Distúrbios do sono podem causar sérias doenças; conheça alguns deles
Ele previne a obesidade, controla a hipertensão e o diabetes, diminui os riscos de doenças cardiovasculares, fortalece a memória e melhora o desempenho físico, o desempenho no trabalho e até o humor. Sono não é apenas gostoso e revigorante, como também faz bem para a saúde. Por outro lado, dormir menos do que o recomendado (de seis a oito horas em média) ou acordar diversas vezes durante a noite pode causar vários malefícios ao organismo.
Uma boa noite de sono está relacionada a bons níveis de pressão arterial e de diabetes. Isso porque o repouso adequado contribui para que a pessoa tenha menor resistência à insulina, ajudando no controle da diabetes. Além disso, é durante o sono que o corpo estabiliza os índices glicêmicos. Um bom sono também diminui a chance de ocorrer acidentes vasculares cerebrais (AVC), ataques cardíacos e doenças cardiovasculares, pois equilibra a produção de hormônios e substâncias químicas no organismo.
O sono também ajuda a prevenir a obesidade, pois neste período, o organismo produz mais leptina, hormônio capaz de controlar a sensação de saciedade, e menos grelina, hormônio do apetite, contribuindo para a prevenção da obesidade.
Além disso, dormir bem ajuda a memória, contribuindo para que ela absorva melhor as informações do dia a dia. Isso porque é durante o sono que ocorre a síntese de proteínas responsáveis pelas conexões neurais, e o cérebro faz sua limpeza das impurezas produzidas pela atividade neuronal realizada durante o dia, além de consolidar as novas informações.
Um sono profundo e ininterrupto também contribui para um melhor desempenho físico e profissional. Enquanto repousamos o organismo produz o hormônio GH, responsável pelo crescimento e que também ajuda a manter o tônus muscular, a evitar o acúmulo de gordura, e até mesmo a combater a osteoporose. Dormir bem ainda ajuda a reduzir o estresse e aumentar a capacidade de concentração e atenção, melhorando o desempenho no trabalho.
Enquanto o sono não vem
Mas uma ação tão natural quanto dormir nem sempre é fácil. A correria e o estresse diários, as preocupações com trabalho, escola, família e a alimentação inadequada acabam comprometendo a qualidade do sono. E as noites mal dormidas acabam tendo consequências para a saúde. Isso porque não basta deitar e dormir: para ter saúde, é preciso ter sono de qualidade, profundo e ininterrupto. Quando isso não ocorre, o organismo deixa de cumprir uma série de tarefas importantíssimas.
“O tema do sono foi incorporado aos indicadores e metas a serem alcançadas para melhorar a saúde da população americana em 2020, por meio de um documento elaborado pelo Institute of Medicine (IOM) nos Estados Unidos. O desafio é o ‘aumento da proporção de adultos com sono suficiente’ na próxima década, pois o tempo de sono da população está diminuindo.
De acordo com o Centers of Disease Control and Prevention (CDC), 28,5% da população adulta americana dorme seis horas ou menos, em um período de 24 horas, e 7,8% dormem menos do que seis horas”, aponta Margareth Guimarães Lima, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais e pesquisadora colaboradora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Noites mal dormidas
A privação do sono pode ter consequências graves para a saúde. A privação crônica do sono – o que não significa apenas não dormir, mas dormir mal, não permitindo que o organismo repouse adequadamente – aumenta significativamente a chance de se desenvolver obesidade, hipertensão, diabetes, depressão, ansiedade, aumento do colesterol, alterações do humor, prejuízo da memória, síndrome do pânico, assim como aumenta a chance de acidentes.
“Dormimos cerca de um terço do tempo de nossas vidas, então é fácil perceber que os distúrbios que afetam a quantidade ou qualidade do sono provocam prejuízos no funcionamento de praticamente todos os órgãos de nosso corpo. Inúmeras doenças mentais e físicas podem surgir ou serem agravadas pela má qualidade do sono”, afirma Marcelo Souza Leão Andrade, Especialista em Medicina do Sono pela USP e pela Sociedade Brasileira de Medicina do Sono.
Estudo da Perelman School of Medicine da University of Pennsylvania, nos Estados Unidos, apontou que pessoas com distúrbios do sono em pelo menos três noites por semana, em média, eram 54% mais propensos a ter diabetes, 98% mais propensos a terem doença arterial coronariana, 80% mais propensos a ter um ataque cardíaco, e 102% mais propensos a terem tido um acidente vascular cerebral. A pesquisa não avaliou apenas a duração do sono, mas também sua qualidade: dificuldade em adormecer, em permanecer dormindo, interrupções durante o sono e/ou dormir demais.
