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PF vê elo de 'Abin paralela' com trama golpista do 8/1

Do UOL, em Brasília

12/07/2024 04h00

A estrutura montada pela "Abin paralela" no governo de Jair Bolsonaro (PL), segundo a Polícia Federal, atuou em ao menos 21 episódios com o objetivo de atacar instituições e autoridades dos três Poderes por meio de dossiês, em uma lógica que ajudou a alimentar, direta ou indiretamente, as manifestações golpistas do 8 de Janeiro.

O que aconteceu

Nova fase de investigação reforça suspeitas de que grupo alimentou movimentos golpistas. Operação deflagrada na quinta (11) mirou pessoas que atuaram na Abin durante a gestão de Alexandre Ramagem (PL-RJ) para produzir dossiês contra autoridades e difundi-los por meio de integrantes do "gabinete do ódio" lotados no Palácio do Planalto. Também foram usados entre 2019 e 2022 perfis nas redes sociais alinhados a Bolsonaro.

Investigação listou 21 episódios nos quais a estrutura da Abin teria sido utilizada de maneira indevida para atender interesses de Bolsonaro. Há mais arquivos localizados em buscas de fases anteriores que ainda estão sendo analisados.

A PF vinculou as ações de inteligência paralela às tentativas golpistas. Também solicitou para Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF, o compartilhamento de informações com outros processos em curso no Supremo contra Bolsonaro, como as ações sobre a tentativa de golpe de Estado e sobre fraudes no cartão de vacina.

Com isso, indica que vai tratar todas as suspeitas envolvendo o ex-presidente como parte de uma grande organização. Segundo a PF, o grupo teria utilizado diferentes métodos para atingir os interesses políticos do ex-presidente, da perpetuação no poder ao enriquecimento ilícito (como ficou registrado no relatório final do inquérito sobre a venda das joias).

Em mensagens trocadas pelos presos pela PF ontem, eles mostram saber que existia uma minuta de decreto golpista. Um deles pergunta se "nosso PR imbrochável já assinou a porra do decreto".

Troca de mensagem entre policiais comprova que eles estavam cientes de tentativa de golpe Imagem: Reprodução/Inquérito/PF

Ações da "Abin paralela" incluíram ataques ao STF, ao TSE, ao Congresso Nacional, a opositores e às urnas eletrônicas. Nos dossiês, havia boatos inventados sobre Moraes, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e seus parentes. Tentaram, por exemplo, criar um vínculo falso da ex-esposa de Barroso a uma empresa que presta serviços ao TSE.

Lira também estava na lista dos alvos. O grupo tentou levantar informações sobre possíveis irregularidades envolvendo assessores do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Um dos suspeitos admite isso em diálogo.

Para a PF, a PGR (Procuradoria-Geral da República) e Moraes, a estratégia do grupo se insere na lógica das manifestações golpistas:

As ações clandestinas realizadas por meio do aparato estatal materializaram o intento deliberado para: a) atacar instituições (STF, Congresso Nacional, TSE e outras); b) ataques por meio de difusão de notícias falsas contra opositores; c) ataques contra o sistema eletrônico de votação e outros. As ações clandestinas potencialmente se situam, portanto, na linha de desdobramento natural dos eventos que deram causa à tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
Trecho de representação da Polícia Federal que levou à operação desta quinta-feira

Os elementos condensados na representação policial revelaram que a estrutura infiltrada na Agência Brasileira de Inteligência representava uma célula de organização criminosa mais ampla, voltada ao ataque de opositores, instituições e sistemas republicanos. As ações do grupo criminoso não se esgotam em um único inquérito, sendo importante o compartilhamento das provas para o melhor enquadramento das condutas praticadas.
Parecer do procurador-geral da República, Paulo Gonet

As investigações apontam que as mencionadas ações clandestinas ensejaram, motivaram e causaram, direta ou indiretamente, a tentativa de golpe de Estado ocorrida em 8 de janeiro de 2023, que pretendia abolir nosso Estado Democrático de Direito e instituir uma ditadura e cujas investigações e processos já acarretaram mais de 230 condenações.
Decisão do ministro Alexandre de Moraes que autorizou a operação desta quinta

Como era o esquema

Dois servidores atuavam no esquema na Abin, segundo a investigação. O agente da PF Marcelo Bormevet e o militar Giancarlo Rodrigues. Eles teriam usado a estrutura da agência para atender a interesses políticos do governo Bolsonaro, além de monitorar e atacar opositores.

