Semanas antes de cair o muro de Berlim, uma diplomata europeia conta que esteve numa reunião em Bonn, na antiga capital da Alemanha Ocidental para um encontro com o governo. Ao deixar a sala, um dos diplomatas alemães a chamou para seu gabinete e mostrou uma caixa de champanhe.
Quando ela perguntou qual era a ocasião, levou um susto. "É para quando o muro cair. Vamos ter de repensar o mundo", disse o interlocutor no governo alemão.
A queda da estrutura de concreto e aço não representou apenas a derrota de regimes autoritários. Enquanto os eventos ganhavam uma dimensão histórica nas ruas da cidade, serviços diplomáticos, líderes internacionais e entidades se debruçavam para entender que mundo estava sendo criado diante de seus olhos.
Nos anos que se seguiram ao colapso da Cortina de Ferro, uma nova arquitetura mundial foi construída, cimentando o fim da Guerra Fria, tirando a ONU de uma letargia de décadas e dando esperanças de que as tensões poderiam ser lidadas por diálogos políticos.
Mas aquele momento também revolucionou o capitalismo, abrindo uma janela inédita para a globalização, já em andamento.
Nos últimos 30 anos, o comércio mundial se multiplicou e a interdependência entre economias se aprofundou. Havia ainda uma enorme esperança de que aquele símbolo de Berlim representasse também um reconhecimento de que os muros não funcionariam.
Os muros se multiplicaram. O capitalismo favoreceu o acúmulo de riqueza na mão de poucos, e o diálogo... Bem, o diálogo tornou-se uma gritaria — qualquer um pode checar nas redes sociais.