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Mourão admite plano golpista, mas diz que era 'troço sem pé nem cabeça'

Do UOL, em São Paulo

16/12/2024 09h37

O ex-vice-presidente da República, general da reserva e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) admitiu o planejamento de um golpe "bem tabajara" no governo Jair Bolsonaro (PL) para impedir a posse de Lula (PT) em 2023.

Mourão reconheceu que uma ala das Forças Armadas discutiu o golpe em encontros que "não levaram a nenhuma ação". "Em tese, houve reuniões, mas não levaram a nenhuma ação", disse ele ao jornal O Globo em entrevista concedida antes da prisão do general Walter Braga Netto, no sábado (14).

Na linguagem militar, nós definimos como 'ações táticas' tudo aquilo em que há movimento. Não houve nada disso. Houve pensamento, não passou disso.

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É uma conspiração bem tabajara, conversas de WhatsApp.
General Hamilton Mourão

Ele comparou a trama a outras tentativas de golpe pelo mundo. "Vamos combinar: golpe não funciona assim. Golpe é como você viu aí na Síria, na Venezuela, na Turquia. É tropa na rua, é tiro, é bomba", afirmou.

Papel do Exército

Para Mourão, seria necessário que o Alto Comando do Exército aderisse ao golpe, o que não aconteceu. "Claro que seria [necessário adesão do Alto Comando]. Como funcionaria um golpe? Você vai fazer o quê? Fechar o Congresso? Qual objetivo do golpe? Impedir a posse? Não tem nada disso. É um troço sem pé nem cabeça", afirmou.

O Exército se baliza por três vetores: trabalhando dentro da legalidade, usando legitimidade e mantendo a estabilidade do país. O Exército não pode ser fator de instabilidade. É óbvio que uma reversão de um processo eleitoral na base da força lançaria o país num caos. Então, o Exército agiu dentro desses vetores. Foi a atitude correta do [general] Freire Gomes [que recusou o golpe], não há o que contestar.
General Hamilton Mourão

Assassinato de Lula

O ex-vice-presidente desqualificou as investigações da Polícia Federal que revelaram um plano de uma ala do Exército para matar Lula, então recém-eleito, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Acho essas questões totalmente fora do contexto. Essa investigação da PF, que levou praticamente dois anos, é um escarafunchar de conversas de WhatsApp e de algumas mensagens de e-mails trocados. A gente nunca sabe o contexto em que isso foi efetivamente tratado.

E também me chama atenção a questão de que eles diziam 'vamos ter armas, mas vamos matar por envenenamento'. Então pra que ter arma? São coisas surreais, na minha visão.

Os que em estão indiciados me parece um grupo pequeno e que não tinha a mínima condição de executar aquilo que em tese estaria dito que eles iriam executar.
General Hamilton Mourão

Ele admitiu ainda que "sabia que havia reuniões no Palácio da Alvorada depois do segundo turno". "Na época, o presidente com os comandantes, o Braga Netto, mas desconheço os assuntos", disse ele, que alega desconhecer "toda e qualquer conversa nesse sentido [golpe]". "Nenhuma vez fui chamado para reunião dessa natureza", disse.

No X, Mourão escreveu que a prisão de Braga Netto atropelou a lei porque o general de quatro estrelas não representaria risco.

Lula venceu por erros do governo

19.abr.2022 - Hamilton Mourão ao lado do então presidente presidente Jair Bolsonaro Imagem: Evaristo Sá/AFP

Mourão atribuiu a derrota de Bolsonaro em 2022 a "deficiências nossas". "Do nosso grupo, que não trabalhou direito naquela eleição", disse. "Bolsonaro perdeu mais por idiossincrasias que ocorreram ao longo do mandato do que pelo Lula."

Questões que enfrentamos na pandemia, que geraram frisson na sociedade, e pessoas deixaram de votar.

A questão principal sempre foi evitar comentários sobre uma área técnica que a gente não domina.

Acho que foram [comentários de Bolsonaro] desnecessários [sobre a pandemia].
General Hamilton Mourão

Mourão também minimizou seu distanciamento de Bolsonaro ao longo do mandato. "O vice-presidente tem que ter um papel discreto, até porque ele não tem papel nenhum", disse, ao não descartar Bolsonaro na corrida eleitoral e 2026, embora o ex-presidente esteja inelegível por oito anos após decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Neste país, tudo é possível. Vamos lembrar que, até dois anos antes da eleição, o presidente Lula também não poderia se eleger. Os nomes estão voando e vai chegar um momento em que será necessária uma junção de forças. O que não pode é nos apresentarmos divididos.
General Hamilton Mourão

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