Bolsonaro enforca trabalho com rotina de motociatas, religião e futebol

Nesta semana, o Flamengo goleou o Juventude no Mané Garrincha, em Brasília, com Jair Bolsonaro (PL) na torcida — enquanto outros presidentes da região participavam da Cúpula do Mercosul, no Paraguai. O brasileiro até chegou a dizer que ia ao encontro diplomático, mas desistiu e foi para o estádio.

Episódios nos quais o presidente e atual pré-candidato à reeleição enforcou o trabalho para comparecer a motociatas, eventos religiosos e jogos de futebol se tornaram recorrentes durante o seu mandato, iniciado em janeiro de 2019.

Em janeiro deste ano, por exemplo, pouco depois de deixar o hospital após internação por uma obstrução intestinal, Bolsonaro foi a Buriti Alegre, em Goiás, para assistir a uma partida recreativa entre cantores sertanejos. O evento solidário, realizado em dia útil (5/1), foi organizado pelo cantor Marrone, da dupla Bruno e Marrone.

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Na condição de presidente da República, Bolsonaro não tem um horário de expediente (ou carga de trabalho) predefinido. Ele pode, por exemplo, se dar folga, como fez ao viajar para o litoral de Santa Catarina para o último Réveillon, enquanto temporais castigavam municípios da Bahia — o que o levou a ser alvo de críticas por ignorar a tragédia que tinha matado mais de 20 pessoas e desalojado milhares para andar de andar de jet ski na praia.

Sobre rodas

Apreciador do automobilismo e do motociclismo, Bolsonaro tem também usado dias úteis para participar das chamadas motociatas — termo cunhado por apoiadores para o desfile de motociclistas em mobilização política.

Em ritmo de campanha eleitoral — sua candidatura será oficializada amanhã no Rio —, o presidente já participou neste ano de 21 motociatas pelo país, das quais 16 ocorreram durante a semana, e apenas cinco em feriados ou finais de semana.

Em 2021, segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o presidente liderou 13 motociatas.

Na mesma folga para as festas de fim de ano, em dezembro de 2021, outro episódio que mostra seu apreço pelo automobilismo foi a manobra arriscada que realizou em 30 de dezembro, quando visitou o parque Beto Carrero World, em Penha (SC), e, sem capacete, dirigiu um dos veículos Hot Wheels. Durante a atividade, ele fez manobras de drift e acenou para o público.

O UOL entrou em contato com a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) para pedir um posicionamento sobre as agendas do presidente, mas não houve manifestação do governo.

Religião

Além do futebol e do motociclismo, Bolsonaro também tem o hábito de usar dias úteis para ir a eventos religiosos, em especial atos que reúnem política e o apoio de aliados evangélicos e cultos realizados em igrejas.

Somente na semana passada, Bolsonaro compareceu a dois cultos evangélicos em dias úteis e horários que costumam ser tomados por compromissos oficiais na rotina de um chefe do Executivo.

Em 13 de julho, por exemplo, o governante esteve no município de Imperatriz, no Maranhão, onde acompanhou a abertura de uma convenção de líderes de igrejas da denominação Assembleia de Deus do Seta. O evento, no entanto, foi realizado à noite. Já no dia seguinte, em Vitória do Mearim (MA), ele participou pela manhã (9h30) de um congresso de dirigentes da Ceadema (Convenção Estadual das Assembleias de Deus do Maranhão).

Em 15 de julho, Bolsonaro fechou a semana de viagens com uma visita a Juiz de Fora (MG), cidade que foi palco do atentado a faca sofrido por ele durante a campanha eleitoral de 2018. Também pela manhã, o pré-candidato confraternizou com apoiadores e líderes evangélicos em um culto por ocasião da 43ª edição da Conamad (Convenção Estadual das Assembleias de Deus).

Corte de cabelo

A reunião do Mercosul não foi o único evento de política externa enforcado por Bolsonaro. Em julho de 2019, Bolsonaro chamou a atenção da imprensa internacional ao cancelar uma reunião com o então ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, para ter tempo de cortar o cabelo. A situação ocorreu em dia útil, em horário de expediente.

Vários jornais franceses repercutiram o episódio, que foi visto como uma desfeita, principalmente depois da divulgação de um vídeo no qual o governante brasileiro cuidava do visual, no exato momento em que deveria se reunir com o chefe da diplomacia francesa.