Carlos atrapalhou segurança, diz Bebianno sobre dia da facada em Bolsonaro
Do UOL, em São Paulo
02/03/2020 23h07Atualizada em 03/03/2020 10h06
O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno atribui ao vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) parte dos problemas que permitiram que seu pai, o agora presidente Jair Bolsonaro (sem partido), fosse esfaqueado durante um comício em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018.
"A única viagem que o Carlos fez conosco foi essa de Juiz de Fora e ainda deu azar", disse Bebianno em entrevista ao "Roda Viva", da TV Cultura. "[Ele] Atrapalhou o esquema de segurança, o que resultou no não uso do colete [à prova de balas] e naquela tragédia da facada", completou.
Na época, segundo o ex-ministro, estava definido que ele, um sargento do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e o "capitão Cordeiro", das Forças Especiais do Exército, iriam com Bolsonaro ao comício em Juiz de Fora. Mas Carlos "cismou" de acompanhar o pai, mesmo que isso não fosse recomendado, segundo Bebianno.
"Ele foi dentro do carro com um drone. Parecia uma criança", lembra Bebianno. "Nem eu, nem o capitão Cordeiro e nem o Max, do Bope, pudemos ir no carro. O resultado? Ele [Jair Bolsonaro] desembarcou sem o colete. O colete não teria evitado 100% o ferimento, mas teria limitado a penetração da faca", acrescentou.
'Eu avisei'
Bebianno ainda contou ter passado um ano avisando Bolsonaro de que eventos como o comício em Juiz de Fora estavam se tornando perigosos, mas o presidente ignorou. "Como você vai saber quem está na multidão, com que tipo de intenção?", questionou.
Para o ex-ministro, Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro, "não agiu sozinho" e "é maluco, sim". "Mas ele foi utilizado por algum grupo que tinha o interesse de tirar o presidente da disputa", opinou, ignorando o fato de que a Polícia Federal já concluiu que não há envolvimento de terceiros no atentado.
'Covarde", diz Bebianno sobre desconfiança de Bolsonaro
Bebianno também condenou as insinuações, por parte de Bolsonaro, de que o ex-ministro teria algum envolvimento no ataque de Adélio Bispo. Para ele, a desconfiança do presidente é um "absurdo" que ele "não tem coragem de falar em público".
"Quando adota essa postura, o presidente se revela um homem covarde ou maluco. Em qualquer uma dessas hipóteses, acho muito ruim o país ser gerido por uma pessoa que tem esse tipo de postura irresponsável", criticou.
O ex-ministro ainda voltou a criticar Carlos Bolsonaro: "Os filhos que deveriam acompanhá-lo. O Carlos, que tem tanto amor pelo pai, deveria acompanhá-lo naquele momento [comício em Juiz de Fora]. São oportunidades em que havia risco de vida, que acabou se materializando em Juiz de Fora", disse.
Bebianno sobre Carlos: 'Deveria procurar tratamento'
As críticas ao vereador Carlos Bolsonaro não se limitaram ao episódio da facada. Segundo Bebianno, o segundo filho mais velho de Bolsonaro é instável, demonstra "um nível de agressividade despropositada" e "deveria procurar um tratamento".
"A pressão que Carlos faz é tão grande que ele [Bolsonaro] não consegue se contrapor ao filho. Como aquela criança que quer um presente no shopping, não ganha e sai rolando pelo chão, esperneando, enquanto o pai não tem pulso suficiente para dar um basta", comparou.
Além disso, na visão do ex-ministro, a família Bolsonaro mostra certa "paranoia" ao não confiar em ninguém que os cerca. "No fundo, ele [Bolsonaro] não confia no general [Augusto] Heleno, no general [Luiz Eduardo] Ramos. Ele não confia em ninguém", concluiu.