Como eu fundei o PCC

Preso há 40 anos, José Márcio Felício, o Geleião, revela em carta como criou a maior facção criminosa do país

Flávio Costa e Luís Adorno Do UOL, em São Paulo Arte/UOL

José Márcio Felício, o Geleião, começou a frequentar prisões aos 18 anos e nunca mais saiu delas. Preso há mais de 40 anos, ele é o único dos oito fundadores do PCC (Primeiro Comando da Capital) a continuar vivo.

Ao matar dois rivais em 31 de agosto de 1993 e começar uma rebelião na Casa de Custódia de Taubaté (SP), Geleião criou um "sindicato" que lutava pelos direitos dos presos e que hoje está em vias de se transformar no maior cartel de drogas da América do Sul, com pelo menos 33.000 membros.

Porém, ele não participou dessa mudança. No ano de 2002, foi afastado do PCC ao perder para Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, a disputa pela chefia da facção criminosa. Resolveu se vingar ao colaborar com a Justiça e está afastado do restante da massa carcerária.

Sem dinheiro para pagar advogados, Geleião escreveu à mão dezenas de pedidos de habeas corpus ao STF (Supremo Tribunal Federal) nos últimos anos. Todos foram negados.

Preso em regime de isolamento no presídio estadual de Iaras, no interior de São Paulo, Geleião enviou com exclusividade ao UOL uma carta para contar sua própria trajetória e a criação do PCC.

Ao receber a carta, a reportagem fez apenas alterações visando à clareza do texto, com o cuidado de manter a narrativa original para apreciação do leitor.

Este relato fará parte do documentário "PCC - Primeiro Cartel da Capital", que será lançado pelo selo MOV.doc, destinado a produções documentais do UOL.

Com estreia marcada para o dia 19 de novembro, a série de quatro episódios contará a história e o desenvolvimento do maior grupo criminoso do país.

Me chamo José Márcio Felício, vulgo: Geleião.

Venho até vossa presença no intuito de levar ao conhecimento de todos os reais fatos. Apesar de existirem muitas calúnias feitas contra minha pessoa no intuito de omitir, esconder a verdade. Então coloco-me aqui para relatar um pouco apenas, pois seria cansativo demais fazer um relato completo da realidade desta vida vivida por mim.

Meu objetivo não é aqui macular a imagem de ninguém, apenas falar a verdade dos fatos.

Quando adentrei o sistema prisional do estado de São Paulo, no ano de 1979, por erros cometidos perante à sociedade, fui surpreendido pelos dirigentes do sistema prisional: para ter uma cama ou alimentação decentes tinha que comprar o que o estado fornecia.

Não estou aqui falando por revolta ou mesmo com sede de vingança. Simplesmente é a realidade que venho vivendo dentro do sistema prisional do Brasil.

Em 1988 fui transferido para o Centro de Readaptação de Taubaté, onde permaneci por longos quatro anos trancado, sofrendo as mais diversas torturas, onde a lei era o "Cano de Ferro" e paulada. Um lugar perverso, onde era proibido tomar dois banhos e todos os dias havia espancamento. Um lugar dentro do estado de São Paulo onde as maiores barbaridades aconteciam e nenhuma autoridade fazia nada. Todas as denúncias eram postas na gaveta.

O prédio de Taubaté se tornou um modelo de lucro para as autoridades. Elas fabricavam relatórios para internar o sentenciado naquele lugar. Para sair tinha que pagar, ou muitas vezes as esposas do sentenciado recebiam "cantadas" das pessoas corruptas.

Depois de longos quatro anos em Taubaté, com a troca de coordenador, fui transferido para o Presídio de Araraquara, porém ao chegar lá já sofri perseguições. O diretor da prisão fez um relatório mentiroso e me retornaram para Taubaté, onde tudo começou em 1992.

Decidi que não ia mais passar por humilhações naquele lugar. Então resolvemos fazer uma comissão de presos para reivindicar os nossos direitos ao diretor Ismael Pedrosa.

Ismael Pedrosa era o diretor do Casa de Detenção do Carandiru, quando aconteceu o massacre de 111 presos em 31 de outubro de 1992. Depois ele foi transferido para a unidade prisional de Taubaté, onde no ano seguinte foi fundado o PCC. Em 2005, Pedrosa foi assassinado a tiros por três membros da facção.

Estava disposto a mudar o sistema. Já não aguentava mais sofrer espancamento, ver preso morrer e os médicos atestarem laudo falso.

