Ter um propósito de vida faz você viver mais e melhor. E a ciência comprova
Prestes a completar 70 anos, a monja Coen Roshi tem uma rotina que vai além das atividades relacionadas à comunidade budista de que é responsável em São Paulo. Ela pratica ioga, corrida e faz treinamento funcional. São 35 anos dedicados ao monastério e uma saúde de ferro: o coração está ótimo, nem sinal de doença crônica, mas ela diz esperava estar ainda melhor.
“Eu achei que ia chegar bombando aos 70, mas o corpo já não responde da mesma forma”, lamenta ela, sobre o cansaço que impõe um limite à agenda corrida.
A saúde e a disposição dessa bisavó, dizem as pesquisas científicas, têm a ver não só com os cuidados físicos, mas também com o lado emocional. Alguns estudos indicam que ter um propósito de vida reduz as chances de você ter um problema do coração, por exemplo, e pode aumentar a longevidade.
“Quando eu tinha 14 anos e me casei, me tornar uma senhora adulta deu sentido à minha vida naquele momento, o mesmo aconteceu com a gravidez, com a minha vida de jornalista, com o rock, minha ida para os Estados Unidos e, depois, quando encontrei o zen budismo. Tudo fazia muito sentido para mim. Isso foi maravilhoso”, diz a monja, que dá cursos e agora tem um canal no Youtube sobre os principais ensinamentos do budismo.
Aumentando a expectativa de vida
Um estudo conduzido por pesquisadores de três universidades (University College London, Princeton University e Stony Brook University) e realizado com 9.050 ingleses com idade média de 65 anos descobriu que as pessoas que sentiam que aquilo que faziam realmente valia a pena tinham 30% menos chances de morrer dos que as demais.
“Nossas emoções são moduladas pelo sistema nervoso autônomo que, por sua vez, atuam no sistema imunológico e assim sucessivamente”, explica o médico Rafael de Negreiros Botan, oncogista clínico do ICB (Instituto de Câncer de Brasília), sobre relação entre saúde física e bem-estar psicológico.
Esse estudo, junto com diversos outros, abre caminho para mostrar que o corpo e a mente não estão em um plano cartesiano e não andam separados no processo de formação de doenças.”
A pesquisa acompanhou o grupo de ingleses por oito anos e dividiu os participantes em quatro: desde os que tinham um claro propósito de vida até as que não apresentavam a característica. O resultado é que 9% das que estavam no primeiro grupo faleceram durante o estudo, contra 29% dos classificados na categoria mais baixa.
Segundo os pesquisadores, o primeiro grupo viveu em média dois anos a mais do que aqueles que demonstravam controle sobre o seu propósito.
E esse não foi único estudo a fazer essa relação. Diferentes pesquisas realizadas nos Estados Unidos também mostram que ter um objetivo de vida reduz em 27% o risco de ter doença cardíaca, em 22% as chances de ter um AVC (acidente vascular cerebral) e cai pela metade quando se trata de Alzheimer.
De acordo com o Botan, além de prevenir doenças, ter um proposto de vida também é decisivo para quem precisa enfrentar uma doença grave.
Os pacientes que chegam sem perspectivas de vida no início do tratamento ficam certamente mais desmotivados e tendem a abandoná-lo com mais frequência do que aqueles que sentem que ainda tem uma missão a cumprir.”
Por outro lado, o médico diz que já sai na frente quem acredita que o tratamento, apesar de longo e doloroso, pode ser feito e vencido. “Essa já é uma forma da mente de modular os processos biológicos do corpo e já é um ganho a mais nessa batalha”, afirma.
Melhora até a qualidade do sono
Um novo estudo publicado por pesquisadores da Universidade de Northwestern aponta que ter um bom motivo para levantar todas as manhãs melhoram a qualidade do sono e os hábitos noturnos.
Para a pesquisa, mais de 800 pessoas entre 60 e 80 anos responderam questionários sobre seu sono e suas motivações na vida. De acordo com a pesquisa, pessoas satisfeitas com seus propósitos de vida relataram menos casos de apneia e insônia.
Uma vida que vale a pena
Para os cientistas, ter um propósito de vida é um bem-estar que se relaciona a um senso de controle, ou seja, um objetivo a longo prazo que faz a vida valer a pena e direciona seus comportamentos diários. “Ter um motivo para se acordar todos os dias de manhã e seguir em frente com orgulho e satisfação a vida que se leva parece ser uma nova modalidade de terapia para a alma e consequentemente para o corpo”, diz Botan.
Essa “missão” não é restrita a ter uma religião ou seguir uma vida missionária, como a monja Coen. “Pode ser cuidar dos filhos, reerguer uma empresa, cuidar dos pais”, afirma o médico do ICB.
Para quem ainda não encontrou seu propósito, a monja diz que ele pode ser mais simples do que você imagina.
“Eu acho que não tem um sentido único, tem vários sentidos que podemos dar à nossa existência. A vida não é tudo que eu quero, por isso, precisa ser agradável. As pessoas ficam romanceando a vida, fazendo planos muitos distantes, mas é preciso apreciar onde você está agora e fazer o seu melhor. Acham que só vão ser felizes quando mudarem de profissão, casarem, mas não cuidam de si mesmos, não apreciam o momento. Querem chegar a algum lugar e não apreciam o caminho”, diz a monja.
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