Como dormir mal também pode acarretar problemas de crescimento, pois é durante o sono que o hormônio responsável pelo crescimento é produzido, crianças que não descansam adequadamente têm seu desenvolvimento físico comprometido. Nos adultos, a baixa produção desse hormônio pode resultar em fraqueza muscular e redução da massa óssea.
Além disso, a má qualidade do sono acelera o processo de envelhecimento. Quando não tem o repouso adequado, o organismo fica em estado de estresse e, assim, aumenta a produção de radicais livres (moléculas formadas naturalmente no organismo e que degradam as células). Além disso, as substâncias antioxidantes, responsáveis por combater esses radicais, são produzidas durante o sono.
Estudos também mostram que a falta de sono pode ajudar no desenvolvimento de placas tóxicas no cérebro, acelerando a progressão da doença de Alzheimer.
Distúrbios do sono
Vários fatores podem interferir na qualidade do sono. Esses fatores podem ser externos, como trabalhos noturnos, turnos rotativos e problemas com fusos horários, ou orgânicos, como os distúrbios do sono.
“Segundo a Academia Americana de Medicina do Sono, existem mais de 70 tipos diferentes de distúrbios relacionados ao sono”, explica Lima. Os mais conhecidos são a insônia, a apneia e a síndrome das pernas inquietas. A insônia se caracteriza pela dificuldade em iniciar e manter o sono ou incapacidade de dormir de maneira reparadora, o que acarreta repercussão nas atividades diurnas.
Já a apneia se caracteriza pela diminuição ou interrupção da respiração por, no mínimo, 10 segundos, fazendo com que a pessoa acorde várias vezes durante a noite. Por fim, a síndrome das pernas inquietas é caracterizada por uma sensação de desconforto nas pernas que traz a necessidade de mexê-las em busca de alívio, trazendo dificuldades para a indução do sono.
Múltiplos fatores podem causar os distúrbios do sono. “Os fatores envolvidos são diferentes para cada distúrbio. Por exemplo, na insônia os fatores de risco são estresse, ansiedade, depressão, trabalhos noturnos ou turnos alternados, entre outros. Já para o ronco e apneia do sono os principais fatores envolvidos são obesidade, obstrução nasal, amígdalas grandes e alterações da mandíbula, entre outros. Alterações hormonais, anemia, deficiências nutricionais e uso de medicações também podem acarretar alguns distúrbios do sono”, explica Andrade.
Os distúrbios do sono também podem estar ligados a outros problemas de saúde. “No caso da ansiedade e da depressão, por exemplo, fazem parte do conjunto de sintomas da doença a insônia e sonolência diurna. As demências, os traumas crânio encefálicos e alguns tipos específicos de acidente vascular cerebral também podem alterar o sono normal”, diz a neurologista Carla Guariglia, do Núcleo de Neurologia do Hospital Samaritano de São Paulo.
Por uma boa noite de sono
A qualidade do sono pode melhorar muito, até mesmo na presença de distúrbios, com atitudes simples chamadas de higiene do sono. “Ela consiste na adoção de hábitos que favorecem a indução e a manutenção de um sono com boa qualidade. Muitos casos de insônia poderiam ser evitados apenas com a correção de maus hábitos e maus pensamentos relacionados ao sono”, afirma Andrade.
Entre os bons hábitos que ajudam a melhorar a qualidade do sono estão manter uma rotina de horários de dormir e acordar, mesmo nos fins de semana; evitar cochilos durante o dia; dormir em um local agradável, sem luz e sem barulho; desligar aparelhos eletrônicos uma hora antes da hora de iniciar o sono; não dormir com sons ambientes como TV ligada ou música; não assistir TV no quarto; evitar o consumo de bebidas que contenham álcool ou cafeína até quatro horas antes de dormir; e não realizar atividade física até quatro horas antes de dormir.
E se ainda assim você não conseguir dormir? “Se perder o sono, o melhor é evitar longos períodos acordado na cama. Levante-se, faça uma atividade relaxante, como tomar um leite morno ou um banho e volte a deitar quando já estiver com sono”, orienta Guariglia.
Essas atitudes simples podem ajudar – e muito – a melhorar a qualidade do sono. Consequentemente, a qualidade de vida melhora também. E todo o corpo agradece.
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