Lula foge de disputa por sucessão de Lira e só deve se meter na véspera
O presidente Lula (PT) não vai se meter na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados —pelo menos por enquanto.
O que aconteceu
O mandato de Arthur Lira (PP-AL) acaba em fevereiro de 2025, mas as negociações já estão aceleradas. Por ora, o Planalto não vê vantagem em declarar apoio a ninguém, embora tenha seus nomes preferidos, e deverá deixar para fazer articulação mais explícita às vésperas da votação.
Dos três mais cotados, o Planalto vê Antônio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP) com bons olhos. Elmar Nascimento (União-BA), aliado mais próximo de Lira, é o que menos desperta simpatias do governo.
Relacionadas
Ministros já têm indicado —e articulado por— suas preferências, enquanto Lula busca manter a imagem republicana. Mesmo que já conte com o enfraquecimento de Lira, o presidente avalia junto a interlocutores que um possível apoio explícito a qualquer nome poderia minar essa candidatura e atrapalhar a relação com o Legislativo nos meses que faltam até a escolha do sucessor do alagoano.
Por que não
Lula prometeu a lideranças da Câmara não se envolver na disputa em reunião nesta semana. Na presença de Elmar e Brito, ele afirmou que não repetiria o "erro" da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que apoiou um candidato do PT contra o ex-deputado Eduardo Cunha (então MDB) e, assim, ganhou um inimigo no comando da Câmara.
Internamente isso já estava acertado. Lula tem repetido a ministros, parlamentares e apoiadores que não vai encampar nenhuma candidatura. Oficialmente, diz que "não é assunto do Executivo", mas todos admitem que há uma estratégia por trás disso.
Três motivos norteiam essa escolha. O primeiro é, como insinuou Lula, não escolher um candidato que possa vir a perder; o segundo é não confrontar Lira enquanto ele ainda tem a caneta; e o terceiro é que o silêncio pode ajudar mais, sob a luz do embate sobre a suspensão das emendas parlamentares.
O exemplo de Dilma assombra o Planalto. Lula não cansa de repetir que, com 80 deputados da federação petista, tem minoria na Casa e precisa negociar tudo —alguns brincam até que nem os 80 estão tão do lado do governo assim. Para a disputa, a lógica é a mesma. Entrar na briga e perder poderia deixar o Executivo em maus lençóis com um possível presidente de oposição, o que dificultaria ainda mais a já complicada vida dos articuladores palacianos.
Também não há por que enfrentar Lira agora. Pelo Planalto já se diz que o café de Lira está esfriando, mas ele ainda segura a xícara. Se seu poder está cada vez mais limitado, em especial se não conseguir controlar os destinos das emendas, ele ainda é o presidente de uma Casa em que o governo precisa aprovar coisas relevantes neste ano. Um embate direto é tudo o que Lula não deseja.
A gestão tem ainda receio de ajudar a pender a votação para o lado errado. Como manter ou não as chamadas "emendas Pix" tem sido moeda de troca nas negociações da Câmara, o Planalto avalia que declarar preferência explícita a um nome, seja ele favorito ou não, poderia desidratá-lo. Alguns poderiam penar que o candidato apoiado por Lula poderia se comprometer a tomar o lado do Planalto na distribuição dos recursos.
'Na hora certa'
Ainda é cedo, dizem aliados. Articuladores e membros do governo lembram que, por mais que debates e negociações se deem mais de um ano antes, o jogo é decidido mesmo em janeiro. Pessoas que participaram de outras gestões petistas dizem lembrar de candidatos que viraram o ano eleitos, mas, no dia, não ficaram com o cargo.
Tudo acontecerá na hora certa, insistem. Pessoas próximas à cúpula governista dizem que, quando sentir que for possível, às vésperas da votação, o Planalto deverá articular, sim —inclusive negociando com quem tiver mais chances de ganhar. Garantir uma gestão tranquila para Lula é o objetivo final.
Por fim, sem o PT, faz menos diferença. Acostumado a negociar, Lula deixa claro que, embora Brito e Pereira tenham melhor interlocução com ministros palacianos como Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), eles não são "de casa", o que traz necessidade de articulação de qualquer forma. Se fosse um petista, poderia ser mais tranquilo, mas já está certo que isso não vai acontecer.