Qual a chance de Biden desistir e dar lugar a outro candidato nos EUA
É muito difícil, mas não impossível: embora analistas considerem pouco provável, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pode desistir de tentar a reeleição contra Donald Trump e ser substituído por outro candidato democrata.
Possibilidades e dificuldades
O prazo é apertado e a decisão exigiria um consenso do partido. Além disso, é preciso encontrar um bom substituto e ter estratégias para evitar prejuízos ao restante do mandato e impactos sobre governadores e outros correligionários de Biden.
Democratas têm até a Convenção Nacional para definir candidato. No evento, que acontece entre os dias 19 e 22 de agosto, o partido vai apresentar e oficializar o nome de quem vai concorrer contra Trump nas eleições de novembro. Analistas com quem o UOL conversou explicaram ser "praticamente impossível" que os democratas consigam substituir Biden — se assim o quiserem — sem que o próprio presidente se retire da disputa, algo que ele já jurou diversas vezes que não faria.
Desistência de Biden seria a solução possível, mas é pouco provável. O democrata pode se retirar da disputa pela reeleição e continuar no cargo até o fim de seu mandato, mas seria uma situação bastante incomum: na história dos EUA, isso só aconteceu uma vez, em 1968, com o então presidente (e também democrata) Lyndon Johnson. Em caso de desistência, uma disputa seria aberta dentro do partido, uma vez que nem Biden, nem qualquer outra pessoa poderia nomear um sucessor.
Apoio maciço nas primárias põe em xeque a viabilidade de um substituto. Para que um candidato seja escolhido como representante do partido, ele precisa do voto da maioria dos aproximadamente 4.000 delegados — e Biden conquistou 3.900 deles. Na prática, isso demonstra que nenhum de seus oponentes tem muito apoio entre os democratas, o que torna a missão de escolher um substituto ainda mais difícil. "O atual candidato mostrou fragilidade em comparação a Trump e, ao mesmo tempo, não há outras boas opções", diz Adriano Cerqueira, professor de Relações Internacionais do Ibmec-BH.
Partido agora vive uma 'sinuca de bico', segundo especialista. Por um lado, tirar Biden da disputa enfraqueceria ainda mais sua imagem, reforçando a tese dos republicanos de que o presidente não é capaz de governar os EUA por mais quatro anos. Por outro, faltando menos de dois meses para a convenção democrata e pouco mais de quatro meses para a eleição, "qualquer candidato agora vai sair em grande desvantagem em relação a Trump", completa Cerqueira.
É possível haver substituição, mas é muito arriscado e acho pouco provável. (...) Acho que o entorno dele está dando demonstrações de que ele não quer desistir da candidatura. Os democratas vão ter que fazer uma estratégia de convencimento dos eleitores. Se quiserem tirar o nome de Biden, precisam fazê-lo sem inviabilizar o restante de seu mandato.
Adriano Cerqueira, professor do Ibmec-BH
Debate 'decepcionante'
Desempenho de Biden acendeu um alerta no Partido Democrata. Com a voz rouca, uma gagueira persistente e frases confusas, o democrata deixou uma imagem oposta à mostrada por seu rival, que adotou um tom claro e enérgico, e desapontou até mesmo seus apoiadores. "A performance de Biden foi decepcionante, não há outra forma de dizer isso", admitiu Kate Bedingfield, que foi diretora de comunicação da Casa Branca durante os primeiros anos do governo.
Vice também reconheceu início 'lento', mas demonstrou apoio. Logo após o debate na CNN, Kamala Harris disse que Biden mostrou ser capaz de dar conta do trabalho e exaltou as conquistas do governo. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, também apontado como um dos possíveis substitutos de Biden, rejeitou a possibilidade de haver mudanças na candidatura. "Jamais viraria as costas para Biden", declarou a repórteres. "E não conheço um democrata em meu partido que faria isso, especialmente depois de hoje", completou.
Para analista, Biden 'foi muito ruim' e passou imagem de fragilidade. A única missão do presidente era mostrar que os questionamentos sobre sua idade e sua capacidade não faziam sentido, "mas ele falhou", segundo avalia Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (Fundação Getúlio Vargas). "Ele se confunde, se perde, perde as palavras. Em que pese a falta de conteúdo de Trump, é impressionante a maneira como Biden saiu fragilizado".
Mídia e especialistas ventilam nomes de possíveis substitutos. Embora o discurso oficial seja de que Biden vai, sim, concorrer à reeleição, tanto a imprensa quanto analistas locais já começaram a citar e apresentar opções dentro do Partido Democrata. Além de Gavin Newson, são cotados os governadores: Gretchen Whitmer (Michigan), Josh Shapiro (Pensilvânia) e J. B. Pritzker (Illinois). A vice de Biden, Kamala Harris, também é citada como uma possibilidade. As especulações devem continuar ao menos até o próximo debate, marcado para 10 de setembro.
Se o debate fosse feito por escrito, Biden teria ido melhor. Ele tinha números na cabeça, sabia descrever políticas públicas. Trump, não. Pode ver que ele não tinha nenhum número, sempre falava em 'bilhões, bilhões, bilhões'. (...) O debate eleitoral, na média, dificilmente muda muito a opinião da população, mas neste caso foi interessante. E agora você tem os democratas preocupadíssimos.
Leonardo Paz, pesquisador da FGV
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