No fundo da casa do ajudante-geral Geraldo Magela Tomás, 56, no bairro Capim Cheiroso, passa um córrego que vai transbordar se a barragem Sul Superior da Vale se romper. O aviso das autoridades foi feito em 8 de fevereiro, quando Geraldo ouviu a sirene tocar pela primeira vez e fez a mala com uma muda de roupa e documentos.
Depois disso, a sirene soou de novo, em 22 de março, veio também a saga do talude alardeado para cair na semana de 18 a 25 de maio, e a mala de Geraldo seguiu firme no mesmo lugar, em um canto do quarto onde não atrapalha ninguém.
_ O senhor vai desfazer a mala quando o risco do talude for afastado?, pergunto ao encontrar Geraldo na principal praça de Barão de Cocais no dia 28.
_ Não, senhora, diz ele.
_ Vai esperar a barragem sair do nível máximo de alerta?
_ Também não, senhora.
_ Quando, então, seu Geraldo?
_ Só desfaço a mala quando fecharem a barragem.
Por lei, a Vale tem que fechar --o termo correto é descaracterizar-- a barragem da mina de Gongo Soco até fevereiro de 2022. Até isso acontecer, a mala fica onde está. Porque, apesar de dizer que não acredita que a barragem vá mesmo se romper e o rejeito chegar ao seu quintal, a ponto de invadir sua casa, ele prefere não arriscar.