Os pesquisadores ressaltam como as mudanças na última década não vieram sem problemas e desafios, como as dificuldades logísticas de se aplicar uma prova nessa dimensão, além da falta de políticas de permanência, o que fez com que milhares de jovens aprovados não tivessem condição de se manter na faculdade, principalmente quando longe de casa.
"Nós temos muito mais estudantes na universidade hoje, da escola pública, de baixa renda, negros e indígenas também. Esse é um caminho para igualdade social, porém precisamos de continuidade nessa ampliação do acesso, na permanência estudantil e no investimento em ciência também", diz Bruna Brelaz, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Apesar dos avanços, o Brasil ainda engatinha em termos de acesso e inclusão no ensino superior. Só 21% das pessoas entre 25 e 34 anos têm diploma universitário. Entre esses, pretos e pobres são minoria.
"O Enem por si só segue ainda em termos macro o padrão dos vestibulares de reproduzir desigualdades, como qualquer grande prova ou avaliação em grande escala. O que isso significa? Que todas as mazelas socioeconômicas, raciais, geográficas, regionais, de gênero se expressam também nos resultados do exame. Mas porque não temos vagas para todos, é necessário um processo seletivo", diz Grisa.
Maíra explica que o balanço geral dos últimos dez anos é difícil de ser feito, devido ao fato de os dados serem desagregados e refletirem realidades muito distintas entre as instituições e suas regiões.
"Pesquisas sobre acesso a universidades são complicadas no geral, porque a generalização de dados é muito perigosa. Temos grande dificuldade de falar em tendências nacionais, pois as instituições têm identidades muito próprias."
Para além disso, os pesquisadores consideram o momento atual de retrocesso, o que retarda o processo até então em curso, se não o coloca em xeque.
"A maneira atabalhoada com que o Inep tem sido gerido e com que o Enem vem sendo preparado é uma perda. Desde 1998 o instituto ganha um prestígio crescente, inclusive internacionalmente, por seu profissionalismo, capacidade logística e cuidado com as estatísticas educacionais", diz Costin.
Ainda assim, sua visão é otimista: "Acredito que o exame vá evoluir mais. Foi um grande avanço em relação a antigos vestibulares. A expectativa daqui para frente é que volte a ser mais transdisciplinar e que dialogue com itinerários formativos do novo ensino médio. Só precisamos garantir que terá uma gestão técnica, e não ideológica", conclui.