Em dois anos, a professora Talíria Petrone (PSOL-RJ) viu sua votação decolar de pouco mais de 5 mil votos, quando foi eleita a vereadora mais votada de Niterói em 2016, para mais de 100 mil, ao ser eleita deputada federal no ano passado.
Mas, na chegada ao Congresso, Talíria representava uma minoria entre os parlamentares eleitos para renovar a Câmara dos Deputados - a maioria havia sido eleita no embalo da onda conservadora liderada por Jair Bolsonaro.
A deputada do PSOL claramente pertence a outro campo político e se elegeu com base na defesa do legado de Marielle Franco, vereadora assassinada no ano passado e que se tornou símbolo de feminismo, defesa dos direitos LGBT e luta contra a violência das mílicias no Rio.
"A esquerda precisa se reorganizar", afirma Talíria, em entrevista ao UOL. "É preciso olhar onde erramos no último período. Um afastamento da base, da vida concreta, que muitos setores fizeram, abriu espaço para o crescimento de um setor conservador."
A deputada conheceu Marielle na virada da última década, na favela da Maré, onde ela morava e Talíria dava aulas em um curso pré-vestibular. As duas ficaram amigas e, juntas, decidiram se candidatar a vereadoras no ano seguinte.
Ambas campanhas saíram vitoriosas: Marielle recebeu mais de 45 mil votos no Rio e, com o slogan "por uma Niterói negra, popular e feminista", Talíria foi eleita em sua cidade.
"A gente era um grupo pequeno de mulheres, sem dinheiro, e que circulava pela cidade", recorda a deputada. "Essa aproximação da política no território era um pouco do que as pessoas queriam, queriam se ver representadas por alguém que parecesse com elas, que não fosse a expressão da velha política."