OPINIÃO
Josias: Tática de Bolsonaro de negar crime e terceirizar não cola mais
Colaboração para o UOL
22/11/2024 11h23
Jair Bolsonaro recorre à conhecida estratégia de negar seu envolvimento na trama golpista e terceirizar a culpa pelos crimes cometidos, mas esta tática não funciona mais, disse o colunista Josias de Souza no UOL News desta sexta (22).
Ontem, a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e mais 36 pessoas sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O ex-presidente afirmou em entrevista à revista Veja que nunca discutiu qualquer estratégia para matar autoridades. Segundo a PF, militares próximos ao governo dele elaboraram um plano para assassinar Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
A defesa do Bolsonaro passa por dois pilares. O primeiro é a terceirização da culpa e o segundo, a vitimização.
Bolsonaro opera sempre da mesma maneira. Sempre que o acusam de algum crime, ele nega; quando surgem as provas, terceiriza as responsabilidades. Ele nunca é responsável por nada, por coisa nenhuma.
Ocorre que agora, tanto a vitimização quanto a terceirização de responsabilidades tornaram-se estratégias gastas. Bolsonaro agora tem diante dele um inquérito com mais de 800 páginas, que resultou no indiciamento dele e de outras 36 pessoas. E há nessas mais de 800 páginas uma profusão de evidências que vinculam o Bolsonaro a essa criminalidade golpista.
Então, esse lero-lero do 'eu não tenho nada a ver com isso' não cola diante das evidências que lá estão. Ele precisará arrumar algo que se pareça com uma defesa crível. A vitimização perdeu o sentido e o nexo.
Josias de Souza, colunista do UOL
Josias destacou que Bolsonaro repete atitudes desleais que já havia protagonizado quando esteve no Exército, com diversos episódios de indisciplina e de quebra de hierarquia.
Se raciocinarmos do ponto de vista historiográfico, se o Bolsonaro ensina alguma coisa é que a História acaba se repetindo quando não prestamos atenção aos sinais que ela emite. Bolsonaro é a personificação da reincidência.
Quando era militar, ele foi em cana na década de 80, condenado por decisão unânime de um conselho militar porque foi acusado de desejar, tentar e planejar a explosão de prédios militares. Alheio aos sinais da História, o Superior Tribunal Militar produziu um arranjo que permitiu ao Bolsonaro sair pela porta lateral, em vez de expulsá-lo e enxotá-lo pelos fundos.
Ele, que vestindo farda era um líder sindical dentro do quartel, levou seu sindicalismo para o mundo da política. Este personagem, com toda sua precariedade, apresentou-se ao eleitorado como um candidato antissistema e foi eleito. Nada mais sistêmico do que Bolsonaro. Josias de Souza, colunista do UOL
Tales: Chefe do golpe, Bolsonaro deixa política da violência como herança
O ex-presidente Jair Bolsonaro deixa ao Brasil a assustadora herança da política baseada na violência, comprovada por seu papel central na trama golpista.
É praticamente certo que o Bolsonaro acabará condenado como o artífice do golpe de Estado, o chefe do movimento golpista. No entanto, nem acho isso o mais grave.
O mais grave é o Bolsonaro ter sido o chefe, o artífice, o comandante da política de violência. Desde a década de 90, ele já defendia guerra civil, violência, tortura, todas essas coisas. E é essa herança que ele está deixando. Ele saiu do governo e o país continua com casos que nunca havia por aqui, como homens-bomba na frente da praça dos Três Poderes.
Ele desenvolveu e incentivou uma política armamentista no governo, dizendo que 'povo armado é povo livre'. As pessoas passaram a andar armadas, com mais e mais casos de mortes violentas nas escolas. Com essas descobertas, sabemos que virá um tempo conturbado.
Nem todos os bolsonaristas são assim, mas há um núcleo violento incentivado pela ideologia de violência de um presidente da República. Isso deixa marcas na sociedade, e é o mais grave de tudo desse tempo em que o Bolsonaro encabeçou uma parte do pensamento dos brasileiros. Tales Faria, colunista do UOL
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Reale Jr.: Cabe pedir prisão domiciliar a Bolsonaro ou uso de tornozeleira
A adoção de novas medidas cautelares a Jair Bolsonaro, como prisão domiciliar e uso de tornozeleira eletrônica, é cabível durante as investigações do envolvimento do ex-presidente na trama golpista, explicou o jurista Miguel Reale Jr. Para ele, não se justificaria um pedido de prisão preventiva de Bolsonaro neste momento, sob risco de acelerar a apresentação de uma denúncia - o que aumentaria as chances de comprometer todo o processo por conta de pontas soltas.
A prisão preventiva exige algumas condições. A primeira delas é a contemporaneidade. São fatos ocorridos há quase dois anos. O que justificaria a prisão preventiva de Bolsonaro nesse instante? Isso geraria um problema, que é a urgência na apresentação de uma denúncia. Uma prisão preventiva exige, em uma fase de inquérito, que haja a propositura de uma ação penal em tempo razoável. Se não, esgota-se o tempo e ela é revogada.
Eu creio que novas medidas podem ser adequadas e adotadas, como aquelas não restritivas à liberdade. Bolsonaro já está com o passaporte retido e não pode se ausentar do país. Seria o caso de se estabelecer, nessa hipótese, uma prisão domiciliar ou uma tornozeleira eletrônica para efetivamente se ter o monitoramento e o controle das relações que ele possa vir a ter com algum dos conspiradores. Deve-se prevenir que continue a haver conspiração. Miguel Reale Jr., jurista
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