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Superbactéria infecta sete pacientes em hospital de Americana (SP)

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Campinas (SP)

27/03/2014 16h20Atualizada em 27/03/2014 19h44

Pelo menos sete pacientes que passaram pela Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, em Americana, foram colonizados pela bactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase), chamada de superbactéria porque possui um mecanismo de resistência à maioria dos antibióticos. Desse total, três ainda estão no hospital: dois no ambulatório e um na UTI.

Eles foram isolados em uma área do hospital e uma equipe exclusiva foi designada pela administração para cuidar dos pacientes.  Entre os demais, dois morreram - por outras causas, segundo a instituição - e os outros dois pacientes já deixaram a unidade. Por conta da presença da bactéria, o hospital teve todas as cirurgias eletivas, agendadas ou emergenciais, programadas para esta semana canceladas. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, em média 75 procedimentos do tipo são realizados por semana.

Para tentar diminuir as chances de proliferação da bactéria são realizados semanalmente coletas de secreções dos pacientes para verificar se existem novos casos. Ontem, oito exames foram encaminhados para análise no Instituto Adolf Lutz. Os resultados devem sair na próxima segunda-feira (31). Caso os resultados sejam negativos as cirurgias voltarão a ser agendadas.

De acordo com o infectologista Arnaldo Gouveia Júnior, chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e indicado pela prefeitura para falar sobre o caso, uma pessoa está na UTI e duas em uma ala com acesso restrito a médicos e servidores com dedicação exclusiva ao caso no ambulatório. A Secretaria de Saúde de Americana informou que "todas as medidas cabíveis estão sendo tomadas, que o caso está sob controle e há um acompanhamento intenso para evitar novas colonizações".

Ainda segundo Junior,  a KPC ingressou no Hospital Municipal no fim de janeiro, por meio de uma paciente que veio a Americana transferida de Bragança Paulista. A mulher é de Americana e foi a Bragança realizar um exame após ter sofrido um AVC. Na ocasião, o hospital não notou a superbactéria, o que ocorreu um mês depois, após um exame mostrar uma grande presença de bactérias no organismo da paciente. O caso foi confirmado pelo Instituto Adolfo Lutz.. A pacidente teve alta e está bem de saúde, segundo a prefeitura.

A bactéria

A KCP é uma mutação genética de uma bactéria que existe em nosso corpo e que, em geral, é inofensiva. Com a mutação, ela se tornou resistente à maioria dos antibióticos. Após colonizar o paciente, ela causa sintomas como febre, prostração, tosse e dores no corpo, especialmente na bexiga. Ela torna-se altamente letal porque encontra pessoas já com o sistema imunológico comprometido. A bactéria é a mesma que causou a morte de 18 pessoas, em 2010, em hospitais de Brasília, e uma no Paraná.

Os pacientes de Americana, no entanto, não são os únicos na região de Campinas a terem sido contaminados com a superbactéria.

No primeiro semestre de 2013, no Hospital Celso Pierro  da PUC de Campinas, seis dos 11 pacientes colonizados com a KPC morreram em um intervalo de quatro meses. Apesar de estarem colonizados, no entanto, a morte deles foi atribuída a condições preexistentes.

Sem interdição

Apesar da dificuldade de controle da bactéria, o especialista descartou a possibilidade de interdição do hospital para desinfecção, medida adotada em outras unidades nos últimos anos.

"Primeiro que ações de interdição não têm sido bem-sucedidas. O que dá para fazer é tomar medidas para reduzir a circulação. Não há indicação de se fechar a unidade porque é algo bem localizado”, disse Júnior.

Segundo a prefeitura, a medida não será adotada também porque o Hospital Municipal é o único a atender o SUS (Sistema Único de Saúde na cidade. “Não temos plano B”, afirmou.