Topo

Torcedores não aguentam emoções da Copa e aumentam casos de ataque cardíaco

David Biller e Tariq Panja

Da Bloomberg News

03/07/2014 16h21

A Copa do Mundo sempre mexe com o coração dos torcedores. Às vezes, até demais.

O mais recente caso de parada cardíaca entre os torcedores da Copa ocorreu na terça-feira (1º), no estádio de São Paulo, quando o rival do Brasil, a Argentina, enfrentou a Suíça. Um brasileiro que foi assistir ao jogo no dia 28 de junho, quando a seleção canarinha derrotou o Chile nos pênaltis, teve que sair do estádio e sofreu um ataque cardíaco.

O cardiologista Nabil Ghorayeb está monitorando as ocorrências cardiológicas em nove hospitais de seis cidades brasileiras no dia em que o Brasil joga e também nos dias anterior e seguinte a cada jogo. Ele está compilando os dados de uma estimativa de 6.000 pacientes e espera que a quantidade de incidentes seja “muito superior” a do campeonato de 2010.

“Na última Copa do Mundo, a seleção brasileira não entusiasmou a população de modo tão evidente”, disse Ghorayeb. “Se o Brasil tivesse um time mais ou menos, as emoções não seriam tão intensas. Uma seleção muito boa que perde provoca muito mais dano cardiovascular por conta da decepção emocional”.

O Brasil, favorito antes da Copa do Mundo, esteve prestes a ser eliminado nas oitavas de final. Poucos segundos antes do final da prorrogação, Mauricio Pinilla do Chile fez milhares de torcedores ansiosos arfarem, no Mineirão em Belo Horizonte ou assistindo em suas casas, quando ele disparou um chute que bateu na trave de Júlio Cesar, que ficou caído no chão. O gol teria dado a liderança ao Chile, com 2 a 1.

Final dramático

Depois o país segurou a respiração quando a partida passou a ser disputada nos pênaltis. Júlio Cesar defendeu dois e, depois que Gonzalo Jara, do Chile, chutou para a trave, o estádio explodiu em gritos de alegria e alívio. Os jogadores, como Neymar e David Luiz, se ajoelharam aos prantos para rezar.

“Só espero que as coisas não sejam decididas nos pênaltis nos próximos jogos”, disse Júlio Cesar, que já estava chorando antes mesmo da disputa de pênaltis começar, em entrevista aos repórteres depois do jogo. “Caso contrário, nossas famílias vão ter ataques cardíacos”.

Embora as pessoas vinculem, de modo informal, as reações emocionais fortes aos ataques cardíacos, os médicos dizem que a euforia e o estresse que os torcedores sentem durante um evento esportivo importante podem ocasionar uma parada cardíaca repentina, um mau-funcionamento elétrico do coração que pode ocorrer sem aviso ou sintomas prévios.

Uma quantidade maior que o normal de mortes relacionadas ao coração foi identificada entre torcedores de times perdedores nos últimos Super Bowls, campeonatos de futebol americano, informaram pesquisadores em 2011, no periódico Clinical Cardiology. Uma pesquisa alemã publicada em 2008 no New England Journal of Medicine descobriu que uma partida “estressante” de futebol mais que triplica o risco de emergência cardíaca entre os torcedores homens.

Partidas acirradas

Na Copa do Mundo deste ano, no Brasil, outros jogos além do enfrentamento entre Brasil e Chile também foram muito dramáticos, com gols nos últimos cinco minutos que modificaram os resultados de seis jogos da fase de grupos e dois nocautes, como a vitória de 1 a 0 da Argentina contra a Suíça. Ante a iminência da disputa de pênaltis, Lionel Messi encontrou Ángel di María e o meio-campista do Real Madrid deu a vitória à Argentina dois minutos antes do fim da prorrogação.

“Sofrendo, é assim que nos sentimos em campo”, disse Messi depois do jogo.

O Brasil enfrentará a Colômbia nesta sexta-feira (4), numa partida das quartas de final, em Fortaleza.

O homem de 63 anos que sofreu uma parada cardíaca anteontem foi atendido no estádio do Corinthians durante uma hora e meia antes de ser levado ao hospital, onde faleceu, disse o hospital Santa Marcelina, que o recebeu, num comunicado. O torcedor no jogo entre Brasil e Chile no dia 28 de junho também faleceu, de acordo com os meios de comunicação locais.

“A emoção existe, a emoção é importante e a emoção pode matar”, disse Ghorayeb.