Conversas de WhatsApp mostram proximidade com Ramagem. Na época, Giancarlo estava subordinado a Bormevet, que era um homem de confiança de Ramagem e tinha contato direto com o então chefe da Abin. As mensagens mostram que cabia a Giancarlo fazer a maior parte dos levantamentos de informações, inclusive utilizando alguns softwares de espionagem, como o First Mile.

Diálogos também apontam ligação com integrantes do "gabinete do ódio" no Planalto. Giancarlo falava com assessor lotado no Palácio do Planalto e também com donos de perfis que difundiam fake news nas redes sociais. Eles eram, segundo a PF, abastecidos com informações fornecidas pelo militar.

Os dois foram presos preventivamente ontem. Além deles, também foram detidos:

Matheus de Carvalho Sposito, que foi assessor no Ministério das Comunicações no governo Bolsonaro e é suspeito de também atuar para o "gabinete do ódio";

Richards Pozzer, que divulgava notícias falsas em suas redes sociais e chegou a publicar ataques contra senadores da CPI da Covid;

Rogério Beraldo de Almeida, influenciador que, assim como Pozzer, divulgava notícias falsas repassadas por servidores da Abin.

Os 21 episódios de uso indevido da estrutura da Abin, segundo a PF

Monitoramento do ex-deputado federal Jean Wyllys e de seus familiares - o telefone dele foi rastreado

Vigilância dos ex-deputados federais Rodrigo Maia e Joice Hasselmann - monitoraram reunião deles

Ação clandestina contra servidores do Ibama - rastrearam servidores com uso do software espião First Mile

Ação clandestina contra a jornalista Luiza Alves Bandeira - levantaram informações contra ela

Ação clandestina contra o jornalista Pedro Cesar Batista - levantaram informações contra ele após ter organizado um ato contra Bolsonaro

Ação clandestina em investigação contra Jair Renan Bolsonaro - tentativa de interferência nas investigações

Ação clandestina em investigação contra Flávio Bolsonaro - tentativa de interferência nas investigações

Ação clandestina em investigação do caso Marielle Franco - monitoraram a promotora do caso no Ministério Público do Rio, Simone Sibilio

Ação clandestina em investigação do caso Adélio - criaram fake news sobre o caso, vinculando Adélio a membros da oposição e a jornalistas

Ações clandestinas contra o ministro Alexandre de Moraes - produziram dossiês com fake news sobre ele e podem ter usado sistemas clandestinos de espionagem

Evento "caçar podre" dos deputados federais Kim Kataguiri e Arthur Lira - levantaram informações de assessores deles

Ação clandestina contra Sleeping Giants Brasil - levantaram informações pessoais dos responsáveis pelo grupo para serem expostas nas redes

Ação clandestina contra Anna Livia Solon Arida - levantaram informações sobre ela para serem expostas nas redes

Ação clandestina contra o Instituto Sou da Paz - levantaram e divulgaram informações sobre a ONG

"Exposed" de funcionários do Twitter - levantaram informações pessoais de funcionários da rede social para serem divulgadas nas redes

Ação clandestina contra a jornalista Mônica Bergamo e o ex-governador João Doria - buscaram informações e produziram fake news sobre eles

Ação clandestina contra as agências de checagem Aos Fatos e Lupa - produziram dossiês contra as agências

Ação clandestina contra o diretor da Polícia Federal e o ministro Dias Toffoli - levantaram informações falsas vinculando o chefe da PF na época ao ministro do STF

Ações clandestinas contra os senadores Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues - levantaram informações sobre servidores deles

Ações clandestinas contra o senador Alessandro Vieira - levantaram informações contra ele após ele pedir o depoimento de Carlos Bolsonaro na CPI da Covid

Ação clandestina contra o ministro Luís Roberto Barroso - tentaram levantar informações para atacar sistema eleitoral e parentes do ministro.

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