Desde então, a Venezuela já enviou em média pelo menos 55 mil barris de petróleo por dia para a ilha, ou mais de US$ 21 bilhões em petróleo, segundo números do governo. Em troca, Cuba enviou médicos, professores e especialistas em agricultura para diversificar a economia de base da Venezuela.
Em 2002, a elite da Venezuela se cansou de Chávez. Em abril, líderes da oposição conservadora se uniram a chefes das Forças Armadas, incluindo altos oficiais do DIM, e o detiveram. Mas o golpe, após um enorme levante popular, fracassou após dois dias.
De volta ao poder, Chávez colocou assessores cubanos dentro de seu círculo interno para reforçar a segurança, segundo seus ex-assessores e vários ex-oficiais militares. Ele deu início a um expurgo do serviço de inteligência e de outros altos escalões das Forças Armadas.
Nomeou Hugo Carvajal, um tenente-coronel que participou da tentativa de golpe de Chávez em 1992 e posteriormente chefiou a divisão de investigações da DIM, como subdiretor. Em dois anos, Carvajal passou a diretor-geral.
Carvajal começou a modernizar o DIM. Em um email para a Reuters, Carvajal disse que Banco Central da Venezuela forneceu milhões de dólares em espécie para o DIM para aquisição de nova tecnologia, incluindo equipamento de vigilância e um banco de dados para centralizar a inteligência.
Agora fora do cargo, ele sofre sanções impostas pelo Departamento do Tesouro dos EUA por supostamente ajudar guerrilheiros colombianos. Em abril do ano passado, ele foi preso na Espanha e permanece detido em resposta a um mandado americano por suposto tráfico de drogas. Ele nega as acusações.
Em julho de 2007, Chávez nomeou Gustavo Rangel, um oficial leal que comandou a reserva do Exército, como ministro da Defesa.
Em sua posse, Rangel falou sobre a necessidade de um "novo pensamento militar venezuelano" em resposta ao "inimigo real". O "império", ele disse, usando o termo empregado por Caracas para se referir aos EUA, patrocinava "grupos subversivos" com a intenção de destruir a revolução. Ele não foi encontrado para comentar.
Em dezembro daquele ano, Chávez perdeu o referendo de forma legítima. Pela televisão, ele prometeu uma "nova ofensiva". Em um encontro em Caracas em 26 de maio de 2008, Rangel e o general Álvaro López, o vice-ministro da Defesa de Cuba, assinaram os dois acordos.
O Ministério da Defesa de Cuba supervisionaria uma reestruturação do DIM e assessoraria na criação de "novos órgãos". O DIM também enviaria grupos de até 40 oficiais para Havana por até três meses para treinamento de espionagem.
Segundo os documentos, a Venezuela enviaria currículos dos candidatos a treinamento para seleção por Cuba. Os cursos incluiriam lidar com "colaboradores secretos", realizar investigações criminais e selecionar novos agentes.
Grande parte do treinamento, segundo os documentos, ocorreria na Academia Militar Comandante Arides Estévez Sánchez, em Havana. Lá, instrutores cubanos diziam aos agentes que a missão deles dali em diante seria de infiltração e controle das Forças Armadas, segundo cinco pessoas familiarizadas com os cursos.
O segundo acordo criou um comitê conhecido como Grupo de Coordenação e Ligação da República de Cuba (Gruce). O Gruce, composto de oito "especialistas militares" cubanos, enviaria assessores cubanos para a Venezuela para inspeção das unidades militares e treinamento dos soldados.
Um ex-oficial da inteligência venezuelana lembrou o treinamento que recebeu de instrutores cubanos em uma fazenda em Anzoátegui. Ele disse que os instrutores pressionavam os estudantes com perguntas sobre suas crenças políticas.
Chávez venceu em novo referendo que acabava com os limites de mandato. Em 2011, mudou o nome do DIM para incluir o termo "contrainteligência", refletindo sua missão de impedir sabotagem interna.
Recém-saídos do treinamento cubano, os novos agentes começaram a se infiltrar nos quartéis. "Vivíamos e treinávamos com as tropas para monitorá-las, mantendo os chefes informados", disse outro ex-oficial do DGCIM à Reuters. "Tínhamos um controle férreo."
Alguns agentes fingiam ser soldados comuns. Outros vestiam seus uniformes da DGCIM e regularmente encorajavam os soldados a denunciarem uns aos outros. Eles passaram a ser conhecidos como "os homens de preto", segundo vários ex-soldados.
Histórias de detenção e tortura por agentes da DGCIM, às vezes usando máscaras de esqueleto e balaclavas, corriam à solta pelas fileiras.