Então resolvemos fazer uma "bateria" para chamar atenção da autoridade, como o juiz corregedor dos presídios, que na época era o doutor Ivo de Almeida.

Passamos dez dias e dez noites batendo as portas da celas, a polícia jogava água com mangueira, mas não conseguiram parar o movimento. Após estes dez dias e dez noites recebemos a visita do doutor Ivo de Almeida. Então fizemos nossas reivindicações e algumas foram atendidas.

Taubaté, o famoso Piranhão, era um lugar horrível e massacrante que nenhum ser merecia estar. Criamos um campeonato de futebol, mas para acontecer pedimos autorização ao diretor Ismael Pedrosa.

Seria galeria contra galeria. Foi aí que surgiu o nome PCC. Eu disse para Isaías Moreira do Nascimento, vulgo Esquisito.

"Esquisito, vou colocar o nome PCC."

"O que significa?"

"Primeiro Comando da Capital."

"É isso, mano."

E naquele dia saímos para o pátio com a camisa escrita PCC. No time tinha eu, Esquisito e Marquito. Morávamos em outro pavilhão.

À tarde estávamos na pracinha, que é o nome da janela da cela pela qual conversávamos um com o outro. Foi quando ouvimos no outro pavilhão uma discussão com Cesinha.

César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha, foi o chefe da "primeira geração" do PCC. Amigo de juventude de Marcola, era conhecido por fazer bons discursos e matar desafetos degolando-os. Foi expulso da facção, junto com Geleião, em novembro de 2002. Quatro anos depois, foi assassinado por outro detento no presídio de Avaré (SP).

Gritamos para ele: "O que estava acontecendo?"

Ele disse: "Está tudo certo".

Mas nós não acreditamos e pedimos ao senhor Idalgo, chefe de segurança, para nos mudar de pavilhão.

No período da tarde fomos transferidos para o pavilhão no qual estavam Cesinha, Mizael, Bicho Feio, Dá Fé, Zé Cachorro, Dudu, Marcola, Sombra e outros companheiros.

No outro dia a Cesinha relatou o que tinha acontecido. Ele disse que tinha saído no pátio com os caras da galeria de baixo e os mesmos estavam chutando a bola na parede como se fosse a sua cabeça.

Os "caras da galeria de baixo" eram presos do interior de São Paulo, rivais dos da capital, como Geleião, Cesinha e Marcola.

Então falei "vamos matar esses caras". Na hora todos concordaram.

No dia, Marcola não saiu da cela. Ele disse: "Como vamos pegar esses caras?"

Todos saíram no dia, mas Marcola não. Deu dor de barriga.

Por este fato, Marcola não é considerado fundador da facção.

Mas como pegar eles, já que moravam na galeria de baixo? Então tive uma ideia. Quem jogava bola saía junto. Então colocamos outros sentenciados para sair em nosso lugar e ficamos na cela para sair com a turma de baixo sem que eles percebessem.

Então chegou o dia. 13h. Quarta-feira. 31 de agosto de 1993. Saímos para o pátio. O primeiro sou eu, segundo Mizael, Dá Fé, Bicho Feio, Dudu, Cesinha, Zé Cachorro, Esquisito.

Logo depois a polícia soltou Severo e Garcia. Os outros, quando viram nós, não entraram.

Assim que entraram no pátio, ficamos em posição e começou a matança com os companheiros na ativa. Com um soco estourei a cabeça do Garcia. Os demais colocaram linhas no pescoço do Severo e o enforcaram no meio do pátio. Assim aconteciam as primeiras mortes em Taubaté. Tudo está registrado na delegacia e no processo, no qual recebemos a condenação a 32 anos de prisão.

Após as mortes, chamei todos no meio da quadra e ali com as mãos sujas de sangue, falamos:

Aqui neste momento está fundada a facção PCC, Primeiro Comando da Capital. Vamos combater os corruptos e os opressores do sistema prisional.

Após o pacto fomos para cela e depois para delegacia [para prestar depoimento]."

No mesmo dia, 31 de agosto de 1993, convocamos os 180 presos de Taubaté e falamos: "Vamos quebrar este lugar todo".

No dia seguinte, a Tropa de Choque invadiu o presídio. Levou todos os presos. Somente nós oito, os fundadores, ficamos lá com o presídio quebrado, porém conseguimos alcançar nosso objetivo que era destruir aquele lugar.

