RS recebe da ONU casas emergenciais montáveis que são usadas por refugiados
O Rio Grande do Sul começou a receber da ONU equipamentos, objetos e unidades habitacionais utilizados por refugiados no Brasil e em outros países para atender vítimas da tragédia nos abrigos. A Acnur (Agência da ONU para Refugiados) vai adotar respostas a emergências internacionais adaptadas às necessidades do estado.
O que aconteceu
A Acnur, a agência da ONU para refugiados, já entregou oito unidades habitacionais ao estado. As estruturas ainda estão desmontadas, esperando destinação por parte do governo estadual. Segundo a Acnur, mais 200 unidades devem chegar de países da América Latina que possuem estruturas para abrigar refugiados. As casas devem atender cerca de mil pessoas.
Unidades habitacionais que chegaram ao RS foram usadas em Boa Vista para acolher venezuelanos. Thais Menezes, oficial de proteção no Acnur, explica que migrantes e refugiados em situação de vulnerabilidade foram abrigados nessas estruturas, em 2018.
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Experiência em respostas a emergências internacionais será utilizada no Rio Grande do Sul. "Estamos trazendo a experiência que temos na gestão de espaços como abrigos para refugiados e colocamos essa bagagem à disposição das autoridades brasileiras", afirmou ao UOL Rafael Mattar Neri, oficial sênior para emergências, da Acnur. Ele também esteve nos abrigos gaúchos para conhecer os espaços.
Além das unidades habitacionais, objetos e equipamentos também serão enviados. "Acordamos com o governo estadual, em articulação com o federal, que faremos a doação de itens de necessidade básica, lâmpadas solares, mosquiteiros, kits de higiene, esteiras para colocar debaixo dos colchões e galões de água", afirma Thaís.
Doações serão enviadas dos escritórios do Panamá e da Colômbia. O primeiro país por ser um centro logístico da Acnur na América Latina e o segundo por ter um estoque de unidades habitacionais disponíveis.
As casas são adaptadas a temperaturas extremas. "São unidades de emergências utilizadas em diferentes países e em contextos diversos", afirma Neri. Segundo ele, as casas emergenciais já ajudaram populações vulneráveis durante a crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19 e em países em situação de conflito armado, como Iraque, Ucrânia, Uganda, entre outros.
No Rio Grande do Sul, o destino das doações será decidido pelo governo do estado. "Fomos acionados na segunda semana de maio para começar as articulações com os governos", afirma a oficial da Acnur.
Neste momento em que as pessoas estão abrigadas em galpões e ginásios, precisamos dar uma resposta de emergência. Por isso, vamos usar algumas das unidades utilizadas na Operação Acolhida.
Thais Menezes, da Acnur
O que diz o governo
Definição sobre o destino das estruturas está em curso, diz vice-governador. "As estruturas poderão compor unidades habitacionais conforme a demanda", afirma Gabriel Souza (MDB),"sem confirmar se as casas farão parte das "cidades provisórias" anunciadas pelo governo. Segundo ele, a experiência da Acnur será "incorporada ao processo do estado, desde a concepção de medidas para a população desabrigada até a gestão de espaços de acolhimento".
"Vivemos fase de assistência humanitária", afirma Souza. A presença de instituições como a ONU é importante nesta etapa porque elas ajudam no planejamento e na execução de ações em apoio aos gaúchos com agilidade e eficiência. Em especial, na garantia do acesso a serviços básicos como educação, saúde e moradia.
Manuais da ONU são usados como referência para as "cidades provisórias", de acordo com o vice-governador. A participação da ONU também foi anunciada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) durante a divulgação do plano de reconstrução do estado, o Plano Rio Grande.
O objetivo é reunir o conhecimento adquirido por essas instituições com experiência em desastres. Essas parcerias podem resultar em planos mais robustos de restabelecimento e reconstrução.
Gabriel Souza, vice-governador do Rio Grande do Sul
Equipes da ONU em abrigos gaúchos
Equipes da ONU visitam abrigos. Thaís conversou com o UOL durante um deslocamento entre abrigos na cidade de São Leopoldo, uma das mais atingidas pelas chuvas. Somente na terça-feira (21), os membros da Acnur visitaram dois abrigos na cidade gaúcha.
Agência trabalha para identificar necessidades das vítimas. "Estamos fazendo um reconhecimento para identificar as principais demandas dos abrigados", explica. "Existem pessoas que estão nos abrigos e precisam de atendimento de saúde nos territórios, outras que precisam ser incluídas em programas de auxílio do governo. Vamos fazer esses encaminhamentos."
Há 43 mil pessoas refugiadas e que precisam de proteção internacional no Rio Grande do Sul, segundo a Acnur. Dessas, 35 mil estão inscritas no CadÚnico, cadastro do governo federal para identificar famílias de baixa renda incluídas em programas de assistência social.
Nesse primeiro momento, vamos apoiar as pessoas que estão chegando, recebê-las, estabelecer fluxos e encaminhá-las para os serviços públicos.
Thais Menezes, da Acnur
Experiência internacional na tragédia gaúcha
Refugiados podem ter ajuda financeira para se mudar. "Tudo está em processo, mas os refugiados que estão em situação de muita vulnerabilidade poderão receber subsídios para se mudar", afirma Neri, da Acnur.
Criação de infraestruturas comunitárias. Outra proposta baseada na atuação internacional do Acnur é a criação de espaços para convivência comunitária nesses locais.
Somos conscientes de que temos que promover a coexistência pacífica e a solidariedade. Na etapa de reconstrução, podem ser analisadas propostas territoriais que beneficiem o coletivo, como espaços esportivos, por exemplo
Rafael Mattar Neri, da Acnur
Protocolos para enfrentar violência de gênero e exploração sexual de meninas e mulheres. "Os abrigos podem se tornar locais de riscos sem a devida gestão. Por isso, é preciso capacitar os profissionais e voluntários", diz o oficial do Acnur. Segundo ele, a ONU tem alguns protocolos utilizados internacionalmente em abrigos que poderiam ser adaptados ao contexto gaúcho para coibir eventuais casos de violência.
Em Porto Alegre, há atualmente uma equipe de dez pessoas da agência da ONU para trabalhar nos abrigos.