Médica confundiu zika com alergia, conta mãe de bebê com microcefalia em PE
No segundo mês de gravidez do pequeno Mauro, hoje com quatro meses, Isadora Correia Lima, 24, teve manchas vermelhas no corpo todo, principalmente no tronco e nas coxas. "Coçava muito, mas não tive febre ou dor", lembra. À época, abril de 2015, procurou um hospital particular do Recife (PE), onde a médica informou a ela que não havia motivo para preocupação.
Ela disse que era alergia e passou um remédio. Não desconfiei de nada, porque sempre tinha alergias. Tive algo parecido uma vez que comi camarão
Na 37ª semana da gestação, Isadora e o marido, o servidor estadual Rodrigo de Moura, 26, descobriram que Mauro tinha microcefalia. Ele nasceu no Imip (Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira), no Recife, com 26 cm de perímetro cefálico --bebês com 32 cm ou menos são notificados como microcéfalos.
"Até então não sabíamos nada da ligação do vírus da zika com a microcefalia", conta a mãe. "Após o nascimento, uma pessoa da Secretaria de Saúde nos procurou, falou o que estava ocorrendo e pediu para retirar líquido da coluna dele para pesquisar".
Era ainda no começo desses casos, e ele foi um dos primeiros a passar por exames
Os exames do bebê e da mãe não apontaram outra causa infecciosa que pudesse resultar em microcefalia, o que só reforçou a tese de que o vírus da zika seria o principal causador do problema.
Desde então, a vida da família mudou. "Minha profissão agora é ser só mãe, é dedicação exclusiva", explica Isadora. "Não dá tempo para outra coisa."
Ela e Mauro, que moram em Olinda, na região metropolitana, precisam ir quase todos os dias para a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) da capital pernambucana, onde são acompanhados por uma equipe multiprofissional. O bebê já passa pelo processo de estimulação precoce.
Surto em Pernambuco
O Estado é o que mais registra casos confirmados de bebês com microcefalia ou alterações no sistema nervoso central relacionadas com a zika. Ali estão 209 dos 583 computados no país até o final de fevereiro. Outras 1.188 notificações estão em investigação.
O controle dos casos está sendo feito porque diversos estudos já ligaram o vírus à microcefalia, embora ainda não se sabia se a zika sozinha é a causa da microcefalia ou se há outro fator que, por exemplo, facilite a entrada do vírus na placenta para causar a má-formação.
Hoje, todas as crianças que nascem com 32 cm ou menos de perímetro cefálico são alvo de investigação e passam por exames de imagem e consultas com médicos para confirmação ou descarte de problemas neurológicos, que incluem também lesões oculares e auditivas.
Até o momento, os casos confirmados de microcefalia por infecção congênita no país praticamente se igualam aos dados de 2012 a 2014, quando a notificação ainda não era obrigatória --e levanta-se a hipótese de que os dados são menores do que a realidade. No entanto, os especialistas consideram que houve um aumento significativo de casos mais graves de microcefalia no último trimestre de 2015.
A OMS reportou uma associação entre a existência do zika e o aumento da incidência da síndrome de Guillain-Barré em Polinésia Francesa, Brasil, El Salvador, Martinica, Colômbia, Suriname, Venezuela e Honduras. Já com a microcefalia, a relação foi detectada no Brasil e na Polinésia Francesa.
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