Topo

Nova técnica prevê se tratamento para câncer de próstata vai funcionar

Getty Images
Imagem: Getty Images

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

07/06/2017 04h00

Um simples exame de sangue pode ajudar os médicos a prever se o paciente com câncer de próstata avançado reagirá de forma positiva aos tratamentos existentes contra a doença. A nova técnica, ainda está em pesquisa, mas tem resultados promissores.

Cientistas do Reino Unido estão pesquisando um tipo de teste que detecta DNAs liberados por células cancerígenas na corrente sanguínea e que indicam se os tratamentos serão eficazes ou não.

Os pacientes cujas amostras de sangue carregam múltiplas cópias de um gene específico tendem a reagir mal quando tratados com abiraterona e enzalutamida --drogas usadas no tratamento padrão do câncer de próstata avançado. Esses genes são receptores androgênicos, que fazem o câncer crescer e o tornam resistente aos medicamentos. 

De acordo com Gerhardt Attard, pesquisador do Institute of Cancer Research que liderou o estudo, o uso de abiraterona e a enzalutamida são "excelentes tratamentos" para câncer de próstata avançado, mas não funcionam para todos os pacientes. Em alguns casos, a doença retorna rapidamente. O câncer de próstata é o segundo que mais acomete os homens no Brasil, de acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer).

Com um teste que identifique DNAs com esses genes, pacientes poderiam ser poupados de efeitos colaterais de tratamentos que não vão surtir efeitos. Os médicos poderiam então buscar tratamentos alternativos. O teste poderá ser usado para personalizar o tratamento do câncer de próstata. Contudo, para chegar aos hospitais e centros de tratamento, ainda requer mais pesquisas.

O estudo foi desenvolvido pelo Institute of Cancer Research e pela Royal Marsden NHS Foundation Trust, ambos do Reino Unido, e publicado na revista Annals of Oncology.

Pesquisa mostrou quatro vezes mais chances de morrer

Os pesquisadores analisaram amostras de sangue de homens com câncer de próstata avançado em três ensaios clínicos diferentes. As amostras foram feitas antes dos pacientes receberem tratamento com abiraterona ou enzalutamida e após a evolução positiva ou negativa da doença.

Em um grupo inicial de 171 pacientes, homens com níveis elevados do gene em suas amostras de sangue apresentaram quatro vezes mais chances de morrer ao longo do estudo do que aqueles com níveis mais baixos. Os achados foram confirmados em um segundo estudo que contou com 94 pacientes.

Exame de toque - istockphoto - istockphoto
Imagem: istockphoto

Toque e PSA são necessários para diagnosticar câncer

A visita ao urologista para averiguar a saúde da próstata é acompanhada por algumas dúvidas. Uma clássica envolve os mitos sobre o exame de toque. Outra, mais recente, recai sobre o exame de dosagem de PSA (Antígeno Prostático Específico) para detectar câncer no órgão. No começo de maio, um grupo de cientistas ligados ao governo dos EUA voltou atrás em decisão de contraindicar o exame. Mas, afinal, quais são os exames existentes e quais o homem deve fazer?

Existem três tipos de exame, além do exame de toque. O PSA (feito a partir da coleta de sangue), o PCA3 (feito com amostra de urina) e a ressonância magnética. O problema é que nenhum deles possui grande precisão. Ainda assim, o aumento observado nas taxas de incidência da doença no país pode estar relacionado à evolução dos métodos de diagnóstico.

“São importantes os exames preventivos porque as chances de cura dependem da fase em que é detectado o tumor”, diz o médico patologista clínico Hélio Magarinos Torres. Assim, o diagnóstico precoce é fundamental.

Por ser mais comum, barato e acessível, o PSA, associado ao exame de toque, é ainda o mais indicado, devendo ser realizado como exame de rotina por todo homem com mais de 50 anos. Homens que correm mais risco devem fazer o exame a partir dos 45 anos - quando há parentes de primeiro grau que receberam o diagnóstico de câncer de próstata antes dos 65 anos - ou dos 40 - no caso dos parentes com câncer serem diversos.

Exame de toque: O toque retal permite que o médico identifique alterações nas bordas da próstata. Precisa ser complementado pelo PSA, que pode sugerir a existência de tumor presente na região interna da próstata, que não é percebido no exame de toque.

PCA - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

PSA: Exame indicado para rastreio do câncer de próstata, é realizado através de exame de sangue e permite diagnosticar alterações precocemente. Por estar associado a resultados falso-negativos e falso-positivos, deve ser complementado por outros exames. A nova recomendação nos EUA orienta que os médicos informem a homens de 55 a 69 anos sobre os riscos do exame e que a decisão de fazê-lo ou não deve ser tomada de acordo com a particularidade de cada caso. É feito gratuitamente pelo SUS.

PCA3 - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto
PCA3: Feito a partir de exame de urina, consegue identificar proteínas cancerosas produzidas pela próstata. Ele é o principal aliado para descartar a dúvida sobre necessidade de biópsia nos pacientes. Possui uma sensibilidade maior que o PSA. Mas, ainda assim, pode registrar falso-negativos e falso-positivos. Não está disponível na rede pública de saúde. 

Ressonância magnética - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images
Ressonância Magnética: As imagens obtidas pelo exame permitem avaliar a estrutura da próstata e identificar possíveis áreas de aumento ou distorções na anatomia da glândula que indiquem existência de câncer. Também serve para acompanhar a progressão ou regressão do tumor.

Exame de toque - Reprodução/Mareainformativa - Reprodução/Mareainformativa
Imagem: Reprodução/Mareainformativa

Biópsia: Feita a partir da captura de fragmentos da próstata com o uso de uma pistola, pode ser feita em consultório, com ou sem anestesia. Permite detectar câncer com maior precisão e classificar o tipo do tumor. Assim, o médico pode saber se ele é mais ou menos agressivo.