Em 10 de julho de 2017, a cabeleireira Bruna Maria dos Santos, 31, recebeu uma ligação que informava que seu irmão mais velho, o pedreiro José Filho dos Santos, 33, havia sido baleado e morto por um policial militar enquanto preparava o jantar em casa para comer com a mulher e as duas filhas --uma de 6 anos, outra recém-nascida.
Bruna fechou o salão em que trabalha, em Guarulhos (SP), e seguiu para a casa do irmão, na cidade de Mairiporã, distante 20 km. Lá, ouviu dos moradores que um policial militar, vizinho de José, se ajoelhou em frente à porta do pedreiro e disparou duas vezes porque ele se recusou a reduzir o volume do aparelho de som. Eram cerca de 17h30.
A viúva de José estava tomando banho. A filha de 6 anos, ao perceber a discussão entre o pai e o policial, foi para debaixo da cama. Contou à tia cabeleireira que viu o pai sendo morto logo após ter sido chamado pelo policial para que ele fosse até a porta.
Na delegacia, o policial alegou legítima defesa. Disse que atirou porque o pedreiro tentou perfurá-lo com um facão. Afirmou que foi até o local porque a vítima estava agredindo a criança --o laudo pericial não apontou lesões na filha.
Por falta de elementos probatórios, o inquérito foi arquivado. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que a investigação apurou todos os fatos relacionados à ocorrência.
Desacreditada da investigação, polícia e Estado, a cabeleireira Bruna decidiu se tornar advogada. "Como o crime tem 20 anos para prescrever, eu posso fazer algo", diz a estudante de direito.