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Não entre em pânico: nem todo mundo precisa se vacinar contra febre amarela

Técnico manipula vacina contra a febre amarela em Ribeirão Preto (SP) - Mastrangelo Reino-10.nov.2016/Folhapress
Técnico manipula vacina contra a febre amarela em Ribeirão Preto (SP) Imagem: Mastrangelo Reino-10.nov.2016/Folhapress

Maria Julia Marques

Do UOL, em São Paulo

15/02/2017 04h00

O aumento no número dos casos de febre amarela despertou a busca exagerada pela vacina. Apesar de o Ministério da Saúde recomendar "a vacinação para a área onde a transmissão é considerada possível, principalmente para indivíduos não vacinados que se expõem na mata", os mais de mil casos suspeitos pelo país fizeram com que quem não precisa da vacina quisesse tomá-la por precaução.

Até o momento, foram confirmados 234 casos de febre amarela silvestre e há 877 em investigação --84% dos casos foram relatados em Minas Gerais, mas o vírus pode ter vítimas em até seis Estados. As mortes causadas pela doença chegam a 79, segundo o boletim divulgado na última segunda-feira (13).

"Em 2009, quando apareceram números significativos de casos, aconteceu a mesma coisa, todos queriam a vacina. Mas os mosquitos não transmitem a doença em área urbana. Quem não vai viajar para um sítio, floresta ou mato nas áreas de risco não precisa se preocupar", afirma André Siqueira, infectologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.

Em um dos postos de saúde visitado pelo UOL, no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, a fila para tomar vacina demorava cerca de duas horas. Os atendentes perguntavam se os pacientes iam viajar para áreas de risco, como Minas Gerais, mas não era necessário mostrar nenhum documento comprovando a viagem.

O pânico é exagerado. Sei que no Rio de Janeiro estão mentindo que vão viajar para conseguir a vacina e não há motivo para esse desespero. Até quem está em Belo Horizonte, se não for sair da área urbana, não precisa temer

André Siqueira, infectologista da Fiocruz

No centro de saúde Dr. Victor Araujo H. Mello, em São Paulo, funcionários explicaram que a vacina está disponível, mas que é bom pensar duas vezes antes de tomar se não for necessário.

"A vacina tem sido produzida em grande escala e tem dado conta do aumento da demanda, mas temos que pensar na logística da vacina. Às vezes quem realmente precisar da dose pode ficar sem já que muita gente está tomando desnecessariamente", afirma Siqueira.

Duas doses na vida

De acordo com o médico, existem alguns eventos adversos, como com quem é alérgico à proteína do ovo não deve tomar, pois a vacina passa tem ovos em sua composição. Além disso, raramente a vacina causa uma reação inflamatória.

"A vacina é um vírus atenuado, menos patogênico, mas ainda o vírus da febre amarela após alterações. Ele não causa a doença, mas quem tem comprometimento do sistema imune pode ter a febre amarela vacinal, a doença mais leve. Mas isso acontece uma vez em um milhão de doses".

O indicado é que uma pessoa tome no máximo duas doses em toda a vida, com um espaçamento de ao menos dez anos. 

“A vacina está indicada apenas para quem precisa, ou seja, quem mora ou vai se deslocar para as áreas de risco”, orienta Helena Sato, diretora de imunização da Secretaria de Saúde de São Paulo.

Devem tomar os moradores de toda a região Norte e Centro-Oeste, parte do Nordeste (Maranhão, sudoeste do Piauí, oeste e extremo-sul da Bahia), do Sudeste (Minas Gerais, oeste de São Paulo, norte e oeste do Espírito Santo e noroeste do Rio de Janeiro) e do Sul (oeste do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). (Veja aqui se sua cidade está na lista de vacinação)

"Quem mora em áreas urbanas têm que estar preocupados com o que é mais comum nesse local, como dengue, zika, chikungunya. Neste momento, podem focar no Aedes aegypti e deixar a preocupação com a febre amarela para áreas mais delicadas".