Nós ficamos, mas as sementes foram para o sistema. Começava uma jornada.

Quando fala em sistema, Geleião se refere ao sistema prisional, as cadeias do Estado.

Passamos seis meses apenas de calção, sem lençol, dormindo apenas no colchão puro, sem tomar sol, e os operários reformando a cadeia. Ali demonstramos que nós oito estávamos firmes na nossa missão que era dominar o sistema prisional.

Após a reforma chegaram 16 presos. Foi quando a gente se fortaleceu, novamente, pois tínhamos que reivindicar nossos direitos, agora já usando o nome PCC.

Na época o diretor Ismael Pedrosa falou que o PCC era apenas uma fantasia de minha mente, mas novas provas aconteceriam, estávamos decididos a seguir em frente.

Começamos uma nova bateria. Não surgiu efeito, apelamos para o sorteio: a cela que fosse sorteada colocava fogo. As celas pegaram fogo e então o diretor pediu para a gente parar e voltou tudo que tínhamos novamente.

Taubaté era assim. Hoje davam nossos direitos, amanhã tomavam. Eles eram carrascos. Mas nossos objetivos eram o de expandir a facção e tínhamos que sair de Taubaté.

Mandamos um salve para José Eduardo de Moura, o Bandejão: fazer uma rebelião em Tremembé reivindicando nossa saída de Taubaté.

Num domingo, Bandejão cumpriu a ordem e foi a primeira rebelião com visita no estado. Funcionou, o governo cedeu, o grito do PCC ecoou, agora ninguém nos segurava mais!

Um dos líderes da primeira geração do PCC, Bandejão foi morto a facadas por dois detentos no presídio de Iaras, em maio de 2003.

Para acabar a rebelião, os integrantes do PCC queriam nossa saída, porém o governo não queria mostrar à mídia que iria ceder.

Lourival Gomes [ex-secretário da Administração Penitenciária] propôs que os rebelados fossem a Taubaté e seriam transferidos no prazo de 30 dias, caso a rebelião parasse. Concordamos e paramos a rebelião, isto tem registrado na mídia de 1994.

Os integrantes que participaram da rebelião foram para Taubaté e nós no prazo de 30 dias, saíamos todos. A segunda vitória do PCC.

Eu, Geleião, fui para o C.O.C [Centro de Observação Criminológica, no complexo do Carandiru, zona norte da capital]. Aguardando vaga, Cesinha, Esquisito e Mizael foram para a penitenciária de Santana. Os outros foram para os mais diversos lugares.

José Epifânio, o Zé Cachorro, tinha ido a uma audiência e fugiu. Foi o primeiro fundador a fugir. Ele foi recapturado e morto pelos justiceiros [grupo de extermínio] da zona de sul de São Paulo.

Os fundadores foram espalhados pelo sistema prisional. A missão era que dominassem onde estavam. A ordem era combater os corruptos e acabar com os espancamentos. Se fosse preciso matar, que assim fosse feito. O sistema tinha que mudar.

O coordenador Lourival, querendo livrar-se de nós, negociou com o secretário do Paraná uma troca de presos. Fomos transferidos em uma troca de presos, em 6 de março de 1998.

Quando chegamos fomos espancados, torturados pelos agentes penitenciários e nos colocaram na cela máxima de castigo, que ficava fora da cadeia embaixo da cadeia feminina, ficamos cinco meses trancados e depois fomos colocados dentro da cadeia, com os outros presos.

Foi quando dominamos a cadeia e criamos o PCP: Primeiro Comando do Paraná.

"Depois passamos nas penitenciárias de Piraquara, Maringá, Curitiba. No fim, fomos transferidos para o Mato Grosso do Sul. Apenas os três fundadores foram para lá: eu, Cesinha e Mizael.

Lá chegando fui separado de Cesinha e Mizael. Me transferiram para a penitenciária Arrin Amorim Costa, em Dourados. Lá, fui direto para o pavilhão e já dominei tudo. Batizei a penitenciária toda, a polícia descobriu.

Fui transferido para a Polícia Federal de Campo Grande, onde passei sozinho o Natal e o Ano Novo isolado. Minha única companhia era uma barata, por isso hoje não mato barata. No momento mais difícil que eu passava foi a barata minha amiga para passar o tempo.

