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Caso Talidomida fez aumentar rigor ao aprovar remédios

Edmundo Leite

Em São Paulo

07/12/2015 10h50

Um pronunciamento do presidente americano John Kennedy alarmou o mundo em 2 de agosto de 1962. Não se tratava de nada relacionado aos soviéticos e à crise dos mísseis que eclodiria dois meses depois. O inimigo desta vez atuava livremente dentro de milhares de lares nos Estados Unidos, consumido por mulheres em busca de conforto contra os enjoos da gravidez: a talidomida.

Naquele dia, Kennedy fez um apelo para que as mães se desfizessem de todos os frascos de comprimidos do remédio e confirmou-se o que era apontado há tempos. A talidomida era causa de um boom de nascimento de crianças com a má-formação congênita focomelia, que afetava sobretudo braços e pernas.

Criado como calmante em 1954 pelo laboratório alemão Grunenthal, o medicamento era vendido em todo mundo sob vários nomes comerciais. No Brasil, as marcas Sedalis, Sedin e Slip existiam desde o fim da década de 1950 e começaram a ser recolhidas após a repercussão do pronunciamento de Kennedy, enquanto nos EUA desde novembro do ano anterior a substância estava vetada pelo Departamento de Saúde. O caso foi um marco no endurecimento dos testes para a aprovação de novos medicamentos.

Enquanto isso, muitas americanas grávidas passaram a viajar para a Suécia para realizar abortos, com medo de gerar crianças deficientes. Mesmo com a comprovação dos danos do remédio, a justiça americana não autorizou os abortos. O Vaticano também anunciou que não aprovava a interrupção da gravidez por esse motivo.

Em Liège, na França, uma mãe que matou a filha que nasceu com problemas decorrentes do uso do remédio foi absolvida por um júri. Estima-se que cerca de 15 mil crianças nasceram em todo o mundo com sequelas provocadas pela substância, que passou a ser aprovada como medicamento controlado, pois é muito eficiente em tratamentos de doenças como a hanseníase.

Nos anos 70, houve mobilização por indenizações e reparos. No Brasil, no começo dos anos 80 conseguiu-se estabelecer pensão vitalícia para cerca de 100 pessoas identificadas como vítimas.