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Sakamoto: Moro deveria ser o 1º interessado em prestar esclarecimentos

Do UOL, no Rio

28/12/2021 13h58

O jornalista Leonardo Sakamoto, colunista do UOL, criticou durante o UOL News as declarações do ex-juiz Sérgio Moro (PODEMOS), pré-candidato à Presidência, sobre uma apuração do TCU (Tribunal de Contas da União) a respeito de seu trabalho em uma consultoria responsável por processos de recuperação judicial de empresas afetadas pela Lava Jato.

O ministro Bruno Dantas, do TCU, determinou que a empresa Alvarez & Marsal revele quanto pagou ao ex-juiz depois que ele deixou a companhia, em outubro deste ano.

Moro atacou a decisão do TCU e disse que lutou contra a corrupção "como ninguém jamais havia feito".

"Nunca paguei ou recebi propina, fiz rachadinha ou comprei mansões. Não enriqueci no setor público e nem no privado. Não atuei em casos de conflito de interesses. Repudio as insinuações levianas do procurador do TCU a meu respeito e lamento que o órgão seja utilizado dessa forma", disse Moro.

Para Sakamoto, o ex-juiz federal —que também foi ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro— tem o dever de prestar esclarecimentos, já que agora se lança na política.

"Moro entrou na vida pública, na vida política, é um homem público. A pergunta é: a ação dele nessa consultoria teve alguma coisa a v er com os casos em que ele julgou? Ele deveria ser o primeiro interessado e ao invés de fazer bravata, deveria chegar e expor: atuei no caso X, Y e Z", afirmou.

No despacho, Dantas também determina que seja feito levantamento, em ordem cronológica, de todos os processos de recuperação judicial em que a consultoria atuou enquanto o ex-juiz trabalhava junto à Operação Lava Jato, a fim de acompanhar a evolução dos negócios da empresa. A Alvarez & Marsal lidera o mercado brasileiro de recuperação judicial —com clientes como Odebrecht, OAS e Livraria Cultura.

A situação envolvendo Moro provocou um debate entre Sakamoto e o colunista do UOL Joel Pinheiro, que também participava do programa. Pinheiro saiu em defesa do presidenciável.

"O Moro incomoda, né, gente? Para alguém que não está ainda com dois dígitos nas pesquisas de opinião certamente está incomodando bastante. E está sendo alvo de investigações minuciosas que não vejo sendo feitas com outros candidatos", argumentou. "Acho que o TCU tem que sim fazer as investigações que são necessárias, não acho tão positivo quando isso tudo é jogado sempre na luz dos holofotes da opinião pública. Aí politiza, sim".

Nesse momento, Sakamoto apontou que a Operação Lava Jato, que teve Moro como principal expoente, adotou exatamente esse expediente contra seus alvos.

"A Lava Jato foi craque em pegar investigações preliminares e jogar tudo no ar. Jogar informações sobre rendimento [de pessoas] mesmo sem prova nenhuma. Teve muita gente acusada injustamente. Não estou nem falando de políticos, estou falando até de capoteiros. Pessoal pobre que entrou no balaio junto. Concordo contigo [Joel]. Temos que tomar cuidado para que a coisa não vire um Estado policial. Estado policial que foi alimentado pela Lava Jato", rebateu Sakamoto.

Após a intervenção do colega, Pinheiro fez um mea culpa em relação às práticas da Lava Jato.

"Fez uso até da prisão como espetáculo midiático. Tudo isso está errado e não pode ser incentivado, não", concluiu.