No dia 17 de janeiro de 2000, fui retirado da Polícia Federal e levado para a prisão de segurança máxima de Campo Grande, onde estavam Cesinha e Mizael. Os irmãos já tinham dominado e batizado os presos. Alguns não aceitavam porque tinha um cara que era líder e não queria perder a liderança. Então a solução era matar ele. Era ele ou nós. Acabei então matando ele. Fui condenado a 8 anos e 8 meses por este homicídio.

Depois da morte, chegamos ao domínio total. Chamamos todos e fundamos o Primeiro Comando do Mato Grosso do Sul.

Depois de dominado o estado do Mato Grosso do Sul, fomos transferidos de volta para o Paraná. De lá fui para Papuda, Brasília, mas lá chegando não me aceitaram, então retornei a Piraquara. Foi quando tentamos fugir.

Num belo dia rendemos 27 agentes e tentamos sair pela portaria. Nós já estávamos com o apoio de fora, porém por uma falha houve um tiroteio e não conseguimos fugir. Ficamos com a penitenciária uma semana sob nosso domínio. Três presos e um agente penitenciário morreram.

Negociamos com o ministro da Justiça, José Gregori, em Brasília, e conseguimos voltar para São Paulo.

Fomos transferidos eu, Cesinha e Mizael para o presídio de Avaré-SP. E o restante foi para Taubaté.

Com nossa volta a São Paulo, o comando voltou para nós, os fundadores. Quando estávamos fora deixamos como pilotos [líder] Sombra, Blindado, Guru, Jonas, Mateus, porém muitas coisas andaram erradas, foi quando houve as mortes de Sombra, Jonas, Mateus...

Ildemir Carlos Ambrósio, o Sombra, de 41 anos, foi um dos principais líderes da maior rebelião ocorrida no sistema prisional brasileiro iniciada em 18 de fevereiro de 2001, quando 36 penitenciárias de São Paulo foram dominadas pelo PCC. Sombra foi assassinado na Casa de Custódia de Taubaté, em julho daquele ano.

Após voltarmos para São Paulo, o Deic promoveu uma megaoperação, onde levaram todos, inclusive advogados e mulheres, em 24 de maio de 2001. Era perto da época da eleição para presidente. A ordem para toda população do sistema era fazer campanha para o Lula e não aderir ao Alckmin [candidato ao governo de São Paulo].

Não há indícios, nem Geleião afirma, de acordo entre campanha de Lula (PT) à presidência e a chefia do PCC para obtenção de votos no sistema prisional. Em trecho não aproveitado da carta enviada ao UOL, Geleião também revelou que detentos do PCC fizeram campanha para Mário Covas (PSDB) em 1994.

O Deic tinha como cooperadora Ana Maria Olivatto, advogada e mulher do Marcola.

Ana levava informações para o secretário da Administração Penitenciária, informações que Marcola mandava. Tudo que ela fazia, fazia por amor e para ele não ir para a RDD [Regime Disciplinar Diferenciado, o mais rígido do sistema carcerário].

No começo dos anos 2000, o PCC viveu uma grande guerra pela liderança da quadrilha. De um lado estavam Cesinha e Geleião, favoráveis a ações radicais, como colocar bombas em prédios públicos. De outro, Marcola queria transformar o PCC em um grupo criminoso voltado, sobretudo, para o lucro com o tráfico de drogas.

O secretário passava as informações ao delegado do Deic, Doutor Ruy. Houve uma outra megaoperação fomos levados ao Deic, quando a gente foi acusado de formação de quadrilha e fomos levados a Presidente Bernardes. Apenas um não foi: Marcola!

Ruy Ferraz é atualmente delegado geral da Polícia Civil de São Paulo. Procurado ele não quis comentar as afirmações de Geleião. "Ele está esperneando", limitou-se a dizer.

Quando estávamos no Deic, fazendo a negociação com o promotor, sobre como seria nosso banho de sol, como seria o tratamento lá, entre outras coisas, Marcola estava presente. Mal sabíamos que tudo era uma trama, contada depois pelo promotor Márcio Christino. Ele lançou um livro chamado Laço de Sangue, no qual conta que Marcola passava informações.

O doutor Ruy, delegado de Roubo a Bancos, não quis ouvir apenas a doutora Ana Olivatto. Ele colocou no papel que ela era informante do Deic e lá estava tudo: todas as ordens que eu mandava, planos de ataque e de resgate...

O Deic era informado assim, o delegado vinha tomando conhecimento da organização e ia prendendo os integrantes.

