Única saída para Mauro Cid é negociar delação, diz ex-ministro da Justiça
Felipe Oliveira
Colaboração para o UOL, em São Paulo
11/08/2023 19h01
O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo afirmou em entrevista ao UOL News desta sexta-feira (11) que as provas recentes de envolvimento do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro Mauro Cid em negociação de joias deixa sua situação cada vez mais complexa.
Para Cardozo, a delação é a única saída para o tenente-coronel.
Se eu fosse o advogado do Cid, o ajudante de ordens, o que eu faria? Não há mais defesa possível. Eu aconselharia uma delação, eu não vejo saída para ele. Não vejo outra saída. O que ele vai fazer?
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Segundo o ex-ministro da Justiça, Cid não conseguirá mais "matar no peito sozinho" a responsabilidade do que ocorreu.
A maneira que ele tem efetivamente é negociar uma delação antes que os fatos apareçam porque depois que os fatos aparecerem para que precisa de delação? É o que eu aconselharia. Outra alternativa era não passar vexame e renunciar a causa.
Não há mais indícios, caso das joias traz provas contra Bolsonaro, diz Cardozo
O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo também comentou sobre o possível envolvimento de Jair Bolsonaro no caso das joias. Segundo ele, não há mais indícios, já que o caso traz provas contra o ex-presidente.
Uma dessas joias é vendida para uma joalheria, fica em exposição nos Estados Unidos. Quando o Tribunal de Contas da União descobre e pede para devolver, o advogado de Bolsonaro vai a Nova Iorque, recompra essa joia para poder devolver, e agora tudo fica evidenciado com trocas de mensagens, dinheiro vivo ia para o presidente.
"Isso não é indício, é prova absoluta. Acho que Jair Bolsonaro não tem só mais uma situação de indícios, tem provas produzidas contra ele de, em tese, práticas de ilícitos penais. É uma situação gravíssima essa que nós vivemos. E muito triste", afirmou.
Tales: Em caso das joias, Bolsonaro igualou Brasil ao Paquistão
O colunista do UOL Tales Faria afirmou que se os dados levantados pela Polícia Federal forem confirmados, o ex-presidente Jair Bolsonaro igualou o Brasil ao Paquistão.
Tales citou o caso do ex-primeiro-ministro Imran Khan, preso no dia 5 de agosto por não ter declarado corretamente os presentes que ganhou quando era chefe de Estado.
O Paquistão é uma país pobre, como a maioria dos países produtores de banana da América Latina. E lá o ex-primeiro-ministro acaba de ser preso por não ter declarado corretamente os presentes que ganhou quando era chefe de estado. Khan foi condenado a três anos de cadeia, ou seja: Bolsonaro que se cuide.
"O que essas investigações sobre joias e desvios de presentes do acervo presidencial estão apontando é que tivemos aqui um chefe de Estado e uma primeira-família que se comportavam como chefe de Estado de uma república de bananas", criticou.
Sensação de impunidade de Bolsonaro se espalhou entre assessores, diz Tales
Tales Faria também comentou a respeito da notícia de que Mauro Cid arquivou em seu e-mail institucional um pedido de transferência de dinheiro para os Estados Unidos em nome do ex-presidente.
O documento contém até mesmo a assinatura de Jair Bolsonaro. Para o colunista do UOL, esse tipo de documento mostra que a sensação de impunidade se espalhou entre os assessores do ex-presidente.
Nos quatro anos em que esteve à frente do governo, ele julgava que seria um grande ditador, que o povo iria mantê-lo no poder durante muitos anos. E daí surgiu uma sensação de impunidade que se espraiou pros assessores.
"A turma toda ali achava que nunca seria descoberta e passou comungar do Bolsonaro a sensação que vinha do tipo de explicação que ele dava sempre: 'eu não tenho nada com isso'. Basta dizer que eu não tenho nada com isso que meus seguidores e bolsonaristas acreditam.
Tales ainda afirmou que, ao perceberem que perderam a eleição e que estavam com problemas para resolver, os envolvidos tentaram apagar as provas.
No final do governo, quando viram que estavam cheio de problemas para resolver porque perderam as eleições, coisas que eles não imaginavam que aconteceria, já que estavam fechando as estradas, quando viram aquele monte de coisa, tentaram apagar algumas provas, mas já não havia mais condições de apagar todas as provas. Era uma organização Tabajara, faziam roubos em grandes quantidades, só que de um jeito atabalhoado.
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