'Esse feminismo não me acolheu', diz mulher de Almeida, acusado de assédio
Do UOL, em São Paulo
07/11/2024 10h02Atualizada em 07/11/2024 13h15
Em um desabafo no Instagram, a modista Ednéia Carvalho, esposa do ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida, disse que não tem sido fácil "conviver com a injustiça" nos dois últimos meses. Seu marido foi demitido pelo presidente Lula em setembro, após denúncias de assédio moral e sexual, e é alvo de um inquérito, autorizado pelo STF.
O que aconteceu
"Esses últimos dois meses não têm sido fáceis, conviver com a injustiça, tirarem a sua paz é algo que nem sei explicar", escreveu Ednéia. A modista postou uma foto em que aparecem ela, Silvio Almeida e a filha do casal, Anesu. "Faz 1 ano e 3 meses que vivo a maternidade e a sensação é que o puerpério não acabou."
"Fala-se tanto em pautas feministas, mas esse mesmo feminismo não me acolheu", comentou. "Nunca vou esquecer das vezes que tive que amamentar a minha filha em meio a uma tristeza profunda."
Relacionadas
Lamento muito que pautas sérias estejam sendo banalizadas por interesses pessoais, mas apesar de tudo, estou bem, sigo cuidando da minha família.
Ednéia Carvalho, modista
Ednéia afirmou que sua família foi acolhida por muitos amigos e abandonada por outros. "Estou feliz por estar na minha casa (SP), BSB [Brasília] não me fez bem, sentirei falta das boas amizades que lá fizemos, mais nada, mas essas mesmas amizades levaremos para a vida toda", disse ela. "No meio desse furacão tivemos a certeza que temos amigos, os melhores, os mais companheiros, os mais fiéis."
Teve quem pulou do barco, teve quem soltou a nossa mão, mas uma minoria que chega a ser irrelevante tamanha foi a rede de apoio que recebemos, inclusive aqui mesmo nessa mesma rede que massacrou minha família.
Ela concluiu endereçando uma mensagem ao marido. "Seguimos ansiosos por justiça, meu amor, conte comigo sempre, amo vc demais!", concluiu.
O inquérito contra Almeida
Silvio Almeida foi demitido após acusações de assédio serem noticiadas pela imprensa. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, confirmou a colegas ter sido uma das vítimas.
STF autorizou abertura de inquérito contra o ex-ministro. O ministro André Mendonça autorizou no dia 17 de setembro a abertura de inquérito para investigar as acusações de assédio sexual. A PGR (Procuradoria-Geral da República) foi favorável à investigação, após pedido da Polícia Federal.
Anielle disse à PF que importunação sexual de Silvio Almeida começou em 2022 e escalou. No início de outubro, em depoimento à PF, a ministra afirmou que as "abordagens inadequadas", como definiu, começaram no fim de 2022, quando os dois passaram a fazer parte do grupo de transição de governo nomeado por Lula antes da posse dele como presidente da República, segundo noticiou a coluna de Mônica Bergamo, na Folha.
Lula divulgou nota após demitir o então ministro. "O presidente considera insustentável a manutenção do ministro no cargo considerando a natureza das acusações de assédio sexual", informava o comunicado.
Almeida nega as acusações. Em nota divulgada após a demissão, o ex-ministro disse que pediu para ser demitido pelo presidente Lula (PT) e que vai provar ser inocente das acusações de assédio sexual contra mulheres.
Ministério foi alvo de denúncias de assédio moral e pedidos de demissão em série. Reportagem do UOL já havia mostrado que esses episódios envolvendo a pasta ocorreram desde o início da gestão, em janeiro de 2023 — o ministro também nega essas acusações.