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Governo deixa de publicar dados sobre mortes de yanomamis após alta em 2023

Equipe do SUS atende indígenas em território Yanomami, em 2023 Imagem: Fernando Frazão / Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

26/07/2024 04h00

Desde que constatou um aumento no número de mortes na terra indígena Yanomami, no início do ano, o governo federal parou de publicar boletins periódicos sobre óbitos e doenças no território.

O que aconteceu

O Ministério da Saúde ainda não divulgou dados de mortes de yanomamis em 2024. O informe mais recente saiu no final de fevereiro, mas só mostra números até 31 de dezembro do ano passado. Desde então, a pasta não publicou mais nenhum boletim.

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A frequência de publicação dos relatórios diminuiu ao longo de 2023. Em fevereiro daquele ano, após decretar emergência de saúde no território, o governo divulgava informes diários sobre mortalidade, evolução das doenças e atendimento aos indígenas. No fim de março, os informes passaram a ser semanais e, a partir de agosto, se tornaram mensais.

Os registros oficiais de mortes de yanomamis cresceram 5,8% em 2023. No boletim mais recente, a Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) contabilizou 363 óbitos no ano passado, contra 343 em 2022. Os números, no entanto, estão "sujeitos a alteração" porque os casos ainda são investigados. Um dos motivos, segundo a secretaria, é que costuma haver diferença entre a data da morte e o registro no sistema, devido às dificuldades de acesso ao território.

O ministério diz que houve subnotificação de casos no governo Bolsonaro. No boletim mais recente, publicado em fevereiro deste ano, a pasta relatou que a falta de registros "foi causada pela precarização da estrutura dos serviços e sistemas de saúde indígena dos últimos anos". Ou seja, o total de 343 mortes em 2022 também pode ser revisto.

Procurado pelo UOL, o governo afirmou que "divulgará em breve um balanço com dados atualizados". Em nota, o ministério afirmou que os números estão passando por revisão das áreas técnicas da Sesai e da SVSA (Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente).

A pasta acompanha a situação Yanomami ininterruptamente e tem implementado ações para aumentar a assistência em saúde e o bem-estar indígena. Além disso, atua de forma transversal com outras pastas para garantir o direito ao território indígena e o restabelecimento pleno da cultura Yanomami
Nota do Ministério da Saúde

Imagem: Arte/UOL

Indígenas relatam persistência de malária e subnutrição

Líderes Yanomami ouvidos pelo UOL afirmam que problemas crônicos persistem nas aldeias. Eles reconhecem que o atendimento médico melhorou e que o número de garimpeiros no território caiu de forma sensível, mas relatam que a malária e a subnutrição continuam disseminadas.

Para Junior Yanomami, presidente da associação Urihi, o quadro de malária é "estarrecedor", matando principalmente crianças. A crise persiste mesmo em áreas que já foram liberadas do garimpo, porque elas permanecem desmatadas e cheias de poças d'água, uma condição que favorece a proliferação do mosquito transmissor.

É o caso da região de Auaris, no extremo noroeste do território. O líder Matheus Sanöma, que representa as aldeias da região, afirma que a reforma do polo-base de Auaris, concluída em junho, facilitou e agilizou os atendimentos, mas adultos e crianças seguem morrendo por malária, pneumonia e diarreia.

Muitas aldeias continuam dependentes de cestas básicas. Junior Yanomami diz que a crise agravada nos últimos anos prejudicou a agricultura tradicional, e é preciso um projeto robusto para recuperar a produção. "Nós vemos a entrega de cestas básicas como algo emergencial. Mas é necessário agora um plano para agricultura sustentável, que beneficiará a população de maneira contínua", cobrou.

É preciso um plano bem elaborado pra minimizar o que a malária tem feito com a população Yanomami. Muitos pacientes não terminam os tratamentos pela falta de alimentação, e o medicamento usado é muito forte, atinge bastante o fígado. Outros contraem malária várias vezes, por causa das regiões que habitam
Junior Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami

A malária é um problema antigo. Como nossa região é muito isolada, os doentes graves precisavam ser levados de helicóptero de Auaris para Boa Vista. Com o aumento do atendimento no posto, essa situação está melhorando, mas ainda estão morrendo muitas crianças
Matheus Sanöma, presidente da Ypassali Associação Sanuma

Áreas degradadas no território Yanomami seguem como vetores de malária após expulsão dos garimpeiros Imagem: Fernando Frazão - 10/02/2023/Agência Brasil

Governo diz que indicadores de saúde melhoraram

O governo afirma que está "melhorando os indicadores de saúde" no território Yanomami, mas não apresentou dados. O UOL pediu números sobre a evolução do combate à malária e outras doenças em 2024, mas a pasta só tratou dos investimentos na região, que vão desde a construção ou reforma das unidades de saúde até o aumento no número de profissionais em campo.

O ministério informa que reabriu sete polos-base, que centralizam serviços de saúde e saneamento. A maioria havia sido desativada na gestão Bolsonaro devido a ataques ou ameaças de garimpeiros, que expulsaram ou ameaçaram os agentes do SUS na região.

Sobre a subnutrição, o governo destaca que inaugurou, em junho, um refeitório para os indígenas em Boa Vista. A estrutura fica na Casa de Saúde Indígena Yanomami e serve cinco refeições diárias a mais de 500 pacientes. No local, estão internados os indígenas que tiveram que ser removidos de suas aldeias, mas a produção de alimentos nas próprias comunidades continua comprometida.

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