Ela não namora ("nunca tive um relacionamento sério; não penso em ter filhos, já que o planeta em breve não terá como alimentar tanta gente"), não viaja ("há pelo menos 15 anos não sei o que é ter férias"), não se importa com quase nada que tire o foco de sua razão de viver: alimentar e cuidar de dezenas de gatos que perambulam soltos no parque da Aclimação (zona sul de São Paulo).
Diariamente, inclusive aos fins de semana, faça chuva ou faça sol, das 19h às 22h, a engenheira civil paulistana Jacy Lins espalha 8 kg de ração em dez pontos do parque para cerca de 80 gatos. "Como ele fecha às 20h, eu continuo meu trabalho pelos arredores, onde encontro mais uns 80 gatos."
O parque estar fechado, no entanto, nem sempre afasta Jacy da lida gateira. "Já teve uma véspera de Natal que fecharam o parque às 18h. Eu estava chegando do trabalho e não me deixaram entrar. Fiquei desesperada para alimentar os gatos, pulei o portão pelos fundos quando os guardas estavam concentrados na frente. Perto da meia-noite, para evitar os guardas na ronda, saí pelo parque deserto para distribuir a ração."
"No Réveillon do mesmo ano, repeti [a ação], pois, com os fogos, eles ficam assustadíssimos. Foi um negócio de louco. [Os gatos] vieram para baixo de mim, atrás de refúgio. Nem na ocasião de um blecaute deixei de realizar meu trabalho. Pulei a grade e uma amiga do lado de fora me dava as coisas. Como não usei lanterna pra não chamar atenção dos guardas, ficava levando tombos: não via as árvores e os galhos caídos com a tempestade."