Porém o Deic queria mais: tirar Geleião e Cesinha do poder, porque nós dois éramos os "loucos", os líderes máximos.

O documento do depoimento de Ana Olivatto foi vendido a nós pelo valor de R$ 30 mil por um investigador da equipe do doutor Ruy, um homem da lei!

O investigador marcou um encontro com a mulher de Cesinha para vender a delação de Ana Olivatto. A esposa de Cesinha comprou por R$ 30 mil, porém foi vista pela doutora Ana, que imaginou que ela estava traindo Cesinha.

O que Ana fez? Foi para Bernardes e falou que a mulher do Cesinha tava traindo ele. Cesinha ficou louco e disse: "Vou matar essa vagabunda!"

Dias depois, em um horário de visita, chegaram a esposa de Cesinha e a minha. As duas iam juntas.

Ela mal chegou e Cesinha já a xingava. Ela não entendia nada, até falei:

"Cesinha, deixa ela explicar". Ela foi no banheiro e lá tirou o papel e mostrou o que era.

Quando Cesinha acabou de ler, a única palavra que saiu da sua boca foi: "Ana tem compromisso com a polícia, ela tem que morrer."

"Por quê?", perguntei.

"Leia o papel", Cesinha disse.

E lá estava a confissão dela.

Ana foi decretada e o salve foi passado para o cunhado de Cesinha, o falecido "Ceará".

Porém, naquela mesma época, Ana tinha brigado com Marcola e disse que contaria tudo que ele mandava ela fazer.

Nós estávamos trancados no RDD. Não sabíamos desta briga. Ela tinha até pedido autorização para a Secretaria para falar com nós em Bernardes.

Porém, o salve já tinha ido. Sua morte estava decretada e ela seria morta.

Pois antes de ela morrer, Ceará tinha ligado para o Marcola:

"Chegou um salve para matar a Ana, você está sabendo?"

Ele respondeu: "Liga depois para mim".

O Ceará ficou esperando já que ela era mulher do Marcola; Marcola ligou para Ana e disse "Você vai lá falar com os caras?"

Ela respondeu: "Vou sim, você é traidor."

Logo em seguida o Ceará ligou para saber o que ele tinha decidido.

A resposta foi "eu não quero saber daquela traidora".

O Ceará esperou e matou Ana no dia que ela ia para Bernardes para revelar toda as safadezas do Marcola e dela.

Concluída a morte de Ana, Ceará ligou e disse: "Marcola, matei a Ana"

Logo no outro dia, Ceará foi morto.

Em depoimento à Justiça, Marcola afirma que era perseguido por Cesinha e Geleião porque não se submetia aos dois. Ele afirma não saber que sua mulher seria morta e nega a pecha de delator.

Então, Marcola ligou para todos dizendo que Cesinha e Geleião tinham traído sua pessoa e teriam matado a mulher dele.

Se fosse realmente fato, seria grave, acontece que não era. Marcola e Ana nos traíram.

O que a Polícia fez? Prendeu minha esposa, decretou a preventiva da mulher do Cesinha, enquanto estávamos isolados, deu o Comando sob controle de Marcola. Os amigos correram para o outro lado.

Assim Marcola passou como certo e nós, eu e Cesinha, como errados. Depois aqueles que ajudaram contra nós, eles foram mortos e outros excluídos. Só foram laranjas para nossa saída.

Esta é a verdade. Assim saímos do PCC. Não tenho arrependimentos, fui pego em uma armadilha já que a polícia precisava eliminar eu e Cesinha, já que éramos os líderes máximos e não admitíamos opressão.

Quanto mais o PCC crescia, mais policiais e promotores ganhavam nome, "investigando" Márcio Felício, vulgo: Geleião.

Para a Polícia era uma honra tirar eu e Cesinha, assim teriam controle da organização PCC.

A liderança do PCC foi a Polícia que permitiu a Marcola. Se ele cresceu foi porque os promotores também permitiram.

Hoje, eu, Geleião, vivo no presídio de Iaras, isolado de tudo e de todos. Trancado em uma cela imprópria por dez anos, sem estudo, sem trabalho, sem direito a nada, aqui estou sequestrado. Estou condenado a uma pena de 142 anos e já cumpri 40 anos de prisão, o que a Constituição não permite.

Ninguém no Brasil está preso como Geleião. O que eu peço é S.O.S Justiça."

Topo