Um viajante que desembarca em Teerã teria dificuldades para perceber que aquela é a capital de um país sob sanções econômicas da principal potência mundial, os Estados Unidos.
No entanto, um olhar atento ao dia a dia da cidade dos últimos 365 dias consegue detectar mudanças na sua paisagem. Lojas e grandes empresas estão fechadas, outdoors mostram exclusivamente produtos e marcas iranianos, além de canteiros de obras sem nenhum trabalhador.
Logo após a entrada em vigor das sanções, lojas de marcas estrangeiras retiraram os logotipos de suas fachadas, como as vitrines de roupas de marcas esportivas americanas e europeias, moda atual entre jovens iranianos.
Nos principais shoppings da cidade, avisos em folhas de tamanho A4 afixados informavam que, por conta das sanções, a marca não poderia ser exibida, mas que as lojas poderiam "comprovar que os produtos eram originais". Muitos desses estabelecimentos, no entanto, fecharam nos meses que se seguiram.
Os que restaram abertos já não se mostram organizados, com apenas caixas de tênis espalhadas por todos os lados, como um grande "saldão". Os vendedores afirmam que se trata apenas de promoção para acabar com estoque antigo, antes de receberem novas coleções. No entanto, essas "promoções" se arrastam por meses.
Nos melhores supermercados da cidade, produtos industrializados de marcas ocidentais, como chocolates, cereais, fraldas e produtos de higiene foram pouco a pouco desaparecendo das prateleiras. No lugar de Nestlé e Lindt, por exemplo, estão à venda os chocolates iranianos Merdas e Parmida.
Outros alimentos importados --como a carne brasileira-- começam a se tornar artigo raro, embora as sanções comerciais não se apliquem a esse tipo de produto. Afetam o mercado, além das sanções americanas, as medidas baixadas pelo próprio governo iraniano para restringir importação de bens por conta das dificuldades de obter reservas em moeda estrangeira.
Os iranianos mais abastados também enfrentam dificuldades durante suas tradicionais viagens para a Europa. Há pouco mais de um ano, o aeroporto internacional Imã Khomeini mantinha voos diários para as principais cidades do Velho Continente, como Paris, Londres, Amsterdã, Roma e Berlim. Agora são necessárias escalas, muitas vezes longas, em países vizinhos, como Turquia e Emirados Árabes Unidos.
No último feriado prolongado de três semanas de Ano-Novo (chamado Nowruz), entre março e abril, o governo estimou que 3 milhões de iranianos deixaram de viajar para o exterior. Em contrapartida, cresceu em 20% o número de viagens e hospedagens internas, em relação ao ano anterior.
A camada mais pobre da população, no entanto, não conta com tantas opções e sofre com a alta dos preços. "Os preços dos alimentos aumentaram 80%, quase dobraram. A inflação é muito maior do que dizem", afirma Fatemeh (que não quis informar o sobrenome), que fazia compras no Bazar do Tajrish, no norte de Teerã. Além da alta dos preços, alguns produtos essenciais começam a faltar nas prateleiras dos supermercados e bazares.
Sem ter garantias de que seu dinheiro amanhã terá o mesmo poder de compra de hoje, os iranianos optam por estocar alimentos. A prática foi apontada pelo governo como um dos motivos da falta de açúcar no comércio local.
A outra estratégia da população é investir em ouro ou em moeda estrangeira, principalmente dólar e euro. Por isso é comum pequenas multidões se aglomerarem na porta das casas de câmbio para olhar o painel eletrônico com as cotações, em busca do melhor dia para fazer negócio.
Outro dado econômico bastante questionado é o desemprego. O governo informou que o índice cresceu apenas 0,1%. No entanto, além da saída das fábricas estrangeiras, o setor de construção civil parece ter sido duramente atingido. No norte de Teerã, em bairros como Velenjak e Niavaran, é possível ver sinais do "boom" que teve início nos últimos anos, com canteiros de construção de grandes prédios e guindastes gigantes posicionados. No entanto, melancolicamente, muitas dessas obras estão totalmente paralisadas.
Resta a muitos desses desempregados o trabalho como motorista de Snapp (o Uber iraniano), serviço já considerado supersaturado na capital, ou fazendo entregas.