Desde o começo do mandato, o governo reduziu o número de ministérios, privatizou 12 aeroportos e portos e criou a Secretaria da Desestatização.
Na análise do professor do departamento de Política e História Econômica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Denis Maracci Gimenez, as ações adotadas pelo governo são pontuais.
"Nós não temos uma proposta do governo concreta que tenha algum sentido geral de reforma do Estado ou que aponte para mudanças que pudessem melhorar a gestão do estado, as condições de funcionamento da máquina", disse Gimenez.
A consideração dele é de que a estrutura burocrática (ou seja, a organização, regramento e funcionamento da máquina) deve ser valorizada, pois é ela que faz a estrutura governamental funcionar.
"Temos cerca de 28 milhões de subempregados e 13 milhões de desempregados. Economia é também uma ciência moral, deve solucionar os problemas do homem comum. O que assistimos é um processo de regressão econômico e social e a esperança no novo governo possa ser atendida por agenda da pessoa comum", disse com base nos números de atividade econômica divulgados pelo IBGE.
Ele também questiona o modelo das privatizações adotadas pelo governo. Gimenez disse que a estatização ou venda do Estado pode ser boa ou ruim, desde que estejam dentro de um plano de governo com objetivos e metas definidas.
"Não faz sentido [as privatizações do governo] porque você não responde às perguntas: por que está fazendo isso? Como está fazendo? Em que condições? Qual é o projeto que você tem para o país?", enumera.
Já o professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Istvan Kasznar considera que há um erro de avaliação do governo quando o foco das reformas fica em cima de medidas econômicas, como Previdência e tributos. Nesse sentido, a reforma seria apenas fiscal - da contabilidade do governo - e não estrutural - do funcionamento da máquina.
Ele observa que a ocupação de cargos de chefia por nomes meramente técnicos e sem experiência administrativa dificulta que se entenda a estrutura estatal e suas mudanças.
"O Brasil joga no lixo o respeito ao administrador e ao gestor, e fica dando enorme importância de classe aos engenheiros e a certos economistas. Quando estes assumem, não sabem fazer administração", afirmou.
Para Kasznar, o novo contexto global exige que o Brasil tenha gestão moderna e foco em management. Caso isso não ocorra, o país pode entrar em colapso econômico, social e gerencial.
"Nós não valorizamos ao longo de décadas os profissionais da administração que sabem que chegar às diversas entidades, instituições e criar a real administração, coordenação, capacitação de pessoas. O que são os Estados Unidos? É o epicentro do management", concluiu.
O UOL solicitou pedido de entrevista com algum responsável pela gestão dos projetos de reforma do governo Bolsonaro, mas não teve resposta. O ministro Onyx Lorenzoni, encarregado das propostas, foi procurado pela reportagem entre os dias 5 e 9 de abril, mas declarou não ter espaço na agenda, segundo sua assessoria de imprensa. No dia 15 de abril, a reportagem procurou o ministro novamente, mas não teve retorno.