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Ribeiro disse a filha que Bolsonaro o alertou sobre operação; ouça áudio

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

24/06/2022 15h30Atualizada em 24/06/2022 17h42

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro disse em conversa com a filha que o presidente Jair Bolsonaro (PL) o alertou sobre a operação de busca e apreensão que a PF (Polícia Federal) faria contra ele, na última quarta-feira (22). O trecho do diálogo, e que consta nas investigações, foi divulgado hoje pelo canal de notícias GloboNews e confirmado pelo UOL.

A Operação da Polícia Federal "Acesso Pago", que culminou com a prisão de Milton Ribeiro, apura suspeitas de corrupção e tráfico de influência na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

  • Ministro para a filha: "A única coisa meio... hoje o presidente me ligou... ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?"
  • Filha pergunta: "Ele quer que você pare de mandar mensagens?"
  • Ministro responde: "Não! Não é isso... ele acha que vão fazer uma busca e apreensão... em casa... sabe... é... é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?".

Aconversa com a filha foi registrada no dia 9 de junho —ou 13 dias antes da operação— e durou 3min59seg.

O MPF (Ministério Público Federal) afirma haver suspeitas de interferência do presidente Bolsonaro nas investigações referentes ao ex-ministro.

"Nesta oportunidade, o MPF vem requerer que o auto circunstanciado nº 2/2022, bem como o arquivo de áudio do investigado Milton Ribeiro que aponta indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro nas investigações, sejam desentranhados dos autos e remetidos, de maneira apartada e sigilosa, ao Supremo Tribunal Federal", diz trecho do documento ao qual o UOL teve acesso.

O UOL procurou o Palácio do Planalto e aguarda o posicionamento.

Ribeiro deixou o cargo no ministério no final de março, uma semana após a divulgação, pela Folha de S. Paulo, de um áudio em que ele afirma que o governo federal priorizava prefeituras ligadas a dois pastores —que não têm vínculo formal com a gestão pública. (entenda as suspeitas clicando aqui)

Um esquema para liberação de verba coordenado por dois pastores sem cargos públicos que envolveu até suspeita de propina em ouro está no centro das denúncias que culminaram na operação da Polícia Federal e na prisão de Ribeiro. Ontem, após pedido da defesa, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) ordenou a soltura do ex-ministro.

Sobre o áudio, o advogado de Ribeiro, Daniel Bialski, afirmou que ele foi realizado antes da deflagração da operação. Segundo ele, a defesa ainda vai analisar tudo caso tenha acesso aos documentos, se lhe for franqueada vista da íntegra da documentação.

No entanto, ele afirmou que tudo indica que há motivos para anular ao menos parte das decisões da operação.

"Causa espécie que se esteja fazendo menção a gravações/mensagens envolvendo autoridade com foro privilegiado, ocorridas antes da deflagração da operação", afirmou Bialski. "Se realmente esse fato se comprovar, atos e decisões tomadas são nulos por absoluta incompetência", disse.

"Boto a minha cara no fogo pelo Milton"

À luz das primeiras denúncias sobre o caso, reveladas pelo jornal Folha de S.Paulo em março a partir de áudios vazados de Ribeiro, Bolsonaro chegou a declarar que colocaria "a cara no fogo" pelo ex-ministro, considerado de confiança até então.

O Milton, coisa rara eu falar aqui, eu boto a minha cara no fogo pelo Milton. Minha cara toda no fogo pelo Milton.
Jair Bolsonaro (PL), em março de 2022, em defesa ao então ministro Milton Ribeiro

Na ocasião, Bolsonaro ainda classificou como "covardia" a pressão para que Milton Ribeiro deixasse o cargo —o que aconteceu no dia 28 de março —e disse que a situação expressava, em sua visão, a falta de corrupção em seu governo.

"Por que não tem corrupção no meu governo? Porque a gente age dessa maneira. A gente sempre está um passo a frente. Ninguém pode pegar alguém e dizer 'ó, você está desviando'. Tem que ter prova, poxa, se não é uma ação contra a gente", afirmou.

Na transmissão realizada nas redes sociais, nesta quinta-feira, Bolsonaro admitiu ter exagerado nas palavras.