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Menino ganha novas orelhas feitas a partir de cartilagem de costelas

O garoto britânico Kieran Sorkin nasceu com uma anomalia genética chamada microtia, que caracteriza malformação das orelhas - BBC
O garoto britânico Kieran Sorkin nasceu com uma anomalia genética chamada microtia, que caracteriza malformação das orelhas Imagem: BBC

Fergus Walsh

Repórter de Saúde da BBC News

11/08/2014 18h12

Kieran Sorkin é um garoto inglês de apenas nove anos que até pouco tempo atrás tinha que lidar com o bullying diário na escola por conta de um problema estético: ele não tinha a maior parte das orelhas.

O jovem nasceu com uma anomalia genética chamada microtia, que caracteriza malformação das orelhas. No local onde elas deveriam estar, Kieran tinha apenas os lóbulos.

Passando por uma cirurgia estética reconstrutiva no hospital infantil Great Ormond Street de Londres, Kieran ganhou orelhas que foram criadas a partir de pedaços da cartilagem de seis das suas costelas.

Os pedaços foram cortados, moldados e costurados para depois serem inseridos em pedaços de pele do garoto. Em seguida, usando a técnica da sucção, eles assumiram a forma das orelhas direita e esquerda do menino.

As orelhas foram criadas a partir de pedaços da cartilagem de seis costelas de Kieran Sorkin - BBC - BBC
Imagem: BBC

Risadas doloridas

O resultado da operação foi considerado muito positivo por Kieran, que saiu aliviado por não ter que ouvir mais piadas dos colegas por causa de sua anomalia.

“Eu quero que as pessoas parem de me fazer perguntas.

Eu apenas queria parecer igual aos meus amigos”, disse o menino. “Eu queria também poder usar óculos de sol e fones de ouvido.”

Três dias depois da cirurgia, Kieran recebeu um espelho para ver suas novas orelhas.

Sua primeira reação foi de surpresa: “Uau!”. O garoto começou a rir incontrolavelmente, mas a operação feita também na costela fazia com que ele sentisse dor com as risadas.

Kieran ainda vai precisar de uma segunda operação nos próximos seis meses para deixar as orelhas mais separadas do couro cabeludo.

Benefícios psicológicos

Kieran também nasceu surdo, mas já tinha resolvido o problema da audição com uma cirurgia prévia. A questão estética, porém, ainda o incomodava.

“Ele é um garoto muito sociável e esperou anos por essa operação. Eu não quero crianças fazendo bullying com ele porque ele é diferente. Só queria que todos o aceitassem”, comentou Louise Sorkin, mãe de Kieran.

Na manhã da operação, o cirurgião plástico Neil Bulstrode usou como modelo a orelha de Louise para moldar o novo órgão do filho. “Quando um paciente tem uma orelha, nós podemos imitá-la na nova orelha. Ainda bem que a mãe de Kieran tinha uma orelha muito bonita, então isso funcionou bem”, explicou o médico.

O hospital Great Ormond Street faz 40 dessas operações de reconstrução de orelha por ano, sendo a maioria delas para criar apenas uma orelha “ausente”.

A cirurgia é estética e não serve para melhorar as condições auditivas. Mas o doutor Bulstrode explica que ela traz benefícios psicológicos impactantes.

“Se você pode mudar a confiança de um paciente nessa idade tão jovem, você pode mudar a trajetória inteira da vida dele”, conta.

“Você pode perceber isso quando eles voltam. É um incentivo enorme para eles.”

'Engenharia dos tecidos'

Avanços na “engenharia dos tecidos” indicam que esse tipo de cirurgia reconstrutiva poderá ser feito de uma forma diferente em uma década.

Cientistas do Instituto de Saúde para Crianças da Universidade de Londres, estão criando células-tronco a partir do tecido de gordura dos pacientes.

O Instituto, que é um parceiro de pesquisa do hospital de Great Ormond Street, induz as células a produzirem cartilagem ou osso.

Uma das líderes do grupo de estudos em desenvolvimento e regeneração do Instituto, a doutora Patrizia Ferretti, disse que “esse tipo de abordagem seria bem menos ‘invasiva’ do que o atual método de colheita de cartilagem da costela de uma criança."

No ano passado, cientistas dos Estados Unidos implantaram uma orelha semelhante à humana criada a partir de células de vacas e ovelhas em um rato.

Mas estudos como esse ainda estão apenas nos estágios iniciais, e para um futuro próximo, crianças que necessitem de novas orelhas ainda precisarão passar pelo mesmo procedimento usado no hospital de Great Ormond Street.