Era domingo, 5 de julho, na zona leste de São Paulo. Edson (nome fictício) pulou da cama assustado com os gritos de uma invasão. Acordou com um policial entrando em seu quarto e com a mulher e a filha rendidas no sofá da sala.
Os policiais apreenderam 21 pés de maconha e levaram Edson sob a acusação de tráfico de drogas. Ele ficou 12 horas na cadeia, seis delas espremido em uma cela com outros dez detentos.
O rapaz de 32 anos só ganhou a liberdade quando a defensoria pública levou os exames de saúde de Edson, desenganado pelos médicos em 2016.
"Tenho úlcera no estômago e câncer no intestino", diz. "O médico me deu um ano e meio de vida porque não havia um dia em que eu não evacuasse sangue. Era uma questão de tempo."
Em uma manhã, no entanto, a surpresa: "Olhei para o vaso e não havia sinais de hemorragia. 'Estou curado!', pensei comigo."
Foi quando a esposa o lembrou que no dia anterior ele havia provado algumas gotas de um óleo à base de Cannabis (maconha) que a mãe dele faz uso por ser intolerante a medicamentos.
"Corri para contar ao médico, mas ele proibiu o canabidiol [como o composto da maconha é chamado] e pediu que eu voltasse ao omeprazol [conhecido remédio para úlcera]. No dia seguinte, evacuei sangue."
Edson, então, provou novamente do canabidiol. Como os sangramentos cessaram mais uma vez, ele decidiu que dali em diante plantaria maconha para produzir o próprio óleo medicinal enquanto recorreria aos advogados para pedir na Justiça um habeas corpus que o permitisse plantar a erva.
Os policiais não pararam para me ouvir ou analisar meus exames. Fui tratado que nem bandido. Só vi empatia dentro da cela quando respondi aos presos que estava ali porque plantava maconha para não morrer.
Edson, paciente oncológico