e em Copacabana, há dez dias.

O insucesso do moblização do 1º de Maio contrasta com as estatísticas do mundo do trabalho. Foram criados 719 mil empregos com carteira assinada nos primeiros três meses de 2024 —33,9% a mais do que no primeiro trimestre de 2023. A taxa de desemprego foi a menor num primeiro trimestre em dez anos (7,9%).

De resto, os salários mínimo e médio crescem acima da inflação. Mas nenhum dado positivo parece grudar na imagem de Lula, convertido numa espécie de teflon às avessas.

Noutros tempos, as centrais sindicais atraíam plateias vistosas com shows de artistas famosos e sorteios de carros e eletrodomésticos. O fim do imposto sindical, que o ministro Luiz Marinho (Trabalho) não conseguiu recriar, esvaziou as arcas do aparato sindical.

Numa conjuntura castigada pela inflação dos alimentos e marcada pelo trabalho informal e pela uberização da mão de obra rendida à era dos aplicativos, o petismo e o sindicalismo enxergam o mundo pelo retrovisor. Como a Carolina da canção de Chico Buarque, Lula e seus aliados não viram o tempo que passou na janela.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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