Segundo o dicionário Houaiss, a palavra cota é derivada da expressão latina "Quota pars?" (que pode ser traduzida por "Em quantas partes?") e significa quantia, fração, parcela.
Sozinho, pode ser um substantivo como outro qualquer. Mas, acompanhado do adjetivo racial, costuma gerar polarizações.
Uns dizem que cotas raciais reduzem desigualdades socioeconômicas, reparam erros históricos e democratizam o acesso à universidade. Outros, ao contrário, afirmam que elas ferem o princípio da igualdade, derrubam o nível acadêmico e acirram os conflitos étnicos.
"A ideia de que as cotas raciais ferem o princípio da igualdade é simplesmente cruel. Não há igualdade em um país onde as oportunidades são díspares", diz Renísia Garcia, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), da UnB (Universidade de Brasília). "A crueldade está na insensibilidade de quem não vê que do jeito que estava não dava para continuar e que o Brasil precisava fazer algo urgentemente."
Em 2004, a UnB se tornou a primeira instituição federal a instituir o sistema de cotas no país. Um ano antes, em 2003, a Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) havia sido a primeira estadual a lançar mão do recurso para facilitar o acesso de estudantes de origem negra nas universidades públicas. Levou mais oito anos para que, em 2012, todas as universidades federais, por intermédio da lei nº 12.711, adotassem ações afirmativas.
Com o passar do tempo, algumas ideias preconcebidas foram derrubadas. Como a que sustentava que o percentual de evasão entre cotistas era maior. Um relatório da Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ) apontou que, entre 2003 e 2016, 26% dos 21,3 mil estudantes que ingressaram na instituição pelo sistema de cotas desistiram no meio do caminho. Entre os não cotistas, o índice ficou em 37%.
"Cotistas tendem a abandonar menos o curso e a tirar notas tão boas ou até melhores que os não cotistas porque valorizam mais a universidade", afirma Frei David Santos, fundador da ONG Educafro. "Quanto ao racismo, infelizmente, está por toda parte. Mas já ouvi aluno dizer que prefere ser discriminado dentro da universidade. Lá, pelo menos, dispõe de meios para se defender do preconceito racial e da exclusão social."
A reportagem do UOL ouviu dois ex-cotistas formados e um estudante que relataram suas dificuldades ao ingressar no ensino superior e falaram da importância das ações afirmativas para a vida pessoal e